Ao contrário de um bocado de gente, não me incomodo e sou até a favor de que as bandas retornem e retornem e retornem quantas vezes o mercado absorver um show delas. Se for no mesmo ano, não importa. Se o fã paga, se é um bom negócio pra quem traz o artista e promove o evento, por que não? Qual o problema nisso?
O argumento dos “contras” é que esses repetecos tiram a possibilidade de ver novidades, bandas inéditas por aqui. É apenas uma meia verdade. Se a ideia for ver novidades consagradas, que custam caro e necessitam de uma grande estrutura, o argumento é válido; mas se estivermos falando de bandas que realmente representem uma novidade, despontando no cenário alternativo, inclusive no primeiro mundo, esse argumento se revela uma grande besteira.
Isso porque os produtores brasileiros se pautam nos grandes veículos e festivais pra criar seus eventos. Esquecem da efervescência subterrânea – raríssima exceção é a rede SESC, que ainda instiga na sua programação. Eis que surge, então, um mercado bem atraente pra quem quiser se aventurar e trazer bandas pequenas, fora dos holofotes e das festividades indies.
Há pouco, tivemos o Fourfest, que ousou arriscar. Pena, não durou muito. Esse ano, teremos o primeiro Rockers Noise Festival, e a ousadia volta à cena.
Há mercado pra esse tipo de evento? A torcida é que a resposta seja sim, embora a história dê exemplos da dificuldade de sucesso nesse nicho de mercado.
Mas algo aponta pra uma mudança sutil. E boa. No último final de semana, aconteceu o primeiro Popfest aconteceu em terras paulistanas, no Espaço Cultural Walden, com sucesso atingido, dentro da proposta – menos de cem ingressos vendidos por dia, mas casa lotada e ótimos shows. Grande parte desse sucesso e grande parte da ousadia que levou ao sucesso se deve a um nome: Ringo Deathstarr.
Os texanos que ainda nem lançaram seu segundo disco (“Mauve” chega em setembro de 2012) já possuem uma pequena horda de fãs no Brasil. É gente que adora guitarras distorcidas, canções com muralhas de ruídos e fora do lugar-comum que habita a mídia convencional – mas não fora do lugar-comum da música pop, afinal o Ringo Deathstarr não tem nada de original, é puro shoegaze, como bem fazia o My Bloody Valentine lá nos anos 1990. É uma banda em ascensão. É esse mercado que o pessoal do Espaço Walden foi bater à porta. E se deu bem.
O primeiro dos quatro shows que o trio estadunidense marcou de fazer no Brasil (veja a agenda completa aqui) aconteceu justamente no Popfest, dia 26 de agosto de 2012, no Espaço Cultural Walden. Foi uma amostra de que a tentativa é viável, válida e pode ser lucrativa – um bom negócio pra produtores, banda e público.
Pra começar, o preço: o ingresso mais caro saiu por quarenta reais (ou menos de vinte dólares). Se alguém conseguir apontar, tirando o SESC e um ou outro no Beco (Japandroids, A Place To Bury Strangers…), qual show nacional custou isso na bilheteria, conseguirá entender sobre o que estamos falando. Um preço justo e ainda assim o promotor consegue ganhar o seu.
Depois, a simpatia e a satisfação: o trio formado por Alex Gehring (vocal e baixo), Elliott Frazier (vocal e guitarra) e Daniel Coborn (bateria) estava visivelmente satisfeito de estar no Brasil e convivendo com aquele público que lhe parecia tão distante. A banda circulava pelo Espaço Walden, tomava suas cervejas, conversava com os fãs, tirava fotos, assinava discos. Essa proximidade é valiosa pro público e tem um baita poder pro artista.
Tanto que ao assumir seu posto no palco do Espaço Walden (não exatamente um palco, e sim um espaço no porão, com uma pista pra no máximo oitenta pessoas, aconchegante, intimista), o trio parecia estar tocando pra amigos, parecia conhecer cada rosto ali. E todos estavam tão próximos que literalmente poderia ser uma festa na casa de qualquer um dos presentes.
