Eis um disco sobre o qual eu queria há muito falar (e não importa quando você esteja lendo isso). O trio paulistano The Pessimists (há outros The Pessimists mundo afora, fique atento apenas ao compatriota) é uma daquelas extasiantes incógnitas, embora o som seja de fácil identificação mental e corporal.
Vamos por partes. O trio é formado por Natha (bateria, também da Rakta), Mila (baixo e vocal) e Frf (guitarra e vocal). Lançou dois discos, ambos com menos de dez minutos de duração: “In The Beginning There Was...” (janeiro de 2015, ouça aqui) e esse “Six Songs”, em 4 de março de 2016, pela sempre certeira Nada Nada Discos.
Não é um punk do tipo “um, dois, três, quatro – porrada e cuspe”, com letras estilo voadora-adolescente-no-sistema. O Pessismits faz letras em português e inglês e elas apresentam uma poesia um tanto existencialista: “O isolamento tenta calar / O verdadeiro medo de mudar / O retrocesso de seguir em frente / O fracasso em sua mente”, em “O Piano”; “O corpo é só matéria / Massa que some e que soma / Carregamos o peso / Que não enxergamos”, em “Podridão Invisível”; “City with no existence / Deadly Sins / Too predictable”, em “Down And Out”.
Há também um pouco de inconformismo (nada adolescente), como em “Daily Suicide”: “Just another sunny day / Lots of bills to pay / They can’t stand the weight / Jumping out the window, nothing else to pay”.
Tampouco é um pós-punk em suas múltiplas vertentes. É um pós-punk-de-garagem, urgente na sonoridade, anti-escapista na mensagem. O mundo, cruel desde sempre, pré e pós-punk, ainda merece umas voadoras, mas o Pessismists achou por bem analisá-lo e jogar o jogo da compreensão. Se deu bem. Assim, escapa da insensatez e da reles explosão de hormônios adolescentes (que, veja, não é de se desprezar, apenas é passageiro).
Há recado até no nome da banda. O pessimismo da idade adulta é a resposta às promessas que o sistema de imposição meritocrática dá àqueles com menos oportunidades: “estude pra ser alguém”. Bem, isso não funciona com todo mundo, né? As contas e a pressão social chegam e tem gente que se joga da janela por conta disso.
Nem todos sabem lidar com a situação, mas o Pessimists transformou a frustração pós-adolescente em fúria sonora. A linguagem punk (de garagem) tira o peso de qualquer análise mais profunda que o tempo venha dar. As pessoas crescem, amadurecem e vão ter lá a sua vida, com o sucesso de medida subjetiva – o trio olhará pra trás e se verá como ingênuos, bobinhos, adolescentes ou como uma fase da vida bem divertida?
As seis músicas e suas poesias aqui não dão uma resposta tão clara. O pessimismo pode ser tanto um estado de espírito passageiro quanto uma característica inerente da pessoa. Pode ser até algo lógico, dirão os “realistas”.
Se o lance for viver o momento, o Pessimists estão cumprindo muito bem o papel. Depois, se engolidos pelo sistema – casados, com filhos, com boas carreiras, ou coisa que o valha -, os integrantes poderão responder se o pessimismo foi passageiro e se a vida ainda merece um pouco de otimismo e esperança.
Ouça:
De acordo com as notas do disco, a bateria foi gravada em 8 de janeiro de 2016, no Tyranossom Studio, em São Paulo, por Ricardo; enquanto os vocais, a guitarra e o baixo foram gravados em 11 de janeiro de 2016, no Estúdio Quadrophenia, também em São Paulo, por Sandro Garcia. A mixagem é de Pedro Carvalho e a master, de Daniel Husayn (North London Bomb Factory Mastering, Londres).
1. O Plano
2. Mask And Uniform
3. Going Nowhere
4. Podridão Invisível
5. Down And Out
6. Daily Suicide