ROTEIROS DA BLOGOSFERA: RAIPER E VAIBER – EP. V

São Paulo. Dia chuvoso. Boteco pé-sujo, desses de beber no balcão, ovo cor de rosa, pizza engordurada e tals.

CENA 1 (dia – interna)
Vaiber e Raiper estão em pé, com copos e a cerveja apoiados no balcão. A chuva fina que cai do lado de fora não é sinônimo de frio.

Vaiber: Precisamos gerar mais cliques pro nosso site, véi!
Raiper (tomando um gole): Pode crer. Mas como?
Vaiber: Tava pensando… E se a gente fizesse uma promoção doidona?
Raiper (disperso): Tipo…?
Vaiber: Sortear um disco? Uma camiseta? Um kit exclusivo de uma banda?
Raiper: Nah! Isso todo mundo faz. É besteira.
Vaiber: Ah, besteira não é, mas tudo bem, você quer algo diferente, diferente mesmo?
Raiper: É, véi, tem que ser uma ideia que nos coloque na história.
Vaiber: Bom… Tem a Madonna. Ela vem aí daqui a pouco, né, fazer uns shows e tals.
Raiper: Porra, mas a Madonna!? Ela nem é nosso público, nem nada. Puta mocreia dos diabos.
Vaiber: Véi, a gente publica a Lady Gaga, não vai publicar a Madonna? É tudo a mesma merda. Mas, pense comigo: e se a gente matasse a Madonna? (enfatiza o “matasse”, destacando na frase)
Raiper: Tipo pedindo pros leitores escreverem resenhas negativas dos shows?
Vaiber (calmo, tomando um gole e olhando de soslaio pra Raiper): Não… Matasse mesmo. Matasse, morte, sangue. Matasse de morte morrida.

Raiper o olha sem acreditar muito, achando que é uma piada. Vaiber toma um gole e desvia o olhar.

Raiper: Você tá falando sério?
Vaiber (subitamente empolgado): Claro, véi. Imagina: “Madonna vem ao Brasil pra série de shows e é assassinada por fã”. A gente já deixa o post até pronto, tipo furo fabricado, entende?
Raiper: Mas quem vai matar a Madonna? Você?
Vaiber: Não, eu não, porque eu só formo opinião. A gente faz uma promo: mate a Madonna e apareça no site. A tentativa mais criativa ganha um cedê dela. Ou algo do tipo. Se o cara tentar pelo menos, já tá valendo.
Raiper: Pode ser uma. Mas e se alguém conseguir?
Vaiber: Bom, aí é problema da Madonna. E do xarope que matá-la, que vai preso.
Raiper: Pode crer. (pequena pausa pensativa) Pelo menos ele vai aparecer no nosso site, na tevê, em todos os jornais. E a gente ainda dá o furo, já que o post da tentativa de assassinato, ou o obituário, as playlists, vai tá tudo pronto.
Vaiber: É isso aí, agora você sacou o conceito.

CENA 2 (noite – interna)
Casa de Raiper. Quarto escuro, iluminado apenas pela tela do computador. Raiper está deitado na cama. O celular dele vibra, acende e ajuda a iluminar o ambiente. Raiper pega o celular e lê a mensagem. CAM mostra a mensagem.

Mensagem na tela do celular: Fiz o post. Tá no rascunho. Lê e aprova.

Raiper vai até o computado e fica lendo algo na tela. A CAM se afasta. Fade.

CENA 3 (efeito – sobreposições)
Sobe música da Madonna. Comentários no Twitter, no Facebook. Contagem de úmeros rodando e crescendo rapidamente. Gráficos de acessos subindo rapidamente. Risadas. Imagens da Madonna chegando ao Brasil, acenando da janela do hotel. Imagens de alguém tentando matar a Madonna com um tiro. Confusão. Clipe frenético de imagens de telejornais, manchetes de jornais e revistas e sites. Falam de polêmica de um site que incitou o crime. Mesas redondas discutindo liberdade de expressão. Mais Twitter. Mais Facebook. Mais Google Plus. Mais números subindo. Mais risadas.

CENA 4 (dia – interna)
Mesmo cenário CENA 1. Ao invés de chuva, sol, muito sol. Sol forte. Calor.

Raiper: Missão cumprida.
Vaiber (suspirando enfadonhamente): Pois é, eu te disse que ia dar certo. Somos o site de música mais acessado e influente do Brasil.
Raiper: É…

Pausa. Silêncio. Os dois tomam um gole, olham pra fora, vêem a vida.

Vaiber: Que mala a gente vai tentar matar agora?
Raiper Que tal o Chris Martin?
Vaiber: (sem muita empolgação): É, pode ser. É uma. É uma…

Fade lento pra black.

FIM
Sobem créditos.

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