A banda retribuiu. Tocou alto. E tocou em quantidade. Foram dezessete músicas, intercalando o singles antigos, os EPs, o primeiro disco, “Colour Trip”, de 2011, e principalmente apresentando o próximo álbum. A plateia se viu diante então de algumas músicas novas, incluindo a já conhecida “Rip”.
A primeira que causou umas dancinhas mais soltas foi “So High”, a segunda do set, emendada com “Kaleidoscope”, ambas do primeiro disco. Depois, uma série de músicas novas, e muito pouco de interação com o público. Porém, no começo de cada canção, enquanto Elliott ajustava sua guitarra, o público ia quebrando o gelo e na oitava, “Rip”, Alex falou que amava o Brasil e ganhou gritos, aplausos e risadas.
A partir daí, embora por vezes fosse difícil ouvir os vocais, a banda desfilou canções mais conhecidas: “Some Kind Of Sad”, Two Girls”, “Chloe”, “Swirly”, “Sweet Girl”, “In Love” e o fechamento com “Starrsha”. Alguns presentes sentiram a falta de “Imagine Hearts”. Eu senti a de “Do It Every Time”. Alex sentiu falta de ar fresco e de descanso. Reclamou do calor, largou o baixo e se escafedeu do palco. O show terminava aí.
Quase ninguém percebeu a pressa repentina da baixista. Até porque ela não foi espalhafatosa, nem grosseira, longe disso. Mesmo que ela tivesse estourado por algum motivo e de maneira intempestiva, a plateia ainda estava extasiada e com os ouvidos zunindo – e acabaria reverenciando-na.
É um ponto positivo essa força do grupo, mesmo que ainda tímida. Ao vivo, o Ringo Deathstarr não consegue ainda passar todas as camadas de sons, ruídos, distorções que dão leveza e encantam nos discos. Mas ainda assim é um show acachapante. No caso do Espaço Walden, pela proximidade da plateia e banda, o efeito acaba potencializado.
Ao final do domingo, na calçadas de frente ao Walden, na Praça da República, a banda voltava às fotos, sorrisos, abraços e autógrafos. O barulho dos carros e o zunzunzum dos fãs não incomodavam. Os ouvidos e o cérebro ainda tentavam processar o estrondo texano. O Ringo Deathstarr correspondeu, satisfação garantida.
Quem haveria de não querer a volta da banda?
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01. Waste
02. So High
03. Kaleidoscope
04. Burn
05. Drain
06. Nap Time
07. Tambourine Girl
08. Rip
09. Slack
10. Some Kind Of Sad
11. Two Girls
12. Chloe
13. Swirly
14. Shadow
15. Sweet Girl
16. In Love
17. Starrsha
Veja a banda tocando “Kaleidoscope”:
E “Rip”:
[…] Ringo Deathstarr. Tem uma resenha específica do show, mas vale dizer que os texanos não economizaram no volume. Tocaram alto e com gosto. Não […]
eu ADOREI o show da banda, curti demais o clima intimista , e quando tiver outro lance desse tipo, pretendo voltar
saudacoes cariocas
mauricio valeu ai cara, apareça sexta dia 07/09 haverão 3 belissimas bandas, Bela Infanta (joinville) lazy sundays e set the settings (sp) pra arrebentar
Se a ideia é chamar bandas indie de qualidade, porque não trazer a Kristin Hersh com o seu maravilhoso 500 Foot Wave?
Estou fazendo um trabalho de formiguinha e divulgado a banda para quem ainda não conhece:
http://50footwave.cashmusic.org/freemusic/
Tive a cara larga de mandar um email, que ela gentilmente retribiu, dizendo que adoraria tocar aqui. #Ficaadica
Saludos!
Társis, adoro Kristin Hersh, principalmente Throwing Muses…me passe o contato, renatomalizia@gruporockers.com.br
Abraço
[…] primeiro show em São Paulo, no Espaço Cultural Walden, há uma semana, pra esse, houve uma grande diferença de entusiasmo e de cenário – e houve […]