VÍDEO: TRATAK – ORQUÍDEAS

Não dá pra contar a história deste vídeo, sem contar o seu entorno, o nascimento da música, o momento emocional do seu criador, Matheus Bersotti, o homem que dá vida ao Tratak.

“Orquídeas” está no excelente primeiro disco do Tratak, “Agora Eu Sou O Silêncio” (que você pode e deve baixar de graça aqui).

O próprio Matheus conta, num extenso relato, como se deu a criação da canção e o porquê de escolhê-la como primeiro vídeo do álbum:

“O disco foi feito basicamente em duas partes… Pré-produção e gravação no estúdio… Na pré, gravamos tudo que tem no disco só que na sala do meu apartamento. Depois, refizemos no estúdio. Durante a pré-produção, pode-se dizer que eu andava meio perturbado e triste, e de fato quis desistir de gravar pelo menos umas cinco vezes. Sempre amparado pelos produtores Fernando Rischbieter e Heitor Dantas Neto, mas principalmente pelo Elson Barbosa (da Sinewave Label). Então, durante a pré, houve um período em que fiquei cerca de doze dias sem produzir. Era fim de ano, e eu por fim andava meio com medo porque um psiquiatra idiota tinha me dito que ia me internar à força. Fiquei uma semana numa ilha isolada no litoral do Paraná e voltei pra continuar a pré em São Paulo. Mas mesmo assim voltei e continuei completamente improdutivo. Ficava direto trancado no quarto, dormindo e lendo. Às vezes, o Heitor trazia comida e sempre falava: “rapaaazz… a gente precisa voltar a produzir, tá tudo muito atrasado”. Eu dava um perdido e continuava ali. Um dia, me irritei com a cobrança, fui até a sala, talei o apm e um pedal de reverse delay, pedi pra ele colocar pra gravar e sair. Dei uma boa surra na guitarra antes de começar a tocar – que são os ruídos no início da música. Depois cantei bem livre. Ficou tão natural que não tivemos como regravar no estúdio. Inclusive, no fim, ouve-se a porta abrindo: era o heitor voltando da cozinha pra me perguntar se eu já tinha acabado. Depois, no estúdio, gravamos um coro fúnebre, cantando eu, Heitor, Fernando e Rafael Cavalcanti. Por isso tenho um carinho enorme por “Orquídeas”. Essa música é o registro do inferno astral estabelecido durante a produção. Teve dias que o Yury Kalil disse que era melhor eu ir pra casa… E me mandou embora do estúdio. As gravações foram pausadas uma semana de tanto que a minha perturbação emocional incomodava os demais… (ri) Mas foram todos uns queridos, verdadeiros amigos acima de tudo. Por isso tenho esse disco como de todos (eles)”.

Matheus ainda contou que tentaram, sem citar quem, persuadi-lo de fazer o clipe exatamente desta canção. “É estranha”, “é cheia de ruídos”, alegavam. Mas eles insistiu na ideia de que é “Orquídeas” a que melhor traduz o sentimento naquela época: “foi (escolhida) por ser a mais sincera (do disco), a única que não fizemos no estúdio e usamos a pré original, é aquela que tem registrada a verdadeira angústia que imperava durante a produção”.

A direção é de Gustavo Starke, com imagens de Farley Hillesheim, Starke e Bersotti, com roteiro de Bersotti, filmando numa casa abandonada perto da casa de Matheus.

O resultado é abstrato, mas faz jus à música e essa vibração que a envolve. Não há criação sem dor, sem suor, sem abalo, sem esgotamento. Veja:

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