THE PARROTS – LOS NIÑOS SIN MIEDO

O trio madrilenho The Parrots não é exatamente novo – não pros tempos de Internet. Lançou seu primeiro EP, “Aden Arabie”, em 2013 (delicie-se aqui) e o segundo, “Weed For The Parrots”, em junho de 2015 (um disco que você precisa ouvir!), e só agora, em 26 de agosto de 2016, chega ao primeiro disco cheio, esse “Los Niños Sin Miedo”, via Heavenly Recordings.

Se o EP de estreia a banda beirava uns Beatles escrachados, mais garageiros, o som foi “evoluindo” pra algo mais sujo e impertinente aos ouvidos domesticados, sem nunca deixar de ser ferramenta essencial pra animar uma festa cheia de esculhambação.

Diego García (guitarra e vocal), Alex de Lucas (baixo) e Larry Balboa (bateria) se conheceram na universidade, em Madri, Espanha, e o som deles reflete exatamente essa fase da vida, quando, além de estudar, a pessoa tá mesmo preocupada em farrear.

Mas, por outro lado, parece que o público não tá muito afim de ouvir sujeira nas guitarras e escracho na voz. Assim como no Brasil, o Parrots sofreu (e ainda sofre) com o descaso da audiência e da imprensa local. O trio teve que arrumar sua própria turma. Juntou-se num pessoal “das artes” – fotografia, cinema, teatro, música – e foi ganhando volume.

Ao lado de bandas como Los Nastys e Hinds (cujo primeiro álbum, de 2015, “Leave Me Alone”, mais fofinho, foi produzido por Diego e você pode descobrir aqui), o Parrots foi conquistando linhas na imprensa gringa. E ganhou elogios rasgados de vários veículos, como Guardian, Clash e afins.

“Los Niños Sin Miedo” é sobre essa dificuldade de se expressar e fazer sua música num lugar (num mundo, digamos), onde os jovens só querem saber de “indie, indie, indie” ou “pop, pop, pop”: “quando começamos havia bandas indie demais. Ninguém ligava pra gente, nem outras bandas, nem a imprensa, ninguém. Então, seguimos em frente, e as pessoas começaram a ir aos nossos shows, outras portas se abriram; agora as pessoas estão falando sobre uma cena em Madri, e a gente meio que ‘fodam-se todos, vocês nos ignoraram por tanto tempo’, então a gente continua com nossos amigos. Não tememos nada. Somos sempre rock’n’roll até o fim, o máximo que a gente puder”.

O disco foi gravado em Cádis, com um engenheiro de som chamado Paco Loco (pra se ter uma ideia). Durante o processo de mixagem, com Mikey Young, que refinou “No Me Gustas, Te Quiero”, a banda descobriu que podia ir mais longe nas distorções e sujeira. Queriam mais e mais!

O resultado são essas dez canções de “Los Niños Sin Miedo”, que soam como se estivéssemos em alguma garagem mirrada nos anos sessenta, diante de um 13th Floor Elevator mais suave, com um Iggy Pop sem pose, de um Cramps ou People’s Temple domesticado, mas com uma leveza pop que distancia a banda de qualquer um dessas referências imediatamente. É blues, é surf rock, é pop, é garage, é punk. A arte da capa não deixa dúvida em que época o coração desse trio bate.

“Let’s Do It Again” é sobre inconsequência adolescente, numa letra ótima, se você conseguir seguir o vocal desmiolado de Diego, que ora cantas em espanhol, ora nesse inglês (“If you beat down someone for no reason at all / if you drink too much and I have to carry you home / when we took the strongest acid that a human can stand / As long as it is with you I say: let’s do it again!”):

“Jane Gumb” é Cramps mergulhado num taque de água suja, tentando se salvar do afogamento, com ótimas doses de adrenalina diante do fim iminente:

Talvez o único desafio do Parrots seja lidar com o assédio que provavelmente virá a partir da turnê por festivais que terá daqui pra frente. A crítica europeia se derrete com eles, esperamos que a diversão não se derreta junto. É pra viver tudo sem medo.

01. Too Hight To Die
02. Let’s Do It Again
03. No Me Gustas, Te Quiero
04. A Thousand Ways (clique aqui pra ver o vídeo)
05. Jame Gumb
06. Casper
07. E.A. Presley
08. The Road That Brings You Home
09. Windows 98
10. Los Niños Sin Miedo

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