TANTÃO E OS FITA – DRAMA

“Espectro” foi uma das grandes pedidas em 2017. Discão. Discaço (vá aqui pra ler e ouvir – foi um dos melhores discos do ano, como se vê aqui). Carlos Antonio Mattos, o Tantão, e Cainã Bomilcar e Abel Duarte, Os Fita, são poetas sonoros e sedutores escrachantes do cotidiano carioca que não sai nos cartões postais. Não são pra gringo e paulista verem. Mas deveriam.

Tantão é velho de guerra do Black Future. “Eu Sou O Rio”, ele dizia. É mais do que isso: é o Brasil – o Brasil atual, principalmente. Seus dramas, suas incertezas, sua divisão, sua precariedade, sua falta de voz, seu povo amassado e desprezado. Em “Espectro”, o trio parecia mais otimista diante desse quadro. Em “Drama”, lançado pelo selo QTV no dia 31 de janeiro de 2019, o sentimento é de decepção com os rumos políticos e as perspectivas sociais.

“A brutalidade do Estado / A conquista da liberdade / Liberté / Fraternité / Cocainé”, ele descreve em “Sindrome” (participação especial de DEDO), uma síndrome de Estocolmo: somos apaixonados e defendemos a cidade que é cruel conosco. Serve pro Rio de Janeiro, serve pro Brasil.

Um país dividido, um país sem expectativa a médio prazo. A obra enxerga esse cenário, agravado por um recente golpe parlamentar e pela eleição de um messiânico e indizível fascista tosco tropical, como perfeito pra se arrastar pelas brechas gritando e extrapolando a cultura subterrânea e periférica.

“Drama” é menos batidão, é mais sombrio, como nos insinua a faixa-título e as batidas quase imperceptíveis de “Vai Não Volta” e “Música Do Futuro” – reflexo disso? Mesmo assim, o disco avança como serpenteando os espaços inesperados: “Síndrome” é um dub lento; “Adoração De Ídolos” sacoleja; “O Sinistro” acelera subversivamente; e, finalmente, o contundente recado final, com “Nação Pic Pic” mostrando que as minorias não terão vez nesse governo abestado, atabalhoado e, acima de tudo, mergulhado no ódio.

Poeticamente, construtivamente, sonoramente, “Drama” é uma prova de resistência capacitada pras mentes atordoadas com tanta esculhambação lógica dos tempos atuais. O nosso drama é construir uma maneira de virar o jogo. Mas até lá, os dramas de dezenas e dezenas de milhões seguem fazendo volume. Somos drama, bicho. Esse é outro grande disco. Discaço.

“Drama” foi gravado entre agosto e outubro de 2018, no Stúdio Stácio Station, no Rio de Janeiro, Brasil, com produção dOs Fita, Abel Duarte e Cainã Bomilcar (Lucas Pires co-produziu “O Sinistro”), mixagem de Guilherme Marques e masterização de Calyx Mastering.

1. Drama
2. Vai Não Volta
3. Música Do Futuro
4. Síndrome
5. O Sinistro
6. Adoração De Ídolos
7. Nação Pic Pic

Foto do artigo por Patrícia Cavalheiro

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