TESTEMOLDE NO DA LEONI – COMO FOI

O nome do evento é “Noites Café Com Leche”, uma ideia muito boa de juntar duas bandas subterrâneas, e perguntar pro público, ao final, “quanto vale o show?”.

Há outros acertos: a organização foi pontual. Uma hora pra cada banda, começando às 21:30h, dá tempo suficiente pra ir embora de transporte coletivo e, assim, poder tomar uns birinaites no local. O som estava bem razoável, embora baixo pro que exigia a potência de ambos os grupos. E o local é de fácil acesso. O Da Leoni, casa que assumiu o espaço do Studio SP, parede com parede com o famoso Beco 203, fica a poucos minutos andando do metrô.

O esquema “você decide quanto vale o show” pode até se mostrar constrangedor, já que é na boca do caixa, ao pagar a comanda de consumo, que o cliente será questionado. Eu cravei vinte reais, a opção máxima, que vai de cinco reais, aumentando de cinco em cinco, até os vinte. Mas, ao meu lado, alguém, em mímica, olhando pros lados, vendo se alguém não estava observando sua pão-durice (ou falta de verba), gesticulava pra um “menor valor possível”. De qualquer forma, é uma maneira de mostrar ao público que aquilo ali é arte e aquilo tem um valor, não pode ser sempre de graça, como os novos tempos e a Internet nos fizeram crer.

Infelizmente, o público não foi. As quarenta pessoas que compareceram tinham alguma relação de amizade, companheirismo ou familiar com os músicos de ambas as bandas que subiriam ao palco: a Testemolde e a Herod.

O público não foi porque o público paulistano não vai. Pode ser de graça o evento, que ainda assim é caro demais pro paulistano ir ao show. O público em geral não quer conhecer bandas novas, artistas iniciantes, novas frentes musicais. Salvo exceções raríssimas, não há em São Paulo público que se preste a essas aventuras culturais.

Não desmerece a tentativa da organização. Ao contrário. A intenção, bem válida, deu a essa noite quente de terça-feira de fim de inverno uma ótima história pra se contar. E não teve nada de “café com leite”. Foi um negócio sério.

A começar com a Testemolde, que lançou seu poderoso primeiro disco, homônimo, em 2014 (clique aqui). O trio paulistano pode ser chamado sem pudores de “o nosso Helmet”. Batidas secas, marretadas pesadas, com o baterista Guilherme Garcia demonstrando poder pra superar o baixo volume do som local. Além dele, o trio conta com o baixista David Menezes, e o guitarrista (com seus infindáveis pedais) Azeite De Leos, bastante afiados, entrosados, comprometidos.

Com poucas palavras à plateia, a banda foi desfilando as músicas todas instrumentais do seu disco, com as ótimas “TK1” e “999”, passando por “Sofrível” e “Sem Som”. A boa impressão passada em estúdio foi comprovada ao vivo.

Garcia centra tanto as atenções, que é possível apostar que se ele tocasse samba de enredo a bateria se assustaria com tal potência. E ele nem parece fazer tanto esforço. Mas seus parceiros de banda não ficam atrás com seus rifes rápidos sem parecerem estar numa prova de Fórmula 1.

Daí entrou a Herod. É de bom tom evitar a comparação de músicas díspares, mas é impossível, porque quando o quinteto (com a adição de Daniel Ribeiro na terceira guitarra) começa a exibir as linhas e camadas de “Collapse”, “Blinder” e “Umbra”, todas do disco mais recente, “Umbra”, de 2013, você percebe que está diante de um grupo de uma proposta mais impactante.

Enquanto a Testemolde esmurra o peito do ouvinte com porradas sônicas em bloco, a Herod envolve o corpo inteiro com camadas e mais camadas de delicadeza e, subitamente, de noise, esporros e vibração. Talvez funcionasse melhor, se as bandas trocassem a ordem: primeiro a Herod amacia a carne, depois a Testemolde trucida.

Se essa surra não vale ao menos vinte dinheiros, fica difícil estipular o valor das coisas.

Setlist Testemolde
01. TK1
02. 999
03. Wrong Dave
04. At The Refused Drive
05. Sofrível
06. Sem Som
07. Sonho Ríspido
08. Todos Os Dias, Nós
09. Glandula
10. Badalada
11. Geezer

Setlist Herod
1. Penumbra
2. Collapse
3. Crossroad
4. Blinder
5. Silencio
6. Walking The Valley
7. Antumbra
8. Umbra

Veja as três primeiras músicas da Testemolde:

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