“O Riot Grrrl foi um movimento coletivo de um pequeno grupo de mulheres que acabou se tornando notícia nacional e influenciou toda uma geração de garotas. Surgido das cenas punk em Olympia, Washington, no extremo noroeste dos Esteites, no início dos anos 1990, o movimento pedia a emancipação de mulheres jovens, tomando os meios de controle de produção cultural dos subterrâneos. Apontou os contrastes da cultura mainstream – e subterrânea – de forma a unificar as meninas, eliminando o ciúme culturalmente enraizado e a competitividade entre as mulheres, ao mesmo tempo reconhecendo e aceitando as diferenças individuais delas. O movimento visava reacender o feminismo, destacando a violência sexual e psíquica contra as mulheres, apoiando a expressão sexual das jovens e o direito ao prazer. Uma resposta direta ao domínio de homens heterossexuais na cena punk, o Riot Grrrl encorajou as mulheres a tocarem instrumentos, montar e liderar bandas, escrever e distribuir zines e compartilhar experiências nos espaços seguros pra garotas”.
O parágrafo acima foi escrito por Lisa Darms, organizadora da “The Riot Grrrl Collection”, na Fales Library And Special Collections da Universidade de Nova Iorque, livro publicado em 2013, com apoio da universidade e ajuda inestimável de Johanna Fateman (Le Tigre e MEN) e Kathleen Hanna (Le Tigre e Bikini Kill).
A coleção é um apanhado de arquivos organizados por Darms, graduada na instituição e que trabalha hoje em dia na Fales Library And Special Collections, juntando pedaços da história de um movimento que tendia à nebulosa força do esquecimento do tempo, típica do acúmulo de outras preferências das novas gerações.
Por certo, bandas como Bikini Kill jamais serão esquecidas, mas a representatividade do movimento precisava ser sublinhada pela autoridade acadêmica. Com o livro – que não é único sobre aqueles fervorosos tempos de explosão de consciência – o Riot Grrrl está devidamente documentado nos anais da academia.
Darms explica, no prefácio do livro, a importância do movimento: “as jovens usavam os zines pra compartilhar histórias de abuso dentro da família, abusos sexuais e estupros. Os zines podiam ser privados e íntimos, como a extensão de um diário pessoal, mas as leitoras talvez tivessem passado pelo o mesmo e podiam atestar sua sanidade”.
Um dos zines, o Chaisaw, trazia o seguinte texto: “Nesse momento, talvez o ‘Chaisaw’ seja sobre frustração. Frustração na música. Frustração em viver. Em ser uma garota, em ser homo, em ser um desajustado de qualquer tipo. Ser um idiota, você sabe, como aquele garoto que é o último a ser escolhido no time do colégio. Que é de onde todo o lance punk veio, em primeiro lugar. NÃO dos Sex Pistols ou de Los Angeles. Mas dos nerds que decidiram ou se tocaram que precisavam ‘virar a mesa’ pra serem ouvidos, tomar o controle das suas (nossas) vidas e criar um underground de verdade”.
Nos primeiros anos (1989-1992), o Riot Grrrl se tornou, pra alguns, esse “underground de verdade” dos “desajustados” dissidentes. O Riot Grrrl começou desafiando um movimento punk que, em muitos locais, vinha se tornando cada vez mais conformista. Os punks já tinham mais de dez anos de estrada nessa época. Alguns tinham bons contratos de gravadoras e já não desafiavam o sistema. Pelo contrário, eles eram o sistema.
Isso estava prestes a acontecer com o movimento, quando a revista Newsweek entrou na dança. Em 22 de novembro de 1992, a revista trouxe a matéria “Revolution, Girl Style”. O sistema havia chegado ao movimento.
