THE CHARLATANS – A MÚSICA ALÉM DA FORMA

“Realmente adoramos ver nossas canções representadas de maneiras diferentes”, disse Tim Burgeess, vocalista do Charlatans, em entrevista ao Manchester Evening News. É por isso que a banda cria brincadeiras visuais divertidas (e promocionais), pra além dos videoclipes e entrevistas.

Nos tempos fugazes atuais, o ouvinte é bombardeado por informação acima do que pode absorver, de modo que o artista criar alternativas pra reter a informação na mente do fã é de extrema importância.

O Charlatans começou a dar outras formas à sua música em 2012, com a criação da Tabela Periódica com títulos das suas canções. A peça foi criada junto com o designer Nick Fraser (que fez, entre outras loucuras legais, uma luminária com o mapa do metrô de Londres) e Aiden Smith, e a transformou num pôster vendido em shows – edição limitada, numerada manualmente e assinada por todos os integrantes da banda.

Tim Burgess, no mesmo ano, já havia virado até cereal matinal, como se vê aqui, com apoio de uma importante marca.

A Tabela Periódica foi uma criativa homenagem ao químico russo Dmitri Ivanovic Mendeleev, autor da primeira tabela conhecida (como é representada hoje). Na do Charlatans, os elementos-música estão dispostos e divididos de acordo com os álbuns lançados até o momento, indo até “Who We Touch”, de 2010. Porém, ao contrário da tabela de Mendeleev, que inovava também por deixar espaço pra elementos químicos ainda não descobertos, a do Charlatans não deu espaço pra discos que viriam depois – e já são dois: “Modern Nature” (2015) e o novíssimo “Different Days” (2017).

A tabela brinca com o título de cada faixa, indica a ordem da faixa no disco em questão, dá a duração e mostra se ela ainda toca nas rádios.

Sobre a brincadeira, Burgeess disse à época: “a Tabela Periódica do Charlatans pode não ser capaz de dizer-lhe como criar energia nuclear, mas ela vai te dizer quem fez os vocais de apoio nas faixas de ‘Wonderland’, por exemplo. Quem diria que a ciência poderia ser tão legal?”.


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Já em junho de 2016, a banda resolveu comemorar os 114 anos de Harry Beck (ele é de 4 de junho de 1902), o cara que criou e desenhou o mapa do metrô de Londres, que viria a se tornar um dos desenhos que mais simbolizam a capital inglesa.

Cento e cinquenta das suas músicas viraram as estações que compõem o complexo sistema de trens da cidade.

Aqui, uma ideia ainda mais ousada e igualmente complexa pra buscar uma representação compreensível. Cada linha é um álbum e cada estação é uma canção. Onde as estações são de baldeação é porque a canção está em ambos os álbuns, o que definitivamente não foi fácil de ajustar. As linhas pontilhadas correspondem às faixas bônus. Faixas cortadas por um traço são canções escondidas. Aviõeszinhos indicam que a faixa é importada. Há ainda indicações de singles originais, quais saíram pra download, uma linha só pra produtores e muito mais.

Isso foi possível porque o Charlatans tem algumas coletâneas. Uma delas, inclusive, a “Forever: The Singles”, de 2006, nem precisou ser usada pra compor as estações de integração, de modo que sua capa acabou aparecendo apenas na imagem do fundo do mapa.


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Ainda em 2016, aproveitando o Dia Mundial do Livro (23 de abril), o Charlatans lançou uma ideia que acabou se espalhando: transformou seus álbuns em capas de livros, mais uma vez com a ajuda do designer Nick Fraser.

A hashtag #AlbumsAsBookCovers logo se espalhou e os fãs de música criaram capas de livros com discos do Joy Division, Green Day, Radiohead. Tudo pode ser facilmente encontrado numa busca simples na Internet.

A chamada final, “All The Books That You’ve Been Through” (“todos os livros que você já teve contato”) é um verso de “Just When You’re Thinkin’ Things Over”, do disco “The Charlatans”, de 1995, e curiosamente o verso inteiro fala “E todos os livros que você já leu parecem tristes pra você agora”.

Em 2017, mais uma ideia ótima. O Charlatans transformou todas as canções da sua carreira que que saíram como single em ícones de aplicativos de celular. A intenção é promover “Plastic Machinery”, que foi escolhida pra ser a primeira música de trabalho do disco deste ano, “Different Days”, cheio de participações especiais (conheça aqui).

Assim, temos imagens divertidíssimas, como “Weirdo” virando uma silhueta de Donald Trump; “You Cross My Path” simulando o Maps, do Google; “Mis-Takes”, uma lixeira; “Talking In Tones”, o telefone; “Just Looking”, o Trip Advisor; “Tellin’ Stories”, um e-book; “North Country Boy”, uma bússola; e muitos outros, num total de quarenta e três ícones.

O mais bacana é o de “Sproston Green”, que só diz “CW4 7LN”, que é nada mais que o código postal do estúdio local da banda (clique aqui).

Até um “grupo de aplicativos” foi criado, pra representar o EP acústico “Warm Sounds”, de 2011.

A criação aqui é do designer Ian Read.

O que o Charlatans, afinal, está fazendo é rediscutindo o alcance de sua música.

Sim, no final das contas é só música e é ela que tem valor. Mas no caso da música jovem e popular, é um pouco mais: ela precisa ter atitude (rock/pop stars são raros, porém), precisa dialogar com o público e precisa, acima de tudo, gerar curiosidade pra que o público se aproxime. Os vídeos, os shows, as camisetas, pôsteres, bótons etc. talvez não sejam suficientes. Ajudam, mas criar algo mais pode ser um diferencial interessante. A música ser boa ainda é essencial, mas se ninguém souber que ela existe, que diferença faz ela existir?

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