André Barreto e Lucas Castro são as cabeças que criaram o THE VACATION PROJECT. A dupla lançou um EP em 2015, auto-intitulado (ouça aqui) e, em 28 de março de 2017, seu primeiro disco cheio, “Cosmos”.
O que faz de “Cosmos” uma obra especial é a inusitada mistura de “rock viajante” (perdoe-me, leitor, pelo termo vago) com ambient e post-rock, encorpada com a baixa qualidade (proposital ou não) da captação. Esse molho lo-fi (mais uma vez, involuntário ou não) dá ao projeto uma cara única, atraente, pra tirar um tanto a possibilidade do “mais-do-mesmo”.
A bem da verdade, “Cosmos” tem muito pouco de unidade teórica e de estilo. O ouvinte pode viajar do rock oitentista (com vocais) de “Duchamp” ao ambient de “Interlúdio” e “Sheppard”, e do new romantic de “T24A” ao minimalismo radioheadiano de “NANOKID” e ao post-rock sujo de “2015 Tá Acabando” e “Cat Funeral”, por exemplo.
A dupla costuma dizer que fazer/ouvir música é como tirar férias da vida. É uma forma de escape. Pode ser. A música do The Vacation Project se encaixa bem nessa definição, que obviamente não é nem pode ser única – há música pra toda situação, pra todo sentimento, é evidente. Entretanto, entender a própria obra, com um propósito profissional ou amador (tanto faz), com intenções diversas às percebidas pelo ouvinte, é entender a própria condição como artista ou como ser criativo.
“Cosmos” não pretende responder a nenhuma pergunta não realizada. Não se antecipa. De fato, olha bem mais ao passado, mesmo que esteja com o pé no futuro. O universo do Vacation Project é um desconhecido distante, mais baseado em experiências palpáveis e terrenas do que em imaginações e suposições, o que o torna algo bem restrito, embora aberto à expansão. Tantas dualidades é porque a banda tateia o máximo que é possível experimentar nessas nove canções.
O disco encerra-se com a implosiva faixa-título, distante e de certa forma caótica. Ela não tem uma identidade específica e acaba sublinhando de forma categórica o que é a sonoridade da banda. O cosmos da dupla segue se expandindo, a depender desse epílogo. Ao contrário das férias mundanas, aqui temos um início sem fim definido.
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Todas as músicas foram escritas, executadas, produzidas e gravadas pela dupla. Mas o disco tem algumas participações, como Victor Cupertino (nos vocais de “Duchamp”); Daniel Barreto, na bateria de “Duchamp” e de “Cat Funeral”; Darren King (do Mutemath), na bateria de “2015 Tá Acabando”; e Pedro Mello, no baixo de “Duchamp”.
1. 2015 Tá Acabando
2. Cat Funeral
3. NANOKID
4. Duchamp
5. Interlúdio
6. Sheppard
7. T24A
8. Cemol (Zuppa)
9. Cosmos