Quem é do eixão Rio-São Paulo esquece-se ou ignora a dificuldade que outros grandes centros desse continental país têm pra ver atrações internacionais que aportam por aqui. Quase tudo acontece nas capitais paulista e carioca, um tanto sobra pra Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, um pouco menos pra Curitiba e outras capitais, mas quase nada pra cidades interioranas.
O esforço – financeiro principalmente – pra viabilizar shows nesses centros urbanos “periféricos” é literalmente um esforço que muitas vezes não vale a pena economicamente. O prazer de ver seu ídolo de perto, porém, faz alguns abnegados se movimentarem.
Veja o caso do Stephen Malkmus & The Jicks. A banda marcou uma longa turnê pelo Brasil e incluía, claro São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Beagá e… Bem, Gisleine Bedendo, “fisioterapeuta que tem como lazer acompanhar shows de rock por aí e dar seus pitacos vez ou outra”, como ela mesmo definiu, londrinense de nascimento, paulistana de morada, conta como foi fazer acontecer mais uma vez esse show no interior do Paraná – e como foi o próprio show, que teve abertura da ótima The John Candy e fechamento da igualmente boa Soundscapes, e levou setecentas pessoas ao Nite Club, em Maringá, lotação máxima, ingressos esgotados, sucesso.
Isso podia acontecer em mais cidades Brasil afora.
CELEBRAÇÃO ENTRE BONS E VELHOS AMIGOS
Textos, vídeos e fotos (de celular): Gisleine Bedendo
Não tem como falar do show do Stephen Malkmus & The Jicks em Maringá sem descrever o esforço feito por uma turma de amigos que se reuniu pra que isso fosse possível.
Não tem como falar dessa turma sem voltar a meados dos anos 90, década de ouro pra quem viveu o rock alternativo, época em que gravar uma fita cassete da sua banda preferida era uma arte.
E nessa época o norte do Paraná viveu grandes momentos, movidos por uma juventude sedenta por música de qualidade, seja ouvindo bandas gringas ou produzindo seu próprio som.
Em duas cidades em especial – Londrina e Maringá – existiam jovens que entre uma session e outra de skate se reuniam nas garagens de suas casas pra fazer um som ou promoviam festas em bares, chácaras ou qualquer barracão que fosse possível montar a parafernália toda. Não passava um final de semana que não tivesse uma banda legal pra ouvir em algum canto.
Bandas como Nada Surf, Luna, Man or Astro Man, Superchunk, Fugazi, Jon Spencer Blues Explosion, Yo La Tengo passaram por “terras vermelhas” com seus shows, dando uma pequena escapadinha do eixo Rio-São Paulo. Stephen Malkmus e seus Jicks também passaram por lá em 2002, levados por um dos grandes nomes da cena alternativa de Londrina, André Guedes.
Quando surgiu a oportunidade da banda voltar a tocar no Brasil, o próprio André tomou a frente pra realizar novamente este show em Londrina. Porém, por falta de local pra realização do evento, o esforço quase foi em vão. Os tempos são outros. Os jovens dos anos 90 já são quase quarentões, muitos já não saem de casa por falta de uma boa opção ou simplesmente porque o estilo de vida mudou após os filhos nascerem.
Mas estes já não tão jovens assim não podiam perder a oportunidade de verem um ídolo e grande personalidade internacional tocar tão pertinho deles novamente. Foi por mobilização de um grupo no Facebook chamado Rockerz (não, não é aquele grupo que agitou o festival furado que seria realizado em São Paulo, e sim um grupo originalmente Rockerz), que a possibilidade do show acontecer ressurgiu, mas agora em Maringá.
Três integrantes deste grupo tomaram a frente das negociações, mas o ponto fundamental pro evento acontecer foi a união da galera Maringá-Londrina. Por tudo isso, já podíamos saber que este não seria um show qualquer. Seria uma grande celebração entre bons e velhos amigos.
