A produção subterrânea brasileira não depende das esferas governamentais pra quase nada – a bem da verdade, depende mais do apoio da esfera municipal, e apoio não significa dinheiro, mas logística e liberação de espaços públicos e segurança. Ela se vira sozinha. Mexe seus pauzinhos aqui e ali e consegue sobreviver (sabe-se lá como, mas consegue), passar a mensagem adiante, fomentar a cultura e espalhar esperanças a artistas e apreciadores de que é possível realizar sem aporte de capital, sem a reverência do mercado.
Nesse sentido, o posicionamento de alguns poucos selos e gravadoras (a maioria só realiza lançamentos online, mas coloca o trabalho na rua, através de eventos diversos) é crucial e vem ao encontro do próprio posicionamento do Floga-se, que também se alimenta um pouco da produção que eles corajosa e abnegadamente insistem em colocar pro mundo.
Por isso, o site reproduz aqui o rápido e preciso manifesto que soltaram às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Leia, pois, na íntegra:
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Manifesto/Carta Pública de Selos, Gravadoras e Produtoras de Música
1. Quem somos?
Somos selos de música, gravadoras, músicos e musicistas independentes, produtores e produtoras culturais comprometidos com o circuito artístico no Brasil. Nossa inserção no difícil cenário artístico brasileiro é geralmente independente das formas de fomento do Estado, embora considere fundamental a promoção de políticas públicas voltadas à cultura.
Viemos por meio desta manifestar nossa união contra esse modelo autoritário que visa privilegiar os privilegiados, silenciar a contestação, cultura e cremos que a propagação do ódio e a mentira, mesclados, são elementos irresponsáveis para o cargo público presidencial.
Somos negros e negras, homens e mulheres, somos periferia, somos cultura, somos diversidade e aceitação.
2. Defesa da democracia
Estamos diante de um momento histórico crucial pro Brasil e, no que tange às nossas profissões, pro futuro da produção e circulação de cultura. Dois projetos são apresentados pra escolha nas urnas do próximo domingo (28 de outubro). Um deles descreve ações e incentivo à práticas antidemocráticas, contra o qual devemos imperativamente nos posicionar. A defesa dos valores democráticos (tolerância, pluralismo, liberdade de expressão, respeito às atribuições institucionais) é de absoluta urgência. A produção e circulação de cultura requer a manutenção destes valores, e sem os quais toda criação artística torna-se inviável e infértil. A democracia é o solo comum e vital de nossa expressão artística!
Assinam este documento:
• Paracelso Records – Rio de Janeiro (RJ) (@paracelsorecords)
• Cérebro Surdo Produções – São Paulo (SP) (@CerebroSurdoProducoes)
• Sinewave – São Paulo (SP) (@sinewave)
• Lo-Slow Records – Curitiba (PR) (@loslowrecords)
• Cru Colab – Ponta Grossa (PR) (@crucolab)
• Banana Records – Fortaleza (CE) (@recordsbanana)
• Nap Nap Records – Curitiba (PR) (@napnaprecords)
• Transtorninho Records – Recife/Maceió (PE/AL) (@transtorninho)
• Geração Perdida de Minas Gerais – Belo Horizonte (MG) (@geracaoperdidamg)
• Hérnia de Discos – São Paulo (SP) (@herniadediscos)
• Efusiva – Rio de Janeiro (RJ) (@efusiva.diy)
• Gig Nervosa – Rio de Janeiro ( RJ) (@gignervosa)