Sara Marcus, autora de “Girls To The Front: The True Story Of The Riot Grrrl Revolution”, publicado em 2010, foi uma das impactadas pela matéria. “Fiquei sabendo do Riot Grrrl no outono de 1992. Eu tinha acabado de chegar em casa, depois de mais um dia desanimador na escola, quando encontrei na mesa da cozinha, no meio das cartas e envelopes que chegam pelo correio, a nova edição da Newsweek, que me pegou pelos dois braços e me chacoalhou. A peça, com o título ‘Revolution, Girl Style’, abre com a cena de uma garota se posicionando contra um caso de assédio na escola: ‘não toque em mim ou em minha amigas!’. Ali vi descrita uma grande rede de adolescentes feministas, que se juntaram pra ajudar umas às outras, lutando contra abusadores na escola, e falando de tudo, desde tocar guitarras até se assumir e sair do armário”. Marcus, ela própria, conta na abertura do livro um assédio que sofreu na escola.
Ela se pergunta o que muitas garotas certamente se perguntaram com aquela revista em mãos: “seria aquilo verdade? Havia garotas que poderiam de fato entender meus problemas e dilemas?”. A mãe dela, como a maioria das mães, leu aquilo e advertiu que aquele movimento não era um movimento no qual ela via a filha envolvida. Mas aquele movimento era tudo no qual a filha dela queria se envolver.
Aquele artigo tinha muito mais a ver com comportamento do que com música e refletia, afinal, o que era o movimento, apesar de surgir pela via do mesmo mainstream que era atacado pelas ideias “provocadoras” das meninas.
O que elas queriam era igualdade, claro, mas era ter voz ativa. Elas não queriam ficar vendo meninos andando de skate e tocando em bandas de rock legais, elas queriam andar de skate elas mesmas e tocar nas suas próprias bandas de rock legais. Elas queriam gritar pro mundo os abusos diários e constantes que sofrem ou sofreram, na escola e em casa, por amigos e por familiares, queriam que a sociedade entendesse que há muitas formas de amar. E, mais do que isso, elas mesmas queriam dizer isso, produzindo conteúdo, arte, tendo protagonismo.
Angela Smith, no livro “Women Drummers: A History From Rock And Jazz To Blues And Country”, de 2014, acrescenta a coisa a um cenário político: “o (movimento) Riot Grrrl surgiu (também) em resposta aos atentados a clínicas de aborto por grupos extremistas ‘pró-vida’, nos anos 1990″. Por contraditório que pareça, esses extremistas “pró-vida” não se sentiam envergonhados em matar pela sua “causa”.
Mas a resposta a tantos abusos corriqueiros do mundo machista (ainda em vigor, infelizmente – e não importa que ano que você venha a ler este artigo), não veio igualmente em forma de violência, mas de arte. “O movimento”, segue Smith, “viu nascer uma penca de bandas, como Bikini Kill, Bratmobile, L7, Huggy Bear e Team Dresch, colocando em suas músicas temas como estupro, abuso doméstico, racismo, patriarcado e empoderamento feminino”.
Até 1990, o punk era dominado por homens e Piero Scaruffi, no seu livro “A History Of Rock And Dance Music”, de 2009, lembra que “as garotas estavam excluídas do hardcore da mesma maneira que estavam excluídas de outros tantos rituais exclusivamente tidos como masculinos, sejam as gangues de rua, seja o futebol americano. O movimento, então, mudou o cenário sociopolítico do punk, colocando o ‘fator mulher’ na equação frustração/depressão/desespero/raiva”.
Na trilha da história, é considerado o primeiro manifesto do Riot Grrrl, o artigo “Women, Sex And Rock And Roll”, publicado em 1989. Mas foi só em 1991, quando ocorreu o caso Anita Hill e o juiz Clarence Thomas, que o Riot Grrrl se tornou mais necessário (recorde aqui).
Na esteira do caso, Jen Smith escreveu pra Allison Wolfe (ambas da Bratmobile) “que este verão vai ser uma girl riot“. Logo depois, as duas trabalharam juntas com Kathleen Hannah e Tobi Vai (do Bikini Kill), e criaram um zine feminista chamado Riot Grrrl. As mulheres decidiram remover o “i” e triplicar o som do “r” como forma de fazer o nome soar depreciativo e raivoso.
Apesar dos esforços nem sempre coordenados, dos encontros, das bandas, das músicas, das expressões artísticas e tudo o mais, foi mesmo o artigo da Newsweek que levou as ideias pra milhões e milhões de garotas, adolescentes suburbanos que precisavam de um apoio assim.
Como Sara Marcus aponta, o artigo começa contando um caso bastante comum: “Jessica Hopper estava a caminho da aula de fotografia em sua escola de ensino médio em Minneapolis, quando viu que espalhada em seu armário uma obscenidade rabiscada. Uma efusiva garota de dezesseis anos com longos cabelos castanhos, Hopper adorava tirar fotos, era coisa que mais gostava no mundo, a não ser música punk-rock. Quando ela viu os rabiscos, achou que sabia quem era: um dos dois caras que regularmente a chamavam de ‘feminazi’. Apenas alguns dias antes, ela estava sozinha na sala da escola com um deles – um menino, ela diz, ‘que passa a mão nas garotas’. De acordo com Hopper, ele veio e colocou ambas as mãos nos ombros dela. Ela pediu pra ele parar. ‘Ele fez’ – finge um gemido baixo e sugestivo – ‘Oooh’. E eu disse: ‘tô falando sério’. Então, logo depois ele começou a fazer o mesmo com outra garota ali do lado. E ela disse: ‘Não toque em mim ou nas minhas amigas!'”.
“Todas as garotas são assediadas”, segue o artigo. “A maioria aprende durante a adolescência a ignorar, esperando que isso passe. Mas Hopper tinha uma saída pra sua frustração. Ela é uma Riot Grrrl – parte de uma rede de apoio de ‘garotas’ ativistas de 14 a 25 anos, que são vagamente ligadas por algumas bandas punk, grupos de discussão semanais e mais de cinquenta fanzines caseiros. Hopper começou seu próprio fanzine no ano passado, que ela fotocopiou pra amigos. Ela chama de Hit It Or Quit It, e a cada poucos meses ela se dedica a seus ensaios muito feministas, muito exuberantes, como o recente que começou timidamente: ‘Eu costumava dizer que eu odiava homens’, apenas pra seguir com o nocaute, ‘e acho que realmente odeio'”.
A definição da Newsweek pro movimento é que o Riot Grrrl é “a nova voz feminista da geração do vídeo, não tanto inflamada pelos problemas econômicos quanto pelos sociais – incesto, abuso infantil, aborto, desordem alimentar, assédio. Reunindo idéias descontroladamente misturadas da Madonna, da revista Sassy e de críticas feministas como Susan Faludi e Naomi Wolf, elas se propuseram a tornar o mundo seguro pra sua existência: sexy, assertiva e barulhenta. O credo do Riot Grrrl diz: ‘nós estamos com raiva numa sociedade que nos diz que Garota = Tola, Garota = Ruim, a Garota = Fraca… Nós podemos e vamos mudar o mundo de verdade’. Elas podem ser a primeira geração de feministas a identificar sua raiva tão cedo e a usá-la”. Era um discurso, numa revista mainstream, que não podia ser ignorado, ele teria algum efeito.
“O Riot Grrrl segue os passos dos anos de outros grupos, como o Queer Nation ou o rap Niggers With Attitude (N.W.A.), que aplica uma espécie de jiu-jitsu lingüístico contra seus inimigos. Em vez de minimizar os estereótipos negativos usados contra eles, eles os exageram – começando com a própria noção de ‘meninas’. Na convenção Riot Grrrl do último verão em Washington, DC, que atraiu muitos fiéis a Dupont Circle pra falar sobre o feminismo adolescente e ouvir punk rock, Riot Grrrls marcou seus corpos com letras de cinco polegadas de altura lendo RAPE ou SLUT. Era uma maneira de dizer: ‘isso é o que você pensa de mim; enfrente sua própria intolerância”, diz o texto, que segue: “Courtney Love, da banda de Los Angeles Hole – que não é uma Riot Grrrl, mas, como diz Hopper, ‘a santa padroeira do Riot Grrrls” – usa vestidos de menina que mal passam dos quadris – tudo pra cantar músicas sobre estupro e exploração. ‘Prefiro ser uma minoria porque me faz sentir especial’, diz Love. Como Camille Paglia diz: ‘é como Madonna – ela se veste como uma prostituta, mas ela sempre sabe o que quer. Essas garotas estão vestidas pra matar, mas prontas pra lutar'”.