Cheguei a tempo de ver as duas últimas músicas da The John Candy. Pouco para fazer uma análise, mas suficiente para ter vontade de procurar conhecer mais do trabalho da banda (N.E.: a banda é uma das preferidas aqui do Floga-se e vale mesmo ouvir o mais recente disco, “Dreamscape”).
Após o término, aconteceu uma mudança e um intervalo foi necessário pra que a enorme fila do lado de fora do local pudesse entrar antes que Stephen Malkmus começasse a tocar. Devo ressaltar aqui que o local escolhido (ou melhor, o local que conseguiram pra que o show acontecesse) não era uma casa de shows e sim uma boate, e assim havia camarotes, mesas pra todos os lados, pilares espelhados causando “pontos cegos” e gente que não tinha ideia do que estava fazendo ali. Tudo isso acabou com um pouco da paciência e muito do espaço de quem realmente foi pelo show.
Stephen Malkmus subiu ao palco visivelmente empolgado e já mandou logo “Senator” de inicio. Na sequência, pouco mais de uma hora com vários outros hits levando à loucura os fãs entusiasmados. Mas estes mesmos fãs não escondiam o desejo de ouvir algum sucesso do Pavement. E ele tocou uma. Uma especial. No bis, voltou com “In The Mouth A Desert”, o ápice da noite, entoada em coro pelos presentes.
Com a mudança na ordem das bandas ficou pro Soundscapes a tarefa de fechar a grande noite (o que poderia ser um problema pra qualquer outra banda mas não pra eles, que estavam totalmente em casa e jogando com a torcida a favor). Formada pelos brothers maringaenses Rodrigo e Raphel Carvalho (ex-integrantes de bandas como Hellen Bisker, Red Meat e Thee Butcher’s Orchestra) e hoje contando com dois novos integrantes, Guilherme Braga e Marco Vianna (Old Magic Pallas).
Fãs declarados da principal atração da noite, fizeram um show emocionante pro público presente (e também emocionado). Daqueles shows em que você leva um esbarrão, agradece sorrindo e sai cantando e dançando.
Un gran finale, digno da grande celebração pelo esforço dos que fizeram acontecer.
01. Senator
02. Spazz
03. The Hook
04. Forever 28
05. No One Is (As I Are Be)
06. Houston Ladies
07. (Do Not Feed the) Oyster
08. Tigers
09. Long Hard Book
10. Baby C’mon
11. Asking Price
12. Stick Figures In Love
13. Animal Midnight
14. 1% Of One
BIS
15. In The Mouth A Desert (Pavement Cover)
Veja a banda tocando “In The Mouth A Desert”:
E a Soundscapes tocando “Here’s When”:
Ótima descrição Gisleine. E oportuna citação da importância da integração entre Londrina e Maringá. Juntas poder formar um pólo atrativo para mais shows como estes. Fico na torcida!
Foi realmente indescritível. Juntos somos fortes, O rockerz é nossa ferramenta de informação voltada para cultura musical. Mostramos que podemos fazer bonito, Londrina e Maringa juntas, para o bem da musica.
O título do texto descreve perfeitamente o que foi o encontro – Bons e velhos amigos.
[…] dois shows em São Paulo (o de terça-feira é open bar, pelos festejos de aniversário do Beco). O show em Maringá foi assim. Sobre o show do Rio de Janeiro, o canal do La Cumbuca no YouTube tem vários vídeos da […]
[…] aos meus olhos e do que captei de alguns amigos, o que mais precisa ser dito sobre ele está nesse texto que saiu no floga-se feito pela Gisele Bedendo que também estava presente, ela também fez o […]
Opa!
Grande texto, a iniciativa foi ótima e se mostrou bastante futuro para novas empreitadas. Os fãs agradecem.
Citei o texto e site aqui na resenha que também fiz do show, caso tenha alguma objeção só avisar. http://lowzine.wordpress.com/2013/04/30/stephen-malkmus-the-jicks-e-the-john-candy-no-nite-club/
Maringá, terra linda do coração!
Gi Bedendo, sempre com ótimos textos e nos colocando com participantes da festa!
G.Alves