Pekka Airaksinen era o cabeça, o compositor. O finlandês tinha pouco mais de vinte anos quando criou o The Sperm, no final dos anos 1960, um projeto que durou apenas um par de anos, um disco e uma série de apresentações pornográficas, literalmente. Foi o suficiente pra ele fazer história.
Airaksinen, ajudado por Vladimir Nikamo, Jan Olof Mallander, Antero Helander, Ilkka Lehtinen, Markus Heikkerö, Mattijuhani Koponen, e Peter Widén, criou uma obra de improvisação e ousadia raras em qualquer época na humanidade. The Sperm, já no nome, queria chocar.
As apresentações eram baseadas no free jazz, avant-guarde e psicodelia. Enquanto a “banda” destrinchava sons e barulhos, duas pessoas “simulavam” fazer sexo ao vivo no palco, e um telão projetava imagens pornográficas. Eram tempos de drogas alucinógenas, que por certo contribuíam pra percepção positiva das loucuras que saíam da cabeça de Airaksinen, mas não se nega o poder da música torta que ele criou em “Shh!”, disco único lançado pela banda em 1970.
Com apenas quatro canções, “Shh!” curiosamente não tem todas as passagens criadas apenas por Airaksinen. “Korvapoliklinikka Hesperia” e “Dodekafoninen Talvisota” têm composição do guitarrista Vladimir “Nikke” Nikano, que vinha da banda Wigwam e um disco poderoso, o “Hard N’ Horny”, de 1969. “Jazz Jazz” é um experimento bizarro de quase nove minutos composto por Antero Helander, E. Kuitunen e Ilkka Lehtinen.
Ouça “Korvapoliklinikka Hesperia”:
O disco é um profundo, bizarro, intenso e extremo experimento da expansão da mente e das formas de expressão humanas. A música se confunde com a apresentação de uma maneira ofensiva às normas vigentes – até hoje – mesmo que Helsinque seja considerada uma capital européia com seus avanços sociais e quebras importantes de tabus.
Ouça “Jazz Jazz”:
Pekka Airaksinen deu um tempo na música, após lançar o solo “One Point Music”, em 1972. Virou budista e foi gravar algo só em 1984, “Buddhas Of Golden Light”. Depois disso, fundou um selo, o Dharmakustannus, com diversos lançamentos de free jazz, new age, ambient, improvisação e afins.
Jan Olof Mallander virou restaranteur de cozinha macrobiótica e um crítico de arte reconhecido na Finlândia. Vale procurar seu disco “Extended Play”, de 1968, que apresenta essa loucura, “1962”:
Mattijuhani Koponen era um poeta, compositor, músico, pintor, fotógrafo, jornalista e ativista, que chegou a ficar um ano preso, em 1969, por suas performances provocativas.
Uma grande parte do desdobramento da discografia dos integrantes do The Sperm você pode encontrar nesse link. E vasculhe: há muita coisa interessante e bizarra aí.
“Shh!” hoje é uma raridade. É difícil achar o vinil. Mas dois relançamentos foram feitos. Em 1998 saiu, via Dharmakustannus uma versão com quatro faixas a mais. E 2008, o disco original de 1970 foi relançado pela De Stijl.
Filmes da época, com as apresentações ao vivo, também não são fáceis de achar. Mas chocam ainda hoje.
Pela dificuldade de comunicação nas décadas de 1960 e 1970, essas pérolas vindas de países fora do eixo Inglaterra-Esteites ficavam perdidas (como foi o caso do Pärson Sound). Certamente o impacto desse disco teria sido enorme com as ferramentas que temos hoje – e com as cabeças piradas daqueles anos.
A1. Heinäsirkat (16′ 09″)
A2. Korvapoliklinikka Hesperia (6′ 02″)
B1. Jazz, Jazz (8′ 49″)
B2. Dodekafoninen Talvisota (19′ 59″)
(versão de 1998)
5. Bra Bonata (6′ 01″)
6. Prem (2′ 49″)
7. Aktio Bra (6′ 30″)
8. Con Prix (3′ 22″)
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Antes de “Shh!”, o Sperm havia lançado o EP “3rd Erection”, em 1968, com quatro faixas curtas, mas que os títulos já entregavam a lascívia da temática.
1. 3rd Erection (3′ 18″)
2. Hero (1′ 33″)
3. Pillow (3′ 03″)
4. Staffstaff (3′ 30″)
A faixa-título tinha vocal, algo bem ao estilo Velvet Underground de experimentação. Ouça “3rd Erection”: