REVISITANDO: ERKKI SALMENHAARA – INFORMATION EXPLOSION (1967)

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Erkki Salmenhaara nasceu em 1941, em Helsinque, capital da Finlândia. Se formou compositor na Academia Sibelius, um dos maiores conservatórios da Europa, na própria cidade natal, estudando com o professor Joonas Kokkonen. Mais tarde, foi pra Viena, na Áustria, estudar com György Ligeti, um dos maus aplaudidos compositores da música erudita do século XX.

Ele também estudou musicologia na Universidade de Helsinque, onde obteve seu doutorado em 1970. Entre 1966 e 1975, foi professor da Universidade, passando a ser associado desde então.

Salmenhaara publicou uma riqueza de artigos e livros sobre compositores, a história da música finlandesa, nova música e harmonia. Não era um músico voltado ao clássico. Tinha uma certa queda por experimentação. Aderiu ao movimento de vanguarda emergente no início dos anos 1960.

Segundo o jornal inglês The Guardian, “das cinco sinfonias de Salmenhaara, a ‘Quarta’ (1972) traz o subtítulo ‘Nel Mezzo Del Cammin Di Nostra Vita’ (ou “a meio caminho da jornada de nossa vida”), após a ‘Divina Comédia’, de Dante; enquanto a ‘Quinta’ é um cenário coral e orquestral – marcando o 350º aniversário da Universidade de Helsinque em 1989 – da Ilha da Felicidade alegórico-filosófica de Aleksis Kivi. Ambas as sinfonias são no estilo ‘neotônico’ eufônico que começou a surgir em duas obras de 1965-66: o poema tonal impressionista ‘Le Bateau Ivre’ e a ‘Primeira Sonata Para Piano’. Entre suas outras partituras orquestrais estão o ‘poema não sinfônico’ ‘Suomi-Finland’ (1966) – uma espécie de anti-Finlandia – e ‘La Fille En Mini-Jupe’ (1967), que cita a sonata ‘Waldstein’ de Debussy e Beethoven”.

A presença da tradição e o sentimento de nostalgia são particularmente marcados no ‘First String Quartet’ (1977), com seus ecos de Mendelssohn, e no ‘Concerto Para Violoncelo’ (1983-7), que faz alusão a Franck.

Já foi dito que sua “suave harmonia”, “combinada com uma batida semicerrada constante, cria um clima que é onírico e liricamente surrealista”.

O Guardian diz que a carreira de Erkki Salmenhaara foi repleta de “contrastes inconciliáveis”.

“Enquanto suas mudanças de estilo irritaram alguns colegas compositores, a posição de Salmenhaara como um dos musicólogos mais respeitados da Finlândia fez dele uma figura central na academia, uma ironia que não passou despercebida”, escreveu o jornal.

Seus trabalhos na década de 1960, “incluindo suas três primeiras sinfonias (1962-64) e quatro elegias instrumentais (1963-67), empregaram alegremente técnicas radicais como agrupamentos de tons escolhidos ao acaso e colagens sonoras”.

É dessa época o disco experimental “Information Explosion”, de 1967, cujo título parece até premonitório pras cinco décadas que viriam a seguir. Um cidadão de 2021 por até achar risível o que seria uma “explosão de informação” na década de 1960, diante do que se tem hoje em dia, mas é baseado nesse conceito que Salmenhaara construiu um disco de colagens sonoros bastante incômodo, tanto quanto experimental.

Não era exatamente “música”, mas era essa a ideia, diante de uma academia que bufou e nem se deu ao trabalho de ficar perplexa, afinal todo compositor tem direito às suas sandices e brincadeiras de passatempo. “Information Explosion” é desses.

Pra quem havia composto música coral, música de câmara, música pra piano, orquestrações, música eletrônica e a ópera em três atos ‘A Mulher Portuguesa’ (1972), esse era um trabalho menor.

O disco feito de colagem em fita, entretanto, não era apenas isso. Ele foi composto pro Pavilhão “Homem Na Comunidade” da Exposição de Montreal, em 1967. Foi criada no estúdio de música eletrônica do Instituto de Musicologia da Universidade de Helsinque, com a assistência técnica de Erkki Kurenniemi.

Não é “mera colagem”, mas um trabalho pensado e de composição, bem como de pesquisa e encaixe.

Tal observação vem da própria descrição de sua musicografia: “todas suas obras manifestam o seu gosto pela capacidade de gerar blocos sonoros massivos e potentes, conferindo à música um carácter monumental em consonância com os grandes espaços dos edifícios onde habitualmente é ouvida”. É a “música da cidade”, muito bem disposta em um conceito como o “Homem Na Comunidade” – mesmo no ainda “puro” (perto de 2021) 1967.

O LP tem no Lado A o “Prologue” e, no Lado B, o “Epilogue”. Cada um com cerca de seis minutos de colagens sonoras, como se pode ouvir aqui:

Em 1961, Salmenhaara casou-se com Anja Kosonen. Eles tiveram dois filhos, mas se divorciaram em 1978. Ele morreu em 19 de março de 2002. O túmulo de Erkki Salmenhaara está em Uus Valamo, na minúscula cidade de Heinävesi, trezentos e sessenta quilômetros da capital. Ele queria ser enterrado no mesmo cemitério que seu amigo, o poeta Pentti Saarikoski.

Lado A
1. Prologue

Lado B
1. Epilogue

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