SOBRE A MÁQUINA NA CASA DO MANCHA – COMO FOI

Verão em São Paulo é como em qualquer cidade grande (média, de fato) do Sudeste do País: fatalmente pancadas poseidônicas de chuva despencarão a qualquer momento, com a ferocidade e consequências de catástrofes. Os governantes sabem, é claro, afinal já foram cidadãos (não são mais, políticos brasileiros se autodenominam e se tratam como pessoas acima dos cidadãos), mas de que adianta fazer algo? Basta colocar a culpa na mãe-natureza, a implacável desnaturada.

Pobre dos terráqueos pagadores de impostos. A nós, nos resta serpentear pelas vias contra poças, rios e lagos que se formam nas vias públicas, tentando manter a vida e, quem sabe, o patrimônio. Ou, mais comumente, o compromisso.

Nesse sentido, Cadu Tenório, do Sobre A Máquina, estava preocupado com o primeiro show na capital paulista, dia 21 de janeiro último, junto com os também cariocas do Chinese Cookie Poets: compareceria alguém com aquele dilúvio? Cariocas, como paulistas, sabem das aporrinhações de um temporal. No Rio, segundo Cadu, ninguém se mexeria pra ver um show com tais condições meteorológicas.

Mas eis que a acanhada Casa do Mancha recebeu um público decente, a ponto de lotar as instalações. Só gente boa, interessada no barulho que ambas as bandas iriam entregar (sobre o Chinese Cookie Poets, escrevo aqui). Tal interesse e as condições climáticas desfavoráveis mereciam um respeito suíço ao horário da apresentação. Assim, como combinado e anunciado, às oito da noite, o Sobre A Máquina ligou os botões.

O trio não era um trio. Ao vivo, um quinteto: Cadu Tenório (efeitos, teclado), Emygdio Costa (guitarra e efeitos), Alexander Zhemchuznikov (o saxofonista russo), Lucas Alves (baixo) e Gabriel Feitosa (bateria). Os cinco começaram com uma improvisação (“na verdade, as duas improvisações são músicas que estamos prestes a gravar; são temas e momentos bem voltados pra improvisação; estamos tocando versões mais soltas pra ver como fica ao vivo”, disse Cadu), pra depois emendar duas das músicas mais impactantes de 2011, “Barca” e “Língua Negra”. Com “Garça”, fechando o set, o segundo disco, “Areia” ficou quase representado na íntegra.

Curioso. A plateia parecia conhecer aqueles anti-hits de cor. Não são músicas pop, daquelas de cantarolar, assobiar ou coisa que o valha, longe disso, mas funcionou como se fossem, pro público ali na Casa do Mancha. Melhorou o público ou a banda facilitou? Há passos nos dois sentidos.

O Sobre A Máquina entregou o que a plateia queria ver e ouvir: uma música “industrial” (não é industrial), marcante, sinfônica nos barulhos, em torno de um “rife”, de uma melodia, com crescentes, e principalmente hipnótica. O adjetivo que determinou a apreciação desse show foi exatamente esse: a música é hipnótica. O “blá-blá-blá” paralelo que se ouvia durante a primeira improvisação se emudeceu de “Barca” pra frente e aí se pôde decretar: a banda havia conquistado os paulistas também ao vivo.

A despeito da timidez homérica de Cadu ao se dirigir ao público (nem chegou a falar ao microfone), havia uma enorme dose de simpatia fluindo ali. E a música falava por si só.

Pena é não haver espaços pra bandas como essa se apresentarem com frequência, no Brasil. Mas esse papo já é chover no molhado, infelizmente.

1. Improv 1
2. Barca
3. Língua Negra
4. Fôlego
5. Improv 2
6. Garça

Veja “Barca”:

Veja “Língua Negra”:

Agradecimento a Elson Barbosa, pelas fotos e pela contribuição no vídeo de “Barca”.

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Comentários

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7 comentários

  1. O show foi muito bom, mas creio que o Sobre a Maquina é uma banda 1000000000000x melhor quando apela para a repetição pura do que para a improvisação.

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