Não sei quantas bandas levam a sério e se orgulham de fazer “música experimental”. Muito menos posso colocar a mão no fogo por uma meia dúzia que digam que “música experimental” é algo elogioso. Certo que a mim me parece que o S.O.M.A. gosta de tal estampa, que lhe cai melhor do que a usual post-rock.
Sim, porque nesse terceiro lançamento, “Deus Ex Machina”, via Sinewave, o trio experimenta mais do que ambienta, numa clara evolução, como atesta o próprio selo: “tiraram uns meses em 2011 pra gravar um disco novo, esse ‘Deus Ex Machina’. A diferença em relação aos EPs é brutal. É um som adulto, complexo, contrastando com os vinte e poucos anos de cada um. A razão é que são caras que ouvem música”. Lucas Lippaus (guitarras, também senhor dos ruídos da Herod Layne), André “Anti” Ross (baixo) e Elvis Cantelli (bateria) ouvem e tratam música como algo sério (se levar a sério são outros quinhentos).
Por isso, “Deus Ex Machina” encontra pouco eco na produção nacional (lá fora se pensa logo em Mogwai, Godspeedyou! Black Emperor, Explosions In The Sky): aqui no Brasil se experimenta pouco, muito pouco, ainda mais com ruídos, com texturas desconfortáveis, com ambiências anti-climáticas. Só por aí, é preciso reverenciar o S.O.M.A. – e nesse disco mais ainda.
Pra conhecer esses paulistas de Indaiatuba, você pode até recorrer ao primeiro disco, “OM”, de 2009, e ao duplo “Eros” e “Thanatos”, mas “Deus Ex Machina” é aquele princípio pelo qual a banda deve ter buscado desde as brincadeiras sonoras de quando surgiu em 2007. Em outras palavras, isso quer dizer maturidade de absorver e saber usar as referências.
Nas cinco músicas e seus desmembramentos, a S.O.M.A. aumentou o espectro de experimentações a partir de suas próprias experiências – das brincadeiras aos discos anteriores – e deu ao mundo uma música mais do que internacional, algo interplanetária, ou coisa que o valha. A guitarra operística, de lamentos tétricos, do início de “Dogma”, é um “bem-vindo” à dimensão que o trio habita: ruídos de máquina, feitos pelas mãos do homem, pra subverter a inércia das mentes alheias.
Daí, viagens de sete a dezessete minutos de duração se sucedem. São músicas que não contam uma história. São experimentações. A expressão latina “Deus Ex Machina”, derivada do grego “apò m?chan?s theós” (“Deus surgido da máquina”) e resgatada do teatro, designando a solução pros fios soltos de uma trama pouco coesa, aqui serve como assinatura do deus-terreno, o homem, o criativo, o inquieto: a música nunca irá se resolver e se encerrar, ela precisa de fios soltos e carece que alguém vez por outra tenha o ímpeto de experimentar e sair do lugar comum.
1. Dogma
– I. Statements of Faith
– II. Reducto ad Absurdum
2. Moirae
– I. Genesis
– II. Interlude
– III. When Everything Dies
3. Through A Glass Darkly
– I. Winter Light
– II. The Glass
– III. Farewell
4. .G
5. The Myth of Sisyphus
– I. The Absurd
– II. Albert Camus
Pra baixar, de graça, clique aqui e vá direto ao site da Sinewave.
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[…] ser o primeiro registro da banda após o excelente “Deus Ex Machina”, de […]