Muitos adolescentes estão com hormônios funcionando como pavio pronto pra ser aceso e explodir em raiva contra tudo e todos que acreditam serem os opressores. Podem ser os pais, pode ser o governo, pode ser o homem que a assedia. Ou é tudo isso. Numa sociedade onde ninguém acredita em seus apelos e pedidos de socorro, o texto da Newsweek mostrava que algumas garotas estavam fazendo alguma coisa, ou ao menos tentando. Estava se expressando.
“O Riot Grrrls vai desde meninas de quatorze anos que trocam fanzines pra acompanhar suas bandas favoritas até o verdadeiro compromisso. ‘Não temos uma doutrina’, diz Molly Neuman, vinte e um anos, que toca bateria na banda Bratmobile, de Olympia. ‘Não há líder específico, nenhum programa de dez pontos’. A coisa mais próxima que elas têm de uma fundadora é Kathleen Hanna, de vinte e três anos, da banda Bikini Kill. Uma ex-stripper que canta e escreve sobre ser vítima de estupro e abuso infantil, Hanna representa a extrema raiva das Grrrls. Mas Jessica Hopper é mais típica. Ela é jovem, branca, urbana e de classe média”, ressalta a revista. Como Sara Marcus. E como muitas e muitas outras meninas que acabaram se reconfortando com o artigo.
“Hooper também é filha de pais divorciados: aprecia seu padrasto (ou ‘pai’) e seu pai (‘pai biológico’), que são amigos. Toda semana ela assiste às reuniões do Riot Grrrl, onde mentes idênticas a dela falam sobre tudo, desde afinar cordas de guitarra até sair do armário. E, como a maioria das adolescentes, ela é um pacote de contradições. Ela usa o seu zine Hit It Or Quit It pra falar sobre alguns ‘baixistas incrivelmente fofos’, mas ela começou um grupo pró-escolha quando tinha doze anos. O Riot Grrrl abraça essa contradição como a força secreta das garotas, chamando-a de ‘força revolucionária da alma'”.
“Pra pessoas mais acostumadas a modelos mais augustos de feminismo, o Riot Grrrl pode parecer um pouco exagerado”, lembra a revista. “Mas como as mulheres do movimento setentista, o Riot Grrrl é uma resposta aos velhos tempos. ‘Estamos definitivamente em uma época de guerra de gênero’, diz Naomi Wolf, autora de ‘The Beauty Myth’, uma crítica feminista campeã de vendas. ‘As adolescentes estão mais conscientes e irritadas e impacientes do que as mulheres mais velhas, ou estão ainda mais assustadas’. Numa hora em que o sexo é tanto estigmatizado como potencialmente letal, as Grrrls são exuberantemente pró-sexo. Na caligrafia adolescente, Hopper escreve: ‘SEXO NÃO É SUJO… E NÃO É ‘RUIM’ A MENOS QUE ALGUÉM ESTIVER FORÇANDO VOCÊ’. O fanzine Hungry Girl é ainda mais explícito: ‘SLUT. Sim, eu sou uma puta. Meu corpo pertence a mim. Eu durmo com quem eu quiser… Eu não sou sua propriedade'”.
“Apesar de toda a sua seriedade mortal, esse movimento não é apenas sobre raiva, é sobre diversão. Cultivada nos clubes de punk rock de Olympia, a tendência recebe muito de sua energia e estilo da música. É sobre sexo e rock and roll, mas não sobre drogas. Como parte de sua causa de autopreservação, as Grrrls são antidrogas, surgindo em homilias tão simples e nerds que parecem empoladas em uma assembléia escolar. ‘Comidas puras e um estilo de vida limpo – essa é a melhor viagem’, Hopper escreve animadamente em Hit It”: é a revista apontando uma curiosa contradição, talvez achando que os pais ao lerem essa distância das drogas, pudessem ficar mais sossegados.
