“Triângulo” e “Banho De Cavalo” começam dando um nó na cabeça do ouvinte. De Rondônia, Porto Velho, o quinteto Tuer Lapin destroça lógicas em dois temas que nada têm a ver em si, distribuindo peso, distorção e clima misterioso em doses equivalentes. O ouvinte se empolga.
É assim que “Banho De Cavalo”, o terceiro disco do grupo, lançado em 29 de novembro de 2017, pelo selo local Desmanche, se apresenta. Mas não é um disco “comum”, é uma trilha – a trilha pro curta-metragem de mesmo nome, dirigido por Francis Madson e Michele Saraiva (veja na íntegra abaixo).
“O título vem de uma expressão que eles (os diretores) ouviram aqui no interior de Rondônia, que tem a ver com se colocar no lugar do outro após algum tipo de experiência, tipo como se você toma um banho de cavalo, você começa a enxergar como um”, diz Ramon Alves, um dos integrantes da Tuer Lapin.
O disco ganhou vida própria, pra além do curta. “A gente viu que era um material interessante, algumas coisas não foram pro corte final do filme, e a gente pensou em lançar, organizamos certinho e lançamos”, diz Alves.
Conforme o disco avança, o ouvinte percebe que a unidade de “Banho De Cavalo” é justamente a amplitude de espectro alcançada. Da clima etéreo de “Triângulo” e da porrada da faixa-título, a banda chega a um experimentalismo sombrio em “Macária” e à estranha e inclassificável “足軽のタイヤは、TO馬はどうしますか？”.
“Essa música veio de uns improvisos que a gente fazia, e, pra terminar, peguei uns acordes emprestados de uma música da Macintosh Plus (a estadunidense Vektroid, em ‘Floral Shoppe’, de 2011 – a canção emprestada em questão é ‘リサフランク420 / 現代のコンピュ’, ou ‘Risa Furanku 420 / Gendai no Konpyū’). Aí, é uma tradução no Google Translator de ‘se a infantaria te cansa, o que cavalos farão?’ – ‘If footmen tire you, what will horses do?’ é um filme lá de 1972 retratando comunistas como seres sanguinários e tal, bem tosco”.
A Tuer Lapin percorre estilos e se destaca pela estranheza. Por isso, não é um disco fácil. Não é contemplativo, não é pra bater cabeça, não é pra dançar ou assoviar. Ele é tão inusitado quanto imaginar um banho de cavalo, o que pode ser uma surpresa, no mínimo, curiosa.
Ouça na íntegra:
Todas as músicas foram escritas, executadas e produzidas pela banda, que gravou no Estúdio Haikai, Covil Do Batera e na Unidade Móvel, em julho de 2016. A mixagem e masterização têm assinatura de Hugo Borges.
1. Triângulo
2. Banho De Cavalo
3. Belial
4. 47
5. 足軽のタイヤは、TO馬はどうしますか？
6. Macária
