Vaiber está caminhando pela rua enquanto checa seu celular. Para de repente, como pra se certificar do que acabara de ler. Sua expressão muda de “impassível-blasé” pra “moleque-feliz-que-ganhou-um-presente-de-dia-das-crianças”. Ele toca a tela do celular algumas vezes e o leva à orelha.
CENA 1 (noite – externa)
As pessoas passam por Vaiber, que, ao telefone, volta a caminhar, bem lentamente – ou ele se concentra em andar, ou se concentra em falar ao telefone.
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CENA 2 (noite – interna)
Raiper está sem camisa, digitando freneticamente. O monitor é a única fonte de luz. Toca o telefone. Sem tirar os olhos da tela, atente o celular.
Raiper: Quem é?
Vaiber (voz telefone): Sou eu, véi! Você não vai acreditar no que acabei de ler no Twitter!
Raiper para o que está fazendo. A curiosidade falou mais alto.
Raiper: O que foi? (pausa) Não li, véi! Tava num chat louco aqui! Fala logo!
Não se ouve o que Vaiber fala, apenas a reação de Raiper – e ela é esfuziante.
Raiper: Puta merda! Eles vão fazer um show no Brasil? Puta merda! Vou publicar e tuitar isso agora, pode deixar! Ganhei o dia, ganhei a vida, véi! Que coisa linda!
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CENA 3 (mix de imagens – tuites sendo digitados, status atualizados no Facebook, SMS enviados, tudo numa espiral acelerada, sobreposta)
As mensagens são praticamente as mesmas, se repetem: “é a banda da minha vida”, “a notícia do ano”, “imperdível”, “se você perder esse show é um idiota” etc.
Fade pra Black.
Lettering: E depois do show…
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CENA 4 (noite – externa)
Vaiber e Raiper estão saindo da casa noturna. Estão muito animados.
Raiper: Showzão, véi. Eu sempre disse que seria uma lindeza. Como lidar? Como lidar com uma beleza dessas?
Até que, de repente, são abordados por um grupo de fãs adolescentes:
Uma das Fãs (as outras soltam risinhos e frases bobas sem sentindo): Ai, muito obrigada por apresentar essa banda. É como vocês falaram no Twitter de vocês: um show inesquecível, pra vida inteira. Posso morrer agora!
Outra das Fãs: Essa banda é a minha vida! Esse show foi pra vida! (as outras concordam, sorridentes, suspirantes)
Vaiber olha pra Raiper. Os dois fecham a cara. Se olham de novo, agora com feições malignas. Raiper dá um empurrão na fã na exata hora em que um ônibus passa ao lado deles. Ouve-se uma brecada, uma batida e vários gritos (“oh!”, “não!”, “Coitada!”).
Corte. A CAM fixa mostra os dois andando rua abaixo, calmamente, com o mesmo burburinho lamurioso ao fundo.
Vaiber: O show foi uma merda, né?
Raiper: Nunca vi coisa pior! Que banda horrorosa. Só mesmo criança pra gostar de uma bosta dessas.
Fade pra black. Sirenes são ouvidas ao fundo.
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FIM
Sobem créditos.