VICTIM! – D.

“D.” é o décimo-primeiro trabalho de Cadu Tenório assinando como VICTIM!, mas não exatamente. A obra lançada pela Seminal Records, no dia 21 de setembro de 2017, vem assinada apenas como V! e não VICTIM!.

“Eu passei dois anos sem lançar nada com o projeto, já se passaram uns bons anos desde que o VICTIM! deu as caras. Na época, os dois últimos discos que produzi como tal, ‘503’ e ‘Pupila’ (de 2014 – ainda há o ‘Pertuis’, de 2015) possuem o resultado que sempre esperei. Dentro das limitações de um projeto que use power electronics e noise como referência eu meio que fui a um ponto onde achei que havia chegado no limite, não seria justo lançar nada com o projeto sem ter uma nova ideia que fosse realmente complementar”, diz Cadu.

“O projeto vinha me perseguindo com as notícias diárias, a situação limite a que todos estamos sendo impostos quase como expectadores forçados em todos os lados. E algumas dessas situações bem emblemáticas mexeram bastante comigo. O power electronics ‘clássico’ sempre teve os subjects bem definidos, explorar o imagético de crimes, assassinos em série, coisas do tipo. E o material que temos no país é bastante rico nesse sentido… Mas eu escolhi o nome VICTIM! pela ideia boba de dar vazão ao ponto de vista da vítima… O nome inclusive ganhou letras maiúsculas e um ponto de exclamação por já existirem inúmeros projetos e bandas com o mesmo nome. Conforme essa coisa do projeto foi voltando, ideias vindo, comecei a desenvolver algo, mas sinto que é um momento bem distinto e que consegui ideias novas e com mais urgência. Não queria dar o projeto como morto, porque mal ou bem ainda é uma continuação, por isso resolvi que o nome seria apenas V!, não mais um nome necessariamente em inglês, mas se você preferir ainda pode chamar de VICTIM!”, que é o que o artigo aqui faz, pra situar o leitor.

O VICTIM! – ou V! – é a faceta mais “extrema” de Cadu, dentre todos os seus projetos paralelos, que não são poucos. Mas em “D.”, o som ficou mais denso e menos agressivo. “É um disco bem triste”, ele aponta. “Quando comecei o VICTIM!, usava muito dos meus problemas pessoais, que eu vivi; ‘Lacuna’ fala do desgaste de muitas horas de trabalho e de sobre adquirir uma ‘consciência de classe’. Dessa vez, estou exprimindo a partir das coisas que me atravessaram e mexeram comigo. Aqui, Dandara, travesti morta no inicio do ano (leia aqui o tenebroso caso), é uma notícia que mexeu muito comigo”, explica.

Além de Dandara, outra dedicatória do disco é pro romancista e dramaturgo japonês Yukio Mishima, pseudônimo de Kimitake Hiraoka, morto de forma dramática em 1970. “Um dos livros que mais me emocionaram na vida é o ‘Confissões De Uma Máscara’ (‘Kamen No Kokuhaku’, de 1948), relato sobre homossexualidade mais sensível que já li. Embora (Mishima e Dandara) sejam personagens distintos ambos me emocionaram de forma quase dolorosa com seus relatos e com as dificuldades que tiveram pra ser quem são”.

“D.” tem apenas duas faixas, ambas executadas e mixadas pelo próprio Tenório, com masterização de Emygdio Costa. Você ouve na íntegra aqui:

1. A
2. B

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