VIOLETA DE OUTONO NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – COMO FOI

Se o rock é celebração do passado, o Violeta de Outono, celebração desde o início da carreira, acertou na mosca.

Assim que a banda lançou o primeiro e clássico EP, em 1986, com suas três mais impressionantes criações (“Outono”, “Trópico” e “Reflexos Da Noite”), comprei o vinil na antiga Wop Bop, loja de discos do centro de São Paulo, entusiasmado. O Violeta me impressionava, apesar de, na época, eu não ter o menor apreço pelo Pink Floyd e pouco conhecia da obra deles.

Eis que quase trinta anos depois, finalmente tive a oportunidade de ver um show do Violeta tocando Pink Floyd. Centro Cultural São Paulo, quinta-feira, dia 3 de junho de 2014, noite de temperatura agradável e de pausa na Copa do Mundo. Por que não? Show marcado pras 20:30h, gratuito, cheguei duas horas e meia mais cedo, a fim de retirar ingresso com antecedência. A moça da bilheteria, porém, informou que não haveria retirada de ingresso, que era só ficar na fila, mas que provavelmente não apareceria mais de vinte pessoas.

Quão equivocada estava ela. Com quase trinta anos de carreira, o Violeta de Outono conseguiu juntar uma certa legião de fãs que, a despeito da das camisas pretas e cabelos brancos que pintavam a longa fila pro espetáculo, se mostra renovada, com muitos jovens. A celebração continua, rejuvenesce, e continua com seu valor.

A Sala Adoniran Barbosa, com capacidade oficial pra mais de seiscentos espectadores, mas que na prática deve, por conta das cadeiras que ficam às costas do palco, do telão e do artista, receber só a metade, estava abarrotada. Gente em pé, sentada no chão, atrás do palco, pra todo lado. Chuto umas trezentas pessoas.

Duvido que todas estivessem ali pra ouvir o Pink Floyd. Isso elas fazem em casa ou num desses bares decadentes com bandas-cover. Estavam ali pelo Violeta de Outono – e pra ver a banda celebrar o passado que a criou.

Sabendo disso, Fabio Golfetti (guitarras e Voz), Gabriel Costa (baixo), Fernando Cardoso (órgão Hammond, pianos), e José Luiz Dinola (bateria) começaram a apresentação com o seu maior sucesso, “Dia Eterno”, no que foi, de fato, o momento de maior empolgação do show, até a chegada do bis.

Tocaram mais cinco do Violeta, de diferentes fases, com ânimo contido dos presentes, até anunciarem: “vamos tocar um pouco de Pink Floyd pra vocês”.

Na verdade, apresentaram cinco canções do primeiro disco, “The Piper At The Gates Of Dawn”, de 1967, e pra mim o melhor e mais inventivo (maus aí, floydmaníacos) e mais quatro dos dois solos de Syd Barrett, “Barrett” e “The Madcap Laughs”, ambos de 1970.

Foram espirituosos ao começar com o primeiro single da banda, “Arnold Layne”. E fizeram alguns mais empolgados dançar em “Astronomy Domine”, do repertório dos paulistas há um bom tempo.

Olhando pro lado, a plateia, em sua maioria gente de quarenta anos pra cima, procurava admirar, viajando internamente, balançando a cabeça, olhos fechados, mãos batucando nas coxas. A banda se divertia contidamente também. O Violeta não é de de pirotecnia – permite-se no máximo imagens psicodélicas num telão ao fundo.

No bis, porém, a plateia se soltou. “Lucifer Sam” (que com “Interstellar Overdrive”, formam, pra mim, a melhor dupla de canções do Pink Floyd – maus de novo aí, floydmaníacos) e “Bike” fizeram uma turma dançar atrás do telão, criando um bom efeito. E “Tomorrow Never Knows”, a cover dos Beatles que é melhor do que a original e que está no primeiro disco do Violeta, fechou a apresentação (que durou uma hora e meia).

A banda de Golfetti não precisa provar nada a ninguém. As três décadas de carreira obstinada, sem sequer esbarrar no sucesso e na grande mídia, mas perseverante e sempre ativa, tira qualquer obrigação do Violeta de Outono. Até mesmo fazