VÍDEO: LUPE DE LUPE – HOMEM

“Distância”, se você perdeu o fio da meada, é o EP sucessor do bom disco de estreia da Lupe de Lupe, “Sal Grosso”, de 2012. E é um trabalho, acredite, melhor do que o anterior.

O EP está mais ousado musicalmente, com mais noise, sem se preocupar em agradar gratuitamente. A aproximação entre MPB e experimentalismo noise aumenta a ponto de quase se confundirem. “Homem” é um bom exemplo.

A faixa lida com o tema da homossexualidade, o que não é, sabe-se, um tema muito adocicado ainda nos dias de hoje (tidos como “modernos” e “sem preconceitos”). Não, “Homem” ainda choca.

Vítor Brauer fala sobre a faixa: “não acho que uma música dessa precisa de muita explicação. Apesar dos meus ídolos fazerem músicas misteriosas, o Jair Naves por exemplo, o Chico Buarque, o Bob Dylan e até o Renan da nossa banda, as minhas músicas são muito transparentes. ‘Homem’ é o que é: uma música sobre amizade, amor, preconceito e distância. Não é um manifesto, não estou tentando ser panfletário ou tentar atingir o público gay, a nossa banda tem quase uma totalidade de ouvintes heterossexuais e isso não vai mudar com essa música. Mas mesmo heterossexuais, ‘o que nos resta a fazer é empurrar todos os limites da extensão do nosso próprio olhar’. É preciso falar sobre esses sentimentos e essas experiências, justamente por ser raríssimo no nosso meio e na nossa arte lidar com esse tipo de coisa, para enfim dar humanidade a esses sentimentos. Não deixar no plano do exótico e sim trazer pro plano do pessoal e do humano. O distanciamento num relacionamento acontece por muitos motivos, mas é muito triste e complexo quando é por causa de opções sexuais, raça, cor ou gênero. E isso acontece no mundo, então a gente tem de lidar com isso. A arte no fim das contas serve pra quê, afinal? Pra ir pra frente e só”.

Eis que o diretor Jonathan Tadeu, com a câmera ligada em estúdio, despiu a banda, que mostrou seus dorsos nus, ainda mais provocativa dentro do tema, e jogou um olhar bastante inquieto sobre os integrantes, resultando em algo tão enérgico quanto punk, visceral, desabafo, escarro.

O clipe de “Homem”, que você vê aqui no Floga-se com exclusividade, foi gravado ao vivo no Estúdio Casa Antiga, em Belo Horizonte, onde “a Lupe de Lupe tocou com o apoio do projeto experimental ‘Corpo de Baile’. Projeto que nessa formação contou com Matheus Fleming, da banda Câmera, André Persechini, da banda Cães do Cerrado, Tiago Gomes, da banda Quase Coadjuvante, e Fernando Bones, da banda Aldan. A música foi mixada no estúdio caseiro da própria Lupe de Lupe”, de acordo com Brauer.

A escolha de “Homem” pra tema do vídeo tem uma explicação baseada no “risco”, mais uma vez de acordo com Brauer: “é mais arriscada; e sempre que você faz essas músicas mais arriscadas, você não sabe se a galera vai gostar ou não, se eles vão levar a sério ou não, e o povo pirou na letra de ‘Homem”. Apesar de tudo, o noise e a barulheira continuam sendo mais populares do que uma letra dessa em português, na nossa música nacional. É foda, uma letra dessa é como falar sobre cultura negra no meio duma cidadezinha do sul onde não tem nenhum negro, é complicado”.

Letra, música e vídeo. A Lupe de Lupe ousa em todas as frentes e o resultado você vê aqui:

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