SOBRE SELOS: 10 MÚSICAS PRA ENTENDER A 4AD

Ivo Watts-Russell e Peter Kent eram funcionários da Beggars Banquet. Em 1979, receberam o ok pra começar um selo que fizesse a ponte entre as novidades do subterrâneo e os grandes negócios da BB, que era distribuída pela WEA Records, uma gigante mundial. Nasceu, então, a Axis Records, que logo teve que mudar de nome, pra evitar problemas legais com outro selo de mesmo nome.

Eis que surgiu a famosa brincadeira tipográfica promocional que deu o nome ao selo: “1980 FORWARD – 1980 FWD – 1984 AD – 4AD”.

A ideia era que os assinados com a 4AD ficassem um tempo maturando sua relação com a empresa antes de “subir o degrau” pra ficar de vez com a Beggars Banquet. Mas, na verdade, só o Bauhaus fez esse trajeto, após lançar “In The Flat Field”, ficando com a empresa-mãe até “Burning From The Inside”, de 1983, o último disco (quer dizer, a banda chegou a lançar outro trabalho em 2008, mas é outra história).

Kent puxou o carro. Vendeu sua parte pra Ivo Watts-Russell na virada de 1981 pra 1982 e foi criar a Situation Two, uma gravadora com o mesmo intuito da 4AD com relação à Beggars Banquet – e que durou até 1992, lançando gente como Lydia Lunch, Gene Loves Jezebel, Tones On Tail, Bolshoi, Fields Of The Nephilim, Red Lorry Yellow Lorry, Loop, Thee Hypnotics e os primeiros do Buffalo Tom e do Charlatans. A maioria dessas bandas que seguiu carreira foi abraçada pela Beggars depois.

Mas é inegável que a carreira da 4AD foi muito mais bem sucedida. Talvez porque Watts-Russell fosse um músico que circulasse mais e tivesse respeito dos pares.

Além do mais, ele pensou em detalhes importantes, como identidade sonora e visual. A 4AD tinha isso. Visualmente, as capas de Vaughan Oliver e do fotógrafo Nigel Grierson fizeram a marca da gravadora (ambos foram sócios do 23 Envelope, estúdio gráfico que até 1987 fez todas as capas do selo e que, após a saída de Grierson, virou v23 e continuou o trabalho em todos os discos até o final dos anos 1990).

Musicalmente, as bandas que assinavam com o selo nos anos 1980 tinham entre si uma proximidade indiscutível, o que virou uma marca irretocável da 4AD. Do Bauhaus, o primeiro a assinar, até o Pixies, quando as coisas começaram a mudar o rumo, passaram bandas importantíssimas pro gótico, pós-punk e industrial, como Cocteau Twins, The Birthday Party, Dead Can Dance, Matt Johnson (The The), Modern English, Dif Juz, This Mortal Coil, X-Mal Deustchland, The Wolfgang Press (a banda de Ivo Watts-Russell), Throwing Muses (a primeira banda estadunidense a assinar) e Clan Of Xymox.

Pra entender um pouco mais da verve da 4AD, vale ouvir a clássica coletânea “Lonely Is an Eyesore”, de 1987, que chegou a ser lançada no Brasil pela Stiletto.

Alguns indícios de que a gravadora não ficaria restrita a esse universo veio com o dub do Colourbox e o house do single de maior vendagem da história da 4AD, “Pump Up The Volume”, do M|A|R|R|S.

A diversificação foi impulsionada com o próprio Pixies (o maior achado do selo), com a chegada dos anos 1990, a partir do Lush, Breeders, Mojave 3, Red House Painters, Belly (de Tanya Donnely), His Name Is Alive, Pale Saints; e consolidou-se com o profissionalismo nos anos 2000, com bandas que nem tinham tanto a “cara da 4AD”, nem estavam intimamente ligadas ao selo – até aqui, a maioria lançava todos seus discos pela 4AD e mantinha uma longa e duradoura ligação com o selo.

No novo século, os nomes que vieram também são impressionantes: TV On The Radio (descoberto pela 4AD), Blonde Redhead, Deerhunter e Atlas Sound, Beirut, The National, St. Vincent, Camera Obscura, Iron & Wine, Ariel Pink, Efterklang, Future Islands, Gang Gang Dance, Grimes, Mark Lanegan Band, Purity Ring (mantendo a fama provocativa da 4AD), Stornoway, Scott Walker, The Mountain Goats, The Big Pink, Twin Shadow, Tindersticks, Tune-Yards etc.

Uma seleção de respeito. Poucos selos que começam “alternativos” (nesse caso, a estampa “independente” não cabe) mantém-se com os olhos voltados pro subterrâneo depois de um tempo. O 4AD fez isso, embora num espectro comercial bem maior, a ponto de a cria incorporar a criadora: em 2008, a Beggars Banquet passou a se moldar à estrutura do selo, bem como os outros selos do grupo.

A 4Ad havia sido reconhecido como a mais importante e bem-sucedida experiência da BB.

01.
Música: “Stigmata Martyr”
Artista: Bauhaus
Disco: “In The Flat Field”
Ano: 1980

02.
Música: “Garlands”
Artista: Cocteau Twins
Disco: “Garlands”
Ano: 1982

03.
Música: “Boomerang”
Artista: X Mal Deutschland
Disco: “Fetisch”
Ano: 1983

04.
Música: “Frontier”
Artista: Dead Can Dance
Disco: “Dead Can Dance”
Ano: 1984

05.
Música: “Baby, I Love You So”
Artista: Colourbox
Disco: “Baby I Love You So” (Single)
Ano: 1986

06.
Música: “Pump Up The Volume”
Artista: M|A|R|R|S
Disco: “Pump Up The Volume” (Single)
Ano: 1987

07.
Música: “Where Is My Mind”
Artista: Pixies
Disco: “Surfer Rosa”
Ano: 1988

08.
Música: “Hypocrite”
Artista: Lush
Disco: “Split”
Ano: 1994

09.
Música: “Dreams”
Artista: TV On The Radio
Disco: “Desperate Youth, Blood Thirsty Babes”
Ano: 2004

10.
Música: “Cruel”
Artista: St. Vicent
Disco: “Strange Mercy”
Ano: 2011

Leia mais:

Comentários

comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.