SOUNDCLOUD: DINHEIRO PROS ARTISTAS QUE SÃO DE FATO OUVIDOS

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O SoundCloud anunciou na terça-feira, 3 de março de 2021, que se tornaria o primeiro grande serviço de música sob demanda a começar a direcionar o dinheiro dos assinantes apenas pros artistas que os assinantes ouvem.

Parece óbvio, mas não é isso que acontece nos mais conhecidos os serviços disponíveis. A grasna dos assinantes vai pra um bolo comum, um grande caixa, e depois é distribuído de acordo com o número de execução globais. Acontece que esse sistema, como acontece com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, o Ecad, privilegia os medalhões, que são executados meio que por osmose. Se um artista pequeno, de uma banda desconhecida, é executada em um serviço, o dinheiro pode acabar indo pra um medalhão.

O anúncio foi feito tentando atender uma demanda dos artistas por um pagamento mais justo.

Os artistas também argumentam que o sistema atual, das grandes plataformas, significa que muitos fãs de artistas e gêneros de nicho financiam músicas que nunca ouviram, aquelas que estão no topo da pirâmide.

O SoundCloud afirmou que a partir de 1º de abril de 2021 começará a direcionar os royalties devidos aos artistas que os assinantes realmente ouvem.

“Muitos na indústria desejam isso há anos”, disse Michael Weissman, CEO do SoundCloud, em matéria publicada pelo The Guardian. “Estamos entusiasmados por sermos os únicos a trazer isso pro mercado pra melhor apoiar os artistas independentes”.

No entanto, isso só se aplica aos cerca de cem mil artistas independentes que monetizam diretamente por meio do site. Artistas licenciados de grandes gravadoras continuarão a ser pagos pelo método tradicional. E a diferenciação é importante.

O SoundCloud disse que o novo sistema de pagamento – conhecido como “fan-powered royalties” ou um “modelo centrado no usuário” – vai capacitar os ouvintes e incentivar uma maior diversidade nos estilos musicais.

“Os artistas agora estão mais bem equipados pra desenvolver suas carreiras ao estabelecer conexões mais profundas com seus fãs mais dedicados”, disse o comunicado. “Os fãs podem influenciar diretamente como seus artistas favoritos são pagos”.

Segundo o Guardian, “acredita-se que as grandes gravadoras tenham resistido a tal movimento, em parte porque o sistema atual permite que elas gerem lucros maciços por meio de um número relativamente pequeno de grandes estrelas”.

Um estudo do Centre National de la Musique da França, este ano, descobriu que 10% de todas as receitas do Spotify e Deezer vão para apenas dez artistas. Está longe de ser um sistema justo.

Isso permitiu que as grandes gravadoras acumulassem receitas recordes no ano passado, enquanto muitos músicos entraram em crise pelo cancelamento de turnês ao vivo, devido à pandemia.

Este ano, chefes de gravadoras disseram a uma comissão parlamentar britânica que investiga a economia de fluxo contínuo que pode ser muito complicado pras plataformas mudarem pra pagamentos de royalties baseados em fãs, como propõe agora o Soundcloud – mas é exatamente esse tipo de concentração de renda que se espera dos preguiçosos executivos.

“A conclusão mais importante dos dados do SoundCloud é que nenhuma das modelagens anteriores foi precisa, que quando você realmente executa um sistema centrado no usuário, as recompensas pros artistas que têm um público são significativamente melhoradas”, disse Crispin Hunt, presidente do British Ivors Academy, que tem feito uma campanha para “consertar o streaming“. “Isso prova a distorção de valor que o modelo existente oferece”, disse.

O Floga-se é amplamente crítico à forma como as plataformas usam os pequenos artistas, inclusive como marketing pra venda de assinaturas (o texto do link é de 2014: os números podem estar defasados, mas a prática segue sendo predadora). Os serviços são ótimos pra todo mundo, menos pros artistas (já falamos disso aqui, mas não custa repetir).

Apesar do discurso recente de Daniel Ek, CEO do Spotify, sobre “democratização” de acesso, sua ferramenta é excludente, serve às grandes gravadora. Ao contrário do Bandcamp, por exemplo – “enquanto o Spotify paga royalties de acordo com fórmulas pouco conhecidas que só podem ser analisadas por cálculo reverso, o Bandcamp permite que artistas e gravadoras escolham seus próprios preços” (leia mais sobre essa diferença aqui). E, agora, é diferente também do Soundcloud (embora diferente do Bandcamp).

Bandcamp e Soundcloud se destacam, cada um a seu modo.

Em um movimento “pioneiro no setor”, segundo o comunicado oficial da empresa, a distribuição nova do Soundcloud é “uma forma mais justa e transparente pra artistas emergentes e independentes ganharem dinheiro” com a plataforma. “Os royalties movidos por fãs são um novo modelo de pagamento que é conduzido diretamente pela base de fãs de um artista. Com essa mudança, a receita de assinatura ou publicidade de cada ouvinte é distribuída entre os artistas que eles ouvem, ao invés de ser agrupada – beneficiando artistas independentes em ascensão com fãs leais”.

“Isso vai elevar, crescer e criar novas oportunidades diretamente com artistas independentes”, diz o comunicado.

“Os royalties movidos por fãs nivela o campo de jogo pra artistas independentes. Os artistas agora estão mais bem equipados para desenvolver suas carreiras, criando conexões mais profundas com seus fãs mais dedicados; e, por sua vez, os fãs podem influenciar diretamente como seus artistas favoritos são pagos. Os royalties movidos pelos fãs refletem o feedback da comunidade de artistas independentes no SoundCloud, que desejam pagamentos equitativos, transparência e controle sobre suas próprias carreiras”, segue.

A plataforma diz que os “quase cem mil artistas independentes que monetizam diretamente no SoundCloud por meio do SoundCloud Premier, Repost by SoundCloud ou Repost Select se beneficiarão”.

Além disso, a mudança tem o apoio de uma “extensa campanha de educação do artista” e contato direto e contínuo com a comunidade de artistas independentes e parceiros da indústria. Há, inclusive, um site pra iniciativa (clique aqui).

O Soundcloud só não explica o quando vale cada clique ou audição em relação ao valor da assinatura de quem está clicando. Esse é um dado importante que precisaria ser detalhado.

Porque a iniciativa é ousada (embora óbvia), mas precisa ser também efetiva pros artistas.

Enquanto a resposta não vem, ficam os aplausos e a expectativa de que é, sim, possível remunerar os artistas desconhecidos, independentes, minúsculos, subterrâneos. Arte é arte, não importa sua popularidade, e precisa ser remunerada.

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