SCAFANDRO – SCAFANDRO

Esse talvez seja um dos discos mais viajantes e insanos que ouvi num bom tempo (ok, os do VICTIM! são mais insanos, mas em outra esfera). E olha que eu faço questão de ouvir “coisas estranhas”. É um experimento sensorial que talvez, em termos de música jovem e pop atualmente, o Füxa consiga fazer, ou, pode ser, está mais pra doideiras como essa.

A SCAFANDRO é uma banda de Porto Alegre formada por Stefano Fell, Rodrigo Leszczynski Souto e Fernando Saul em outubro de 2011. De cara, a banda começou a lançar uma série de singles experimentais (oito no total, a partir de junho de 2012), até que resolveu lançar o primeiro disco, auto-intitulado, dia 30 de maio de 2013, via Punch Drunk Records.

O trabalho teve um processo de gestação todo na base do improviso, com produção da própria banda, gravação no Dub Studio, e masterização de Stefano Fell, “se é que dá pra chamar isso de masterização”, brinca. A arte da capa é de Rodrigo Souto.

Segundo Stefano, a banda aproveitou gravações “não usadas nos singles, entre 2011 e 2013, mas a maioria destas são músicas de 2013″.

Conversei com Stefano Fell (também guitarrista da Loomer) em dois momentos. O primeiro foi logo no começo da banda, no meio de 2012. O segundo foi um papo rápido sobre o lançamento de “Scafandro”, o processo de gravação, as influências etc. O resultado compilado no formato de entrevista, você lê abaixo, mas é bom ouvir o disco, com suas duas horas e meia de hipnose como poucas produzidas atualmente em solo brasileiro.

1. Napalm Sunset
2. Home Memory
3. Bikini Island
4. Airground
5. Sailing Brick
6. Braincut
7. Sunbeast
8. Worried Glass
9. Teeth Grinder

Floga-se: Como tudo começou?

Stefano Fell: O Scafandro começou no final de 2011 por mim, pelo Rodrigo Souto e pelo Fernando Saul, em um ensaio freestyle, sem grandes pretensões. Na ocasião, o Fernando Saul tinha umas bases que ele havia feito no violão e que gostaria de usar em alguma banda. Já eu e o Rodrigo tínhamos uma quantidade razoável de pedais de efeito que ficavam subutilizados em nossas outras bandas e pensamos em explorá-los mais nesse ensaio. E o resultado foi considerado por nós como sendo muito acima do esperado.
Inicialmente, como o resultado havia sido bom, até tínhamos a intenção de repetir as músicas que estávamos inventando: tentar capturá-las pra tentar reproduzi-las posteriormente. Depois, acabamos desistindo da ideia. Decidimos em favor da espontaneidade, pois perderíamos algo no processo. Deixamos de tentar controlar o ruído, a microfonia, e os efeitos bizarros. Decidimos que cada ensaio seria único, improvisação pura, o fruto da espontaneidade daquele instante. Sendo assim, começamos a gravar todos os ensaios que fizemos, pra registrar o momento.

F-se: Como foi o processo de gravação dos primeiros singles?

SF: O nosso processo de composição é assim: duas horas ininterruptas de barulhos e melodias em que tentamos manter uma sintonia com a base inventada pelo Saul. Gravamos essas duas horas, e posteriormente escolhemos algum trecho (ou mais) que achamos que tenha ficado interessante. Esse trecho damos uma pequena tratada no som, e disponibilizamos na Internet. Posteriormente, pensamos a respeito do que aquela música nos faz lembrar e acabamos dando um nome pra ela.

F-se: tem um DNA de improvisação, né?

SF: É pra manter a espontaneidade…

F-se: Sim, eu imagino… Mas elas são canções compostas?

SF: Só existe uma coisa pré-composta que é a guitarra limpa do Fernando Saul, uma guitarra sem efeitos, que faz uma base bem simples do início ao fim da música, que às vezes se mergulha no meio dos efeitos que eu e o Rodrigo fazemos. Mas nao é loop, toda a música é tocada mesmo, só que às vezes ele abandona a base dele e improvisa junto com a banda, se assim entender.

F-se: O resto da banda segue no improviso? Mas é gravado tudo num take só, “ao vivo em estúdio”?

SF: O disco (“Scafandro”) foi assim: marcamos um ensaio e improvisamos durante duas horas. Depois, selecionamos um trecho de dez, quinze, vinte minutos e botamos um nome. São músicas improvisadas, não houve trabalho em cima.

F-se: É imersão mesmo… Depois de escolher o take é trabalhar no corte e pronto?

SF: Sim, e é assim ao vivo também. São trechos integrais. Não tem corte no meio, só no início e no fim, fade in e fade out. Não tem loop. Um canal…

F-se: Dá mais liberdade de criação ou é mais desafiador? E ao vivo as músicas ficam “identificáveis”?

SF: Às vezes, o pessoal identifica porque a base do Saul é a mesma, mas a ambiência é toda diferente, é o que surge na hora. A gente apostou numa ideia de sinceridade do som que tem dado certo por enquanto. A gente acha que ao tentar reproduzir, alguma coisa se perderia. É desafiador, sim. Não é muito tranquilizante não saber o que vai sair na hora. mas nunca se sabe de qualquer forma, mesmo se fosse de outra forma. Por enquanto, é legal assim.

F-se: Tem que confiar muito nos outros integrantes.

SF: É um dialogo instrumental. É só ser sincero.

F-se: Deve ser mais desgastante e, sei lá, recompensador esse resultado do que com as outras bandas ou não?

SF: É diferente. Acho que é menos desgastante. E todas recompensam à sua maneira. Um dos nossos prazeres (pra mim e pro Rodrigo, ao menos) é ler reviews de pedais, ou assistir vídeos de demonstração de novos efeitos. A simples demonstração das possibilidades desses pedais acabou virando música pra gente. Porém, em nossos projetos de bandas atuais essas possibilidades não eram exploradas tão a fundo, pra não atrapalhar a proposta daquela determinada banda. Alia-se a isso o fato que dividimos gostos musicais em comum, em nossas conversas de mesa de bar, a respeito de bandas como Grouper, Godflesh, Brian Eno, Jesu, dentre outras, que teriam um tipo de som de caráter contemplativo.

F-se: Como é a banda ao vivo? E como foi tocar com o thisquietarmy (a banda tocou dia 30 de maio, data de lançamento do “Scafandro”, no Signos Pub, junto com a Lühm e a Morning Sex)?

SF: Ao vivo, tentamos reproduzir o (clima do) ensaio. É improvisação pura, não tentamos reproduzir as músicas já gravadas. Eu levo uma caixa com uns trinta pedais e escolho tudo na hora. É uma música apenas, com a duração do show, seja ele de vinte minutos ou de duas horas. Passamos projeção de imagens e trabalhamos alguma coisa com luzes também, pra ajudar na ambientação do show. Como é improvisação pura, algumas pessoas do público também participam na hora, se quiserem. O Everton Cidade, vocalista da Siléste, já participou cantando, por exemplo; a Jaquelina Soares (que até participou de duas músicas no disco), tocando violino; o Cássio Forti, da Lautmusik, também quer participar de um show, mas é tudo na hora, não tem ensaio pra eles.

Veja a banda em ação, em março de 2013:

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