Muita coisa mudou do show do Rio de Janeiro, dois dias antes, pra este em São Paulo, sábado, dia 6 de abril de 2013: a cidade, o local, o palco maior, o som melhor (dependendo de onde a pessoa estivesse), o público bem maior (quatro vezes maior), a abertura, e até mesmo o setlist sofreu algumas alterações.
Mas o resultado continuou o mesmo da apresentação carioca.
O Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, recebeu mais de trinta mil pessoas pra ver a volta do Cure à cidade, depois de dezessete anos. Porém, a verdade é que a maioria mais ouviu o show do que viu, dada as condições de lotação e configuração da pista, dividida como no Rio entre VIPs e “o resto”, que ficava lá atrás, bem longe do palco. E “o resto” não pagou ingressos baratos, vale lembrar.
A maior reclamação é de que lá no fundo muita gente recebia um som baixo e flutuante, e teve que ver o show nos telões (cujo trabalho de edição e transmissão ao menos foi muito bom). De onde eu estava, o som estava bom: alto, nítido e cheio de vigor – mas era bem na lateral do palco. À maioria, infelizmente, ficou um bocado de frustração com relação à técnica.
Em São Paulo, o show teve uma apresentação a mais, dos gaúchos da Lautmusik, que não haviam se apresentado no Rio de Janeiro. Era a primeira vez que a banda enfrentava tal público. Pela reação das primeiras fileiras, pode-se dizer que se deu bem. O próprio Robert Smith viu o show de um canto do palco e ficou entusiasmado.
A Herod Layne se apresentou logo em seguida e teve uma resposta diferente do show do Rio. No Anhembi, um bocado de gente passou um bom tempo pedindo pra banda sair do palco, enquanto notava-se alguns poucos imersos nas ambiências do quarteto. Até o noise final, extraordinário, mais intenso do que o show de quinta-feira, que deixou a plateia atônita.
Pode-se dizer que Robert Smith acertou na mosca ao escolher pessoalmente ambas as bandas pra abrir seu show: elas tocam alto, fazem barulho e mais provocam do que amaciam.
O Cure foi ao palco dessa vez sem atrasos significativos. Tocou igualmente por mais de três horas, quarenta músicas, com uma leve alteração de set, que se seu apenas nas três do primeiro bis, “The Kiss”, “If Only Tonight We Could Sleep” e “Fight”, e soou mais uma vez arrastado e excessivo.
Quem foi ao Anhembi só pra ouvir os hits penou com passagens que não funcionam bem em grandes arenas, mas conseguiu se satisfazer, porque todos os grandes sucessos apareceram. O coro de milhares de vozes em hits como “Friday I’m In Love”, “In Between Days” e “Close To Me”, por exemplo, foi de arrepiar.
Já alguns trechos realmente morosos ao vivo, como as do ótimo “Disintegration”, de 1989 (com “Pictures Of You”, “Lullaby” e “Fascination Street”), ficam melhor em disco, fazem o espetáculo ficar sonolento, e são um convite à maior praga dos shows, as conversas paralelas intermináveis.
A despeito disso, Robert Smith, já com 53 anos, parece se divertir muito em cima do palco. Sorri a todo instante. Ensaia suas danças desajeitadas e tímidas. Fala pouco, quer mesmo é tocar, entreter, revisar seu extenso e rico repertório. Simon Gallup opera o baixo com vigor, e nem de perto aparenta ter os 53 anos que completará em junho. O quinteto que veio ao Brasil se completava com Roger O’Donnell, Jason Cooper e o grande Reeves Gabrels na guitarra (mais conhecido pelo trabalho com o David Bowie e o Tin Machine e que já havia gravado com Smith no projeto COGASM).
Dá pra entender as escolhas do The Cure. Pelo o que disse nos bastidores, à boca-pequena, a banda não sairá mais em turnês, pelo menos não tão longas e tão longe como essa. Pode ser a última vez no Brasil. Assim, faz sentido querer entregar com tanta vontade e alegria o máximo de canções aos fãs. O caso é que o alongamento não funciona pra todos e chega a incomodar.
Com essa perspectiva, os fãs têm mesmo que agradecer o fôlego de Robert Smith e companhia. Foi uma oportunidade rara e talvez única de muita gente ver ao vivo uma das bandas mais importantes da história, ainda em atividade, em forma, e feliz da vida.
Apesar de todos os problemas de estrutura (o atendimento péssimo na venda de bebidas e comidas se repetiu, como é de praxe em espetáculos de grande porte no Brasil – há quem tenha ficado vinte e cinco minutos pra pegar uma bebida), as piadas em torno da duração do espetáculo (uma “rave gótica”, definiu apropriadamente alguém ao meu lado) e o cansaço final, mesmo com tudo isso, quem é fã de longa data ou quem só quis se divertir com os sucessos da banda pôde aproveitar o programa.
O The Cure, enfim, cumpriu com satisfação sua missão no Brasil. Melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
01. Open
02. High
03. The End Of The World
04. Lovesong
05. Push
06. In Between Days
07. Just Like Heaven
08. From The Edge Of The Deep Green Sea
09. Pictures Of You
10. Lullaby
11. Fascination street
12. Sleep when I’m dead
13. Play For Today
14. A Forest
15. Bananafishbones
16. Shake Dog Shake
17. Charlotte Sometimes
18. The walk
19. Mint car
20. Friday I’m In Love
21. Doing The Unstuck
22. Trust
23. Want
24. The Hungry Ghost
25. Wrong Number
26. One Hundred Years
27. End
BIS 1
28. The Kiss
29. If Only Tonight We Could Sleep
30. Fight
BIS 2
31. Dressing Up
32. The Lovecats
33. The Caterpillar
34. Close To Me
35. Hot Hot Hot!!!
36. Let’s Go to Bed
37. Why Can’t I Be You?
38. Boys Don’t Cry
39. 10:15 Saturday Night
40. Killing An Arab
Veja “In Between Days”:
“Boys Don’t Cry”
“10:15 Saturday Night”
Fotos: Carol Mendonça/XYZ Live
vale frisar o público tbm… não sei se é o estilo dos fãs (fizeram a piada do “galera é gótica se queria o que?” mas achei muito fraco a animação do público em si
a começar pelas bandas de abertura: óbvio que ninguém pagou 300 reais pra ver a banda de abertura, mas a falta de respeito pelo menos das pessoas que estavam próximas a mim foi algo igual ao que eu vi no show do TV on The Radio “abrindo” pro Foo Fighters (no caso era um festival) e o show do Foals abrindo pro Red Hot em SP.
Mas mesmo no show do The Cure a galera parecia meio morna, só gritava quando Smith fazia alguma dancinha, sei lá essa foi minha impressão.
[…] O papel deles acabou. Agora, era ver a atração principal e curtir a memória se formando por esses dias tão especiais. Mas ainda teria mais – e tão emocionante […]
[…] é um retrato bastante fiel (e de ótima qualidade de som) do que aconteceu naquele palco onde minutos depois Robert Smith iria subir e desfilar três horas de hits. A plateia, sedenta por sucessos dos ingleses, ficou embasbacada com o que […]
só agora que vi essa resenha!
fiquei puto c/ os fãs de efeito manada de show, que só curtiam as canções manjadas! mas achei o maximo as 3hs de show, tb pou razões emocionais, que me remetem aos anos bacanas e tristes da minha vida, nos anoas 80!
ñ consegui ve-los nas apresentações anteriores a essa, mas foi o melhor show que ja assisti, na minha opinião!