SONS DE BEIRA – SONS DE BEIRA

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“Sons De Beira” é “um espetáculo musical percussivo construído através dos resultados de pesquisas sonoras realizadas nas vivências em ambientes beradeiros, nos quais apresenta um conjunto de timbres e ritmos do cotidiano amazônico pela manipulação de objetos e instrumentos diversos, construindo paisagens sonoras que estimulam sensações peculiares a esse universo e promovem o resgate de memórias auditivas de beiras de rios com seus mitos, lendas, causos, afazeres cotidianos, ofícios e brincadeiras”.

A descrição do SESC (de 2016) sobre a apresentação dá uma ideia bastante ampla do que o ouvinte encontrará neste disco “Sons De Beira”, lançado em 20 de maio de 2021 pelo selo Desmanche, de Porto Velho. Mas ainda assim, ao desenrolar das músicas, especialmente nos temas “Fluidez Da Beira / Peixinhos Do Mar” e “Baticum”, é possível se surpreender com uma imagem não detalhada.

O espetáculo, segundo descrição do selo, nasceu de “laboratórios e audições in loco, relatos de ribeirinhos e indígenas e obras de compositores da região”, tão distante dos grandes centros e do dinheiro pulsante e corrosivo do Sul e Sudeste – sem se esquecer, claro, de Brasília.

A Amazônia, lugar que pra maioria dos brasileiros é só mesmo um termo, que significa “floresta” ou “meio ambiente” ou, provavelmente, um ponto cada vez menos verde no mapa do Brasil, volta e meia ganha as manchetes e nunca por motivos gloriosos. A devastação que o governo de Jair Bolsonaro, pelas mãos criminosas do seu anti-ministro Ricardo Salles, acelera a números indizíveis, com o olhar complacente da Justiça e com a fúria apenas retórica dos meios de comunicação (cujas poucas famílias detentoras são cúmplices do desmatamento).

Ouvir “Sons De Beira” é fazer um turismo sonoro à distância. É viver um ambiente que a maioria dos brasileiros jamais vai sequer passar perto, a não ser por imagens de televisão e redes sociais. E é intrigante, apaziguador, tranquilizador, empolgante, misterioso e tudo ao mesmo tempo.

As serras, o andar do trem, os cantos, os tambores, as batidas, os sopros, o clima que os pesquisadores e músicos conseguiram transmitir será percebido por cada um de uma maneira sensorial diferente, mas é inegável a assertividade de transportar o ouvinte pras matas e rios propostos.

A maior virtude de “Sons De Beira” é não ser bandeiroso, forçar um discurso, por mais que ele seja necessário. O caminho escolhido foi por não apontar dedos e abrir caminhos pra compreensão. Todos são bem-vindos nessa luta pela preservação, que não é só ambiental, mas cultural, social e humanitária. Na biodiversidade da Amazônia inclui-se seres humanos, ora pois, que precisam sobreviver, que têm história, passado, alegrias, criações, tristezas, perspectivas, sonhos e capacidades.

“Sons De Beira” não é um disco de apreciação fácil, de música acessível. É a música da história. Um informativo. Um grito de alerta. Uma dedicação ao Brasil que o Brasil não liga.

A concepção, pesquisa e direção são assinados por Bira Lourenço, com colaboração dos músicos Catatau Batera e Jussara Assmann na pesquisa. Tem participação especial de Sarah Beatriz.

A obra foi gravada e produzida no Estúdio Ecos da Oca, com assinatura de Thiago Maziero.

01. Música Da Paisagem
02. Paisagem De Beira / Um Canto Em Favor Das Matas
03. Barranco
04. Descendo A Lenha
05. Remando
06. Fluidez Da Beira / Peixinhos Do Mar
07. Baticum
08. Caos E Efeito
09. Lamento
10. Funk Da Vara

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