Não é sempre que uma banda do subterrâneo consegue oportunidades como essa: tocar num lugar legal, com uma estrutura decente e som bacana. Ainda mais quando a banda é a ruído/mm, cujo som implora por clareza e nitidez pra expor suas nuances. O SESC Belenzinho se abriu pra essa chance. E, ainda por cima, no teatro, palco ideal nesse caso: plateia sentada, contemplando o contemplativo som dos curitibanos.
Mais do que isso, não é sempre que a gente tem essa oportunidade.
Na sexta-feira, dia 27 de março de 2015, sentados em confortáveis cadeiras, após os três toques do teatro, começou o magistral passeio da plateia ao som da ruído por milímetro.
“Eletrostática” soou limpa ainda no palco escuro. Aos poucos, as luzes foram acendendo e pudemos ver o sexteto, três guitarras a frente; teclas, bateria e baixo atrás.
Os responsáveis por um dos grandes discos de 2014, “Rasura”, se apresentaram tímidos, na deles, mas poderosos nota a nota, construindo uma muralha graciosa de sons que pareciam turbinados em relação ao estúdio. Improvável, mas não impossível.
É na qualidade de som que o SESC oferece que a banda foi além e subverteu a si mesma sujando seus acordes, deixando os temas mais pesados e arranhados.
No disco, é cristalino. Ao vivo, é um tanto sujo, embora você reconheça cada uma daquelas paisagens que aprecia em “Rasura”.
Estão lá, além de “Eletrostática”, a grudenta “Cromaqui”, “Penhascos, Desfiladeiros E Outros Sonhos De Fuga” e a morriconiana “Requiem For A Western Manga”. Mas estão lá com mais ruídos do que o original.
Volta e meia ajoelhados, os três guitarristas, André Ramiro, Ricardo Oliveira e Felipe Aires, mexiam botões e pedais e como a improvisar sobre uma base bem montada pela outra metade da banda (Giva Farina, bateria; Rafael Panke, baixo; e Alexandre Liblik, teclado). Pareciam querer avançar ainda mais nas possibilidades de sua música.
Não foi um show ruidoso, é bom ressaltar. A ruído/mm se vale mais dos silêncios que preenchem seu som do que das microfonias e esporros eventuais que o post-rock ou o shoegaze oferecem – mesmo porque a banda não é nem só uma coisa nem outra. São esses vácuos que esticam a percepção de cada som e que constroem a grandeza da música do sexteto.
É uma pena que existam tão poucos espaços pra bandas como essa se apresentarem Brasil afora. A certeza que fica é que independente das condições serem favoráveis ou não, você deve assistir a um show da ruído/mm de qualquer maneira.
1. Eletrostática
2. Sanfona
3. Nova
4. Cromaqui
5. Réquiem For A Western Manga
6. Transibéria
7. Penhascos, Desfiladeiros E Outros Sonhos De Fuga
8. Bandon
9. Petit Pavê
Veja os vídeos de “Eletrostática” e “Cromaqui”, respectivamente: