A Rede Globo trata o Carnaval e o Futebol como seus produtos principais. Não é pra menos. Jornalismo e dramaturgia fizeram a fama da emissora, mas não rendem uma poeira do que rendem esses dois eventos.
No caso do Carnaval, pra quem gosta de samba como eu, ganha o espectador, que pode ver matérias emocionantes, como a clássica série “Carnaval no Céu”, do Marcos Uchôa, e essa aqui, de Sandra Moreyra, exibida na manhã de hoje, no Bom Dia Brasil.
Os bastidores da gravação de um dos discos que mais vendem no Brasil renderam essa matéria que vai na alma do povo carioca – com boas extensões por todo o Brasil, onde me incluo, já que não sou carioca: a paixão pela música popular, o amor pela bandeira da comunidade, a ponto de incentivar a falta ao trabalho, de ser anônimo em prol de algo que acredita ser maior, de ficar na história.
Os sambas de enredo são a maior expressão da música dignamente brasileira, que é o samba, carregando as tradições das primeiras décadas do séculos passado, mesmo que hoje sejam puro negócio, cifrões e espetáculo hollywoodiano. Não, não é isso. O espetáculo dura dois dias, mas a música fica. E são incontáveis os belos sambas de enredo que se mantém vivos até hoje e que vão viver por muito tempo.
Eles nascem no meio do ano, por mãos e cabeças de “anônimos” (entre aspas, porque há nomes de compositores que são mestres no assunto e conhecidíssimos pra quem vive do samba e ama o samba), ganham corpo e coro nas eliminatórias e ensaios das escolas, e tomam forma comercial nessa gravação: o CD dos Sambas de Enredo do Carnaval do Rio de Janeiro.
Se ao chegar nas prateleiras das lojas, o formato cheire a pasteurização, na alma ele ainda é do povo. Os ritmistas não vivem só disso, as coristas também não. Arranjadores, puxadores, compositores, sim, eles estão “no negócio”, mas o coração de tudo, o que pulsa mesmo, o que dá a chancela de qualidade não são os críticos, nem eu, nem você, os ditos “formadores de opinião”, ele está e vive no povão, da classe mais baixa aos endinheirados vindos do país todo e de várias partes do mundo. Eles querem se divertir, ver espetáculo, fazer a festa, curtir, esquecer os problemas, cantar, dançar, ser feliz – tudo isso está aqui nesse disco, ou pelo menos deveria, com a apoteose na terça-feira de Carnaval.
Há um pouco disso tudo nessa matéria – da precisão técnica à diversão. Tudo é dinheiro, tudo é festa. Esse é o Brasil que sabe se vender como ninguém: