VERJAULT – THE TOPLOADER CHRONICHLES

A Igreja Católica foi implacável ao moldar séculos de gerações com a ideia de que o sexo é algo sujo, proibido e com o único propósito da procriação. Pra mudar esses conceitos, mesmo em tempos em que conceitos são derrubados como colunas de dominós, precisa-se de um esforço ainda maior.

A Internet faz sua parte, com uma oferta incalculável de vídeos, fotos e manuais de todo o tipo de prática e fantasias sexuais. Do desejo pra prática há um enorme caminho a percorrer pra algumas pessoas, mas muitas estão colocando na mesa (ou onde quer que queiram) seus sonhos e gozando uma vida mais livre e satisfatória.

Sexo é vida, diz o comercial de televisão, e pelo visto a mentalidade vai mudando. O ideal é que a culpa implantada no gene pela igreja fosse extirpada de vez, e toda e qualquer prática de amor fosse respeitada e aceita, por mais estranha que possa parecer.

Culpa. É essa a linha que separa a intenção da prática e é uma baita barreira, está mais pra um Muro de Berlim inderrubável. O Verjault, do Rio de Janeiro, em seu “The Toploader Chronichles”, mostra o atrito entre um lado e outro dessa barreira, muitas vezes vividos pela mesma pessoa. O ruído não é à toa. Ele também não é qualquer. O propósito das manipulações dos sons é distorcer a realidade de uma maneira surpreendentemente fluída.

Se há uma conceitualização de que o noise tem similaridade crua entre si, Vejault impõe um contra-argumento. Seu noise é manipulado como se aproximasse de uma guitarra em longa distorção e só. Um drone-shoegaze que não é nem um nem outro. É uma passagem dolorosa, com consistente oposição. Entretanto, é insistente, doa o quanto doer.

Atravessar o muro da culpa e realizar desejos, no durante e no depois, não pode ter outro tipo de sonoridade a não ser essa. Não pode ser quebradiça e destrutiva. Tampouco pode ser doce e entremeada com silêncios. Não pode ser assimilável, nem tão impenetrável. A música do Verjault neste disco consegue esse equilíbrio sutil.

Pra quem ouviu o trabalho anterior, “Bass Relief” (vá aqui), baseado em distorções de baixo e bateria, a diferença pulsa. O disco lançado em abril de 2018, não muito distante de “The Toploader Chronichles”, coloca-os em perspectiva e demonstra a capacidade do artista em atuar com sons apropriados à mensagem.

Derrubar barreiras é um exercício que demanda uma fé quase religiosa. Um trabalho de longa duração. Longe da música comercial e aceitável, a tática é alimentar aos poucos uma lógica de aceitação. Tal e qual certos desejos sexuais.

“The Toploader Chronichles” foi lançado em 2 de maio de 2018, de maneira independente, no Bandcamp do artista. A execução, gravação e produção são do próprio Verjault.

1. Bukkake Underdrop
2. Toploader
3. Golden Shower Boy [The Gerogerigegege]
4. Chanson Frottage
5. Antaris

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