REVISITANDO: TOM DISSEVELT – ELECTRONIC MOVEMENTS (1962)

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Thomas Dissevelt (na foto acima, é o da direita) não era tão novinho quando compôs, entre 1957 e 1959, as quatro peças de seu EP “Electronic Movements”, lançado em 1962. Tinha, em fato, 38 anos de idade e um bocado de experiência e teoria musical.

“Electronic Movements” é uma espécie de resumo de um disco-experimento feito por ele e Kid Baltan (pseudônimo de Dick Raaijmakers), em 1959: “The Fascinating World Of Electronic Music”. Por trás deles, a Philips. A revolução cujo um dos tentáculos nasce dessa obra foi patrocinada.

Baltan era técnico de boa reputação, professor de música e contratado da Philips pra área de eletroacústica no período de 1954 a 1960, justamente quando tais canções foram gravadas. É um disco Philips com o intuito de testar a aceitação pública pro estilo e pra técnicas de gravação que estavam surgindo.

Já Dissevelt, holandês de Leiden, estudou no famoso Conservatório Real de Haia, se aprofundando em teoria musical, trombone, piano e clarinete. Todos instrumentos clássicos, embora o que atraísse Dissevelt fosse a modernidade e, em especial, a experimentação do jazz – um pouco de improviso também entra na conta.

Dissevelt foi parar então no furacão do seu estilo preferido, excursionando com a Jos Cleber Orchestra e, mais tarde, com a orquestra do concunhado Ilcken Wessel, com quem viajou por três anos, de 1947 a 1949. Wessel era casado com a “primeira-dama do jazz na Europa”, a também holandesa Rita Reyes (ou Rita Rejijs), irmã da esposa de Dissevelt, Rina Reijs.

Foi nessa incursão profunda pelo jazz que Dissevelt desenvolveu sua habilidade de improviso e criação. A seu favor, claro, a intensa formação musical.

O curioso é que o músico pouco criou olhando pro próprio umbigo. Dissevelt, além do disco com Baltan, lançou uma releitura desse trabalho, em 1967, pro mercado estadunidense, intitulado simplesmente de “Electronic Music”, com alteração dos títulos originais das faixas (“Whirling”, por exemplo, virou “Sonik Re-Entry”) e aclamado como “a mais brilhante concepção e execução de música eletrônica até então”, mesmo sabendo-se que pouco havia sido feito de “música eletrônica” como concebemos hoje até aquele momento.

E só, não lançou mais nada.

Todas as faixas do EP apareceram no disco-experimento. Mas elas fazem mais sentido isoladas dessa maneira, por serem puras obras de Dissevelt, um irrequieto estudioso e praticante sonoro.

O que se ouve em “Electronic Movements”, é um impressionante primeiro passo numa direção onde a música eletrônica encontrou seus grandes focos de genialidade. As quatro canções do EP levam o ouvinte a identificar o que seria o Kraftwerk a partir de “Autobahn” (1974) ou até mesmo, ao ouvir a sinfônica “Whirling”, o Air com o impulso de “Premiers Symptômes” (1997).

Não dá pra dizer que um ou outro tenha sequer ouvido “Electronic Movements” (a referência mais citada do Kraftwerk é Karlheinz Stockhausen e… Beach Boys), mas quem ouve percebe um bocado de incríveis similaridades.

Ouça “Whirling”:

Ouça “Drifting”:

As quatro canções são constantemente identificadas como obras de Kid Baltan e Dissevelt, mas a capa é bem clara: Dissevelt compôs sozinho e produziu-as com Baltan (ambos chegaram a assinar a dupla como Electrosoniks).

Com a notoriedade que “The Fascinating World Of Electronic Music”/”Electronic Music” ganhou, foram surgindo mais e mais reedições, o que torna fácil entrar em contato com a obra. Por outro lado, “Electronic Movements”, o resumo bruto do experimento, ainda é difícil de achar, sobrevivendo de fato como fonte de inspiração pra música eletrônica e carregando a honrosa estampa de uma “obra bem a frente do seu tempo”.

Lado A
1. Syncopation
2. Vibration

Lado B
1. Whirling
2. Drifting

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