UMA NOVA VISÃO: A PLACE TO BURY STRANGERS NO BECO SP

O show do A Place To Bury Strangers em São Paulo foi tão espetacular que pensei ter sido apenas comigo. Eu podia estar inebriado, coisa de fã cego, desses que aplaudiria até peido pós-feijoada de seu ídolo.

Lendo os comentários na Internet, percebi que não estava sozinho nessa euforia. A percepção dos outros presentes foi a mesma: foi um dos shows do ano (andam dizendo que rivaliza – e perde por um focinho – com o Mogwai no Rio de Janeiro).

Mas não queria que uma única visão planasse sobre o espetáculo. Pedi ao amigo Renato Malizia (autor da coluna Noise Waves, aqui no Floga-se), fã assumidamente xiita da banda, que contasse como foi a experiência pra ele. Eu tinha certeza que ele corroboraria a minha resenha, mas a noite dele não terminou tão tranquila como a minha.

Na volta pra casa, ele tomou uma fechada, teve que desviar repentinamente e acabou destroçando seu automóvel num poste. Prejuízo absurdo – e ele ainda foi parar no hospital. Nada tão sério, ele está muito bem e coisa e tals. Mas é o tipo de coisa que estraga o dia de qualquer um.

Não nesse caso. Em noite que tem A Place To Bury Strangers, corpo e alma acabam protegidos.

ESTAMOS TODOS SALVOS
Texto: Renato Malizia
Foto de abertura do post: Denise Machado (tirada da galeria oficial do Beco SP)
Fotos: Fernando Lopes

Por que cargas d’água um cara no auge dos seus 37 anos, depois de anos e anos indo a shows e tudo mais, sobe ao palco (1ª vez), reverencia a banda, olha pros seus amigos insanamente e se joga como se o mundo pudesse terminar naquele exato momento?

Esse sou eu mesmo. A banda, A Place To Bury Strangers. A data, 11 de julho de 2012. O lugar, o Beco, em São Paulo. A música, “I Live My Life To Stand In The Shadows Of Your Heart”.

Desde que saí de casa na quarta-feira, sabia que algo iria acontecer, tinha plena certeza de que não voltaria da mesma forma – e não voltei, muita coisa aconteceu…

Eu e meus amigos, já na entrada do Beco, estávamos todos ansiosos, tensos, com um frisson extremamente acima do normal.

Poucos presentes no local, afinal depois do fiasco do Radio Dept., creio que muita gente ficou com receio. Mas quem foi sabia o que iria acontecer quando o APTBS aparecesse… Estávamos apenas no aguardo.

E, finalmente, após longa espera, Oliver Ackermann, pra meu deleite, sobe ao palco e fica bem à minha frente. Parecia pessoal o negócio. “Into Your Heart” inicia, todos pulando e os estrobos no palco fizeram com que a apresentação que tinha tudo pra ser doentia, ficasse completamente caótica. Foi exatamente isso que aconteceu. Porque a partir de “Deadbeat” o show tomou proporções alucinógenas e sombrias.

Oliver e o APTBS fazem a música atual parecer cantiga de ninar. A atroz guitarra e os pedais de Oliver gritam, urram, esperneiam, infernizam e provocam, no seu mais puro sentimento. O poder de extravazar a força da música do APTBS vem dele, um mestre. Um desfile de canções perturbadoras foi o que se presenciou no Beco naquela noite.

“I Live My Live To Stand In The Shadows Of Your Heart” foi o ápice caótico e devastador. O baixista Dion simplesmente caminhou do palco até a plateia com seu baixo, não havendo mais limites entre público e banda. Todos – e eu estou no meio – abriram uma gigante roda e o fim do mundo parecia estar prestes a se apresentar. A insanidade estava latente.

Oliver, dali de cima, nos contemplava com sua máquina destruidora de tímpanos, e quando Dion retornou ao palco com nossa ajuda, algo demente aconteceu, parecia um desafio perturbador. Meus amigos e ilustres desconhecidos olharam pra Oliver e este nos olhava desafiando nossos instintos selvagens e doentios – sua guitarra berrava ruídos. Aceitei o desafio e subi ao palco, reverenciei o mestre e pulei pro final dos tempos…

Mas meus amigos me salvaram, aliás Oliver me salvou… Não, não: o APTBS salvou todos as almas presentes com espaço pra derradeira “Ocean”, uma obra-prima de ruído branco.

Fim de noite, todos desnorteados e felizes, graças ao lugar onde se enterram estranhos…

E, estranhamente, na volta pra casa, a doentia noite ainda teria espaço pra batidas de carro, hospital, calmantes e muito mais. Tudo isso aconteceu de fato comigo.

Só que eu já estava salvo. Obrigado, Oliver.

Veja vídeos da apresentação, setlist e mais fotos,clicando aqui.

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Comentários

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5 comentários

  1. Estava presente entre todos os mosh no show e pra mim foi um dos melhores shows desse ano!!!!!! abs!!!!

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