THE GILBERTOS – ANO

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“Ano” é o quinto disco do The Gilbertos, que chega seis anos depois de “Um Ritmo Novo Vai Nascer”, de 2014 (ouça aqui).

A banda é basicamente Thomas Pappon (que está creditado com voz, violão, guitarra, teclados, bateria, programações) e Samuel Xavier Pappon (baixo), mas ainda tem Lauro Lellis e James McGuinness e Callum Stephens, todos na bateria em canções específicas.

“É um disco sombrio, a cara de 2020 – mas com humor. Cumpriu sua principal função, a de agradar ao maior fã da banda: eu”, brinca Thoma Pappon, em uma rede social, ao anunciar a chegada do trabalho.

“Tô ouvindo direto, com grande orgulho, as dez músicas inspiradas em uma imaginária mistura de Caymmi, krautrock, Barca do Sol, The Cure, Taiguara, Scott Walker, Edu Lobo, Milton & Lô, Sigur Ros, Beatles, Secos & Molhados, The Fall e Nick Cave. Foram vários meses suando a camisa e enchendo o saco de amigos músicos como o querido Lauro, o Samuel, meu filho (que DETONA no baixo), e os outros dois caras da banda dele, o Callum e o James. O álbum foi concluído na semana do acidente da Karla, que sempre foi a musa dos Gilbertos, mas, pelo ano atípico, não nesse álbum. Agora, entretanto, canções como ‘Não Estava Com Você’ e ‘Me Assombre’ ganharam outro sentido”, seguiu.

Karla Pappon é a esposa de Thomas, que morreu de maneira trágica em outubro deste ano, em um acidente de bicicleta, quando pedalava num evento beneficente.

Ao saber da tragédia pessoal de Pappon, ouvir faixas como “Descendo” tomo outro significado: “descendo pela vida / descendo como um deslizamento / descendo / descendo a alameda / descendo como lava sobre o mundo / só descendo / sem saco pra subir /
asa pra voar / vou descendo, descendo / sem força pra partir / casa pra voltar”.

Mas pra quem está de fora e só pode projetar a dor que a família sente, fica um disco deliciosamente saudosista e interessante. Interessante porque Thomas Pappon resumiu muito bem a mistura pretendida e identificada – sim, há Caymmi, krautrock, Barca do Sol, The Cure, Taiguara, Scott Walker, Edu Lobo, Milton & Lô, Sigur Ros, Beatles, Secos & Molhados, The Fall e Nick Cave. Saudosista porque também lembra um Fellini docemente guardado na memória e até mesmo seus “Eurosambas” (vá aqui).

É difícil destacar uma canção específica à primeira audição, mas “A Pisadeira” pede passagem, bem como sua sequência, “Não Estava Com Você”, triste e calma, com versos ainda mais doloridos.

“É provável que ‘Ano’ passe em brancas nuvens, mas torço para que faça pelo menos uma ou duas centenas de pessoas quererem dançar, cantar junto ou ouvir as músicas correndo ou se perdendo pelas ruas da cidade. Deixo minha dica: seja na caixinha acústica da cozinha, no fone de ouvido ou na smart TV da sala, ponha o volume no máximo”, concluiu Thomas em seu anúncio.

É provável que ele consiga mais de duas centenas de pessoas apreciando esta obra. Ok, aqui há uma torcida também. Não só porque eu sou fascinado pelo modo como as pessoas enfrentam tragédias pessoais devastadoras, mas porque o disco se mostrou bastante acolhedor até mesmo pra quem enfrenta outras tragédias ou alegrias, ou outros sentimentos.

Todas as músicas e mixagens são de autoria de Thomas Pappon.

A masterização é de Will Geraldo, no Cantara Lab, São Paulo. A arte, de Clarissa SanPedro.

O lançamento é de 25 de novembro de 2020, pra que 2020 fique um pouquinho melhor.

01. Na Casa Da Candinha
02. Descendo
03. A Pisadeira
04. Não Estava Com Você
05. Fishing
06. Todas Essas Pessoas
07. Rebeca & Oscar
08. Fecha
09. Me Assombre
10. Das Cinzas De Um Vulcão

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