Åsa Söderqvist nasceu em Kramfors, cidade de seis mil habitantes, quase quinhentos quilômetros ao norte da capital Estocolmo, e considerada em votação popular como “a segunda mais chata da Suécia em 2008”.
“É um lugar morto. Muito tempo livre. Nada pra fazer. Muito tempo pra ficar pensando”, disse ela ao site sueco Gaffa, em setembro de 2016 (leia aqui), quando a moça tinha acabado de lançar seu primeiro e bem avaliado EP, “Shitkid” (ouça aqui), com canções lo-fi de rifes e batidas colantes, como “666”, “RnR Sally” e “Oh Please Be A Cocky Cool Kid”. Ela tinha 24 anos.
Após terminar os estudos, se mudou pra uma cidade maior, Härnösand e, então, pra efervescente Gotemburgo, no extremo oeste do país. O ano era 2014. Ali, teve sua primeira banda, Honymoon V. Era muito tímida e morria de medo de palco. Em paralelo, pra suas criações-solo, ela fez surgir o SHITKID. Quando uma das integrantes do Honymoon V ficou grávida, o grupo ficou em banho-maria, mas Söderqvist seguiu compondo e gravando em casa, no seu computador. Foi nessa época que nasceu o primeiro single do Shitkid (direto no Soundcloud), “Oh Please Be A Cocky Cool Kid”, e onde a sua música decolou.
O Shitkid é um trio. Tem Greta Faxberg na guitarra (ela também era do Honymoon V) e Linda Hedström nas teclas. Söderqvist é uma faz-tudo: compõe, canta e toca guitarra ou qualquer outro instrumento que possa fazer ruído.
Ela enviou suas gravações pro selo PNKSLM, que ficou empolgado e quis lançar na hora o que ela tivesse. O selo é um dos mais atuantes no subterrâneo sueco, com bandas como Boys e Magic Potion.
“Eu já conhecia Nora Karlsson, do Boys. Depois de tomar confiança, ouvi de novo minhas músicas e achei que elas soavam bem e eram simples, então mandei pro selo. Eles responderam de imediato, o que foi bem massa”, disse Åsa Söderqvist ao site sueco Fria.
Em abril de 2016, saiu o primeiro EP, com apenas três músicas, “666”, “Oh Please Be A Cocky Cool Kid” e “Hillside” (ouça aqui) – a versão linkada alguns parágrafos acima refere-se ao mesmo EP, só que com oito músicas e essas três retrabalhadas; ouça as duas versões pra comparar.
Daí, foram só exclamações. Os sites locais davam manchetes como “Shitkid veio pra ficar”, “Shitkid faz pop sujo como ninguém mais”, “Shitkid é o que todo pai não queria que sua filha fosse e isso é ótimo”. A reverberação chegou na imprensa em inglês, como Spin, Fader e Dazed.
Como de praxe, tais publicações se apressaram em tenta rotular ou encaixar a música de Söderqvist em alguma caixinha. “Shitkid parece com o Suicide, o Jesus & Mary Chain e a Siouxsie And The Banshees”, escreveu o Sydsvenskan, em abril de 2017. “O som sujo e direto do ShitKid soa como se a cantora do Royal Trux, Jennifer Herrema, fizesse parte do Jesus & Mary Chain. Lascivo, fresco e apetitoso”, escreveu o Fria.
Ela ri disso: “minhas influências chegam de várias maneiras possível, com muito pop e R&B, mas também rock, punk e grunge. Quanto ao som, eu não procuro refinar muito, então quando você for ouvir vai ouvir exatamente o que fiz naquele momento”.
Seria mais preciso definir o Shitkid como um encontro inusitado entre as Shangri-Las e os Cramps numa garagem qualquer. É assim que soa o segundo EP, lançado em 3 de março de 2017, com quatro músicas (ouça aqui), duas delas que também estão no primeiro disco cheio, “Fish”, com data de lançamento pra 2 de junho de 2017.
Os shows em Gotemburgo proliferaram e já há rota pelos Esteites e Inglaterra. “Hoje, não sou mais tímida. E aquele medo do palco já era. Perto de um show com o Honymoon V, eu ficava doente por oito horas e, finalmente, não dava mais conta. Acho que me curei a partir de então. Agora mal posso esperar pra estar no palco”, disse ao Fria.
Embora ela ainda diga que é “um tanto zoada como pessoa”, o Shitkid parece ter um caminho bem asfaltado pela frente. Com o lançamento de “Fish”, o primeiro disco (todo escrito, produzido, executado e gravado por ela e só por ela), o trio vai cair na estrada justamente na temporada mais quente do Hemisfério Norte, com os palcos pulsando com os grandes nomes e sedentos por novos artistas.
A sujeira pop do Shitkid e todo o desarranjo social que Söderqvist exemplifica são ideais pros ouvidos de jovens como ela e são raros os músicos que conseguem ter tal identificação com os ouvintes. O rock, aquele estilo de chutar canelas e cuspir nas autoridades, precisa de desajustados naturais e sinceros. Åsa Söderqvist chega dando voadora nessa porta.
1. Never Seen A Girl Like Me
2. Sugar Town
3. Alright
4. Two Motorbikes
5. Tropics
6. On A Saturday Night At Home
7. Likagurl
8. Fish At Sea, Right?
9. Gettin’ Mad