Na reta final, o artigo é mais amplo no apelo de aceitação ao movimento, tratando-o como algo “formal” e já dialogando com o “sistema”: “como uma entidade formal, o Riot Grrrl registra apenas algumas centenas de almas, mas sua influência se espalha muito mais. A revista Sassy, que agora reivindica um público de três milhões, realiza uma troca constante entre o Riot Grrrl e a cultura mainstream. ‘Nós tiramos o uso do termo ‘garota’ deles’, diz a editora-chefe Jane Pratt. (…) ‘Acho que o legal são bandas com toques políticos, e revistas como a Sassy’, diz Samantha Shapiro, uma estudante de dezesseis anos de Nova Iorque, que foi convidada pra editar uma edição da Sassy. ‘As pessoas me elogiam com meus coturnos. Que algo tão viril está na moda pras mulheres mostra que as coisas mudaram’. Shapiro é uma típica supermulher em treinamento: ela é voluntária de organizações contra a AIDS e de desabrigados, estagiária de uma assembléia, e escreveu um editorial do New York Times elogiando todas as meninas como Chelsea Clinton (filha de Bill Clinton). Ela gosta de Bikini Kill, porque ‘elas são tão sexy e tão femininas quanto podem ser… Eles aceitam e apreciam as diferenças'”.
Mas Shapiro, segundo a Newsweek, “não é uma Riot Grrrl, ela está preparada pros mesmos problemas que elas, e com a mesma mistura de idealismo e desilusão. ‘Eu nunca vou estar na categoria sentar-e-esperar-pelo-meu-marido’, diz, em seguida acrescentando, auto-depreciativa: ‘Tipo, eu meio que quero ser presidente’. Não há como dizer se esse entusiasmo ou a paixão cativante das Riot Grrrls por ‘Revolution Girl Style’ irá evaporar quando atingir o mundo real adulto. A maioria das Grrrls ainda está nos abrigos da casa dos pais ou da faculdade – muito longe do que eles enfrentarão no competitivo mercado de trabalho ou quando começarem a formar suas próprias famílias. Mas Wolf, por exemplo, é ‘absolutamente otimista’. Afinal, os membros mais velhos dessa geração jovem ajudaram a votar no governo Clinton, enquanto adolescentes como Shapiro bateram palmas. Como diz a editora de fanzines de Seattle, Alice Wheeler, uma mulher madura de trinta e um anos, ‘agora que ela se mudou pra DC, espero que o Chelsea Clinton se torne uma Riot Grrrl também'”.
Apesar do artigo ter se tornado o mais amplo sobre o movimento, ainda que em forma de uma matéria careta, ele ajudou tanto a dar esperanças pra garotas em situação de abuso e que não imaginavam que podiam pedir ajuda a outras semelhantes, como ajudou a desmantelar o movimento, afinal não se consegue lutar contra o mainstream sendo absorvido por ele.
A arquivista Lisa Darms reflete: “embora o Riot Grrrl fosse um movimento era também um conglomerado de vozes dissidentes e dissonantes. Dissidências internas é costume se ver, numa perspectiva histórica, como razão pra movimentos radicais (especialmente de esquerda) falharem. Mas foi a dissidência que definiu o Riot Grrrl desde o princípio, e caracterizou seu crescimento e sua derrocada”.
Em 1993, o zine “Dunk” fez esta observação: “o movimento Riot Grrrl luta por mudanças, mas a gente questiona quem está incluído… Digo, a emancipação das mulheres não é só pra nós, deve atingir todos os aspectos dessa merda de planeta, então quando se diz que é um movimento Riot Grrrl, sugere-se que há preocupação com tudo, mas só o que se ouve é ‘eu!’, ‘eu!’, ‘eu!’. Soa como algo intragável, mas vimos bem de perto o movimento crescer e parece que pra apenas poucas garotas punks brancas de classe média. É como uma sociedade secreta, e algumas acham que é uma sociedade secreta o que precisamos”.
Por volta de 1994, o “segredo” já estava nas ruas, e a maioria das mulheres que começaram o movimento não se identificavam mais como uma riot grrrl. Algumas simplesmente tinham deixado pra trás; pra outras, a inabilidade do movimento de observar privilégios em suas nuances e de uma maneira eficaz o tornou inútil como modelo de ativismo. Embora garotas continuassem a escrever zines e tocar música. Alguma coisa havia mudado, inegavelmente. E pra melhor. Se as garotas podem gritar contra abusos, intolerância e pedir igualdade é porque movimentos como esse reinventam vez por outra o necessário feminismo nosso de cada dia.
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