THE RAVEONETTES NO SESC POMPÉIA – COMO FOI

Estava em Curitiba, em 2005, quando o Raveonettes se apresentou pela primeira vez no Brasil. Inesquecível. A primeira vez é assim. Mas tendo na memória a decepção do Belle & Sebastian, semana passada, pensei que a história se repetiria. Tinha tudo para acontecer: o SESC até tentou, proibindo a banda de tocar na altura que todos esperavam.

“Infelizmente não podemos tocar tão alto quanto gostaríamos, mas estamos fazendo o possível”, avisou o vocalista Sune Wagner, logo no começo. Um certo lamento pairou no ar.

No começo, tudo se encaminhava para a decepção. Músicas que são cheias e barulhentas em disco, no palco estavam pálidas, parecendo um daqueles showzecos de MPB que pipocam aos montes em barzinhos brasileiros.

Só que ali estava o Raveonettes, que, se nunca chegou a arrepiar os críticos e “modernos” da gringolândia, como um Belle & Sebastian e Arcade Fire fazem, tem fãs fiéis e sabe como agradá-los. “Let’s Rave On” foi o sinal que as coisas iriam melhorar. E melhoraram mesmo. A sequência de “Dead Sound” e “Break Up Girls!” aumentou a distorção e a barulheira e os quatro (Sharin Foo e Sune Rose Wagner, mas o baterista-em-pé Adrian Aurelius e o baixista Jens Hein) mostraram o que podem fazer com melodias simples, de poucos acordes, e um tanto de minimalismo.

Veja “Dead Sound”:

E veja “Break Up Girls!”:

Uma banda tem que saber o seu tamanho. O Raveonettes tem o tamanho para shows como esse, no SESC Pompéia. Mil pessoas no máximo. Estádios ou eventos gigantes como o Planeta Terra, SWU e afins, colocariam a banda numa cilada, como aconteceu recentemente com o Yo La Tengo.

Aqui, eles foram os donos da situação, mesmo que os entraves de som tentassem impedi-los, porque num espaço desses estão as pessoas que realmente gostam e acompanham a banda, que “lutaram” para estar ali – poucos ingressos à venda exigem esforço mais dedicado dos fãs.

O Raveonettes sabe o seu tamanho. Então, fica mais fácil. Poderia, num arroubo de fantasia, tentar dirigir-se a cada fã pelo primeiro nome, ou pelo apelido. A simpatia fria dos nórdicos explode num misto de luzes estrobo, guitarras chiadas, bateria fora de andamento, vocais doces e alguns sorrisos. É possível achar que são para você. É possível achar que a banda toca para você e para mais ninguém.

Daí que “Heart Of Stone” fica ainda mais bonita ao vivo:

Daí que a banda escolheu virar o jogo do som baixo com petardos ensurdecedores do “Lust, Lust, Lust”, seu disco mais barulhento. Veio “Blush”:

E veio a magnífica “Aly, Walk With Me”:

Quem faz barulho como eles hoje? Só não fizeram mais porque não podiam. Os irmãos Reid devem estar orgulhosos dessa cria.

Quando a banda começa “Last Dance” e manda “That Great Love Sound” para arrematar a noite (de uma hora e vinte e quatro minutos de show), cada um pôde se sentir em casa, íntimos do Raveonettes, com o sorriso no rosto e gratos por estar com o ouvido zunindo.

A bela Sharin ainda distribuiu beijos e autógrafos e fotos, após a apresentação, já do lado de fora, como uma cereja do bolo.

Não há decepção aqui. Nenhuma. Em dois shows, 100% de aproveitamento.

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