O primeiro trabalho dos suecos do Yuri Gagarin (“Yuri Gagarin”, de 2013) apresentava uma influência fortíssima do rock psicodélico, usando sintetizadores e muitos efeitos de guitarra pra invocar no imaginário do ouvinte uma reação criativa. Era uma espécie de desafio, mas também uma contribuição importante pra música instrumental. Enfim, não há nada de muito complexo na sonoridade do Yuri, no entanto cada instrumento cria o “seu” mundo. Pra isso, é necessária a repetição. Ou seja, que esses elementos criem seu ambiente a partir da exaustiva exploração dos mesmos sons.
Mas o que acontece nesse novo disco, “At The Center Of All Infinity” (2015), é a ampliação de uma fórmula que parecia limitada; toda a interação que faltava no lançamento anterior aqui se dará justamente pelos “resquícios” dessas repetições. Essa nova injeção de ideias valoriza ambos os trabalhos, pois estes ostentam suas diferenças ao mesmo tempo em que suas nascenças pertencem à mesma entidade criativa.
Todos os instrumentos operam no mesmo núcleo e, a partir daí, são totalmente livres pra explorar o espaço ao redor. Trata-se, sobretudo, de explorar individualidades em um ambiente coletivo. A missão mais exploradora cabe às guitarras, enquanto a bateria e o baixo caminham circularmente. Enquanto uma guitarra trabalha mais com efeitos e distorções, a outra produz solos mais “tradicionais” da música progressiva e psicodélica. E é nessa sintonia entre as duas guitarras que o grupo encontra sua verdadeira força; o ritmo é sempre vibrante enquanto a estrutura é direcionada num ponto objetivamente positivo. Ou seja, as coisas acontecem num plano palpável e mensurável. O que exclui as repetições apenas desse campo de “rock progressivo e psicodélico” é a introdução dos sintetizadores. Eles alavancam as músicas e são os responsáveis por deixá-las nos limites de cada gênero. É como se, inicialmente, fossem apenas testemunhas, mas depois fossem o principal agente modificador da natureza progressiva do grupo.
Ouça na íntegra:
Embora realmente seja uma banda muito diferente das quais eu costumo escutar (digamos que as dinâmicas do grupo são rigorosas e rígidas, apelando pra clímax etc.), o que me interessa mais no Yuri é o quanto a introdução dos sintetizadores como elementos coadjuvantes consegue transformar um gênero musical em sonoridades muito mais complexas de se catalogar.
Todo o peso do conjunto tem um alvo claro, é óbvio o trabalho duro pra construção de cada música. Mas é a introdução dos sintetizadores que transformam “At The Center Of All Infinity” em uma jornada que o ouvinte precisa voltar mais vezes. A exploração técnica das guitarras seriam (apesar de muitíssimo complexas) elementos limitantes e estagnariam uma banda com tanto potencial. Uma pena que eles ainda exploram tão pouco elementos como caos e destruição. O que faz com que fiquemos com poucas dúvidas em relação ao disco. E, ao mesmo tempo em que exijo discos que ergam mais questões do que respostas, não dá para negar que a afirmação do Yuri Gagarin seja óbvia e evidente.
1. The New Order
2. Cluster Of Minds
3. In The Abyss
4. I See No God Up Here
5. At The Center Of All Infinity
6. Oblivion
NOTA: 7,0
Lançamento: 2 de dezembro de 2015
Duração: 40 minutos e 19 segundos
Selo: Kommun2 Records
Produção: Yuri Gagarin e Linus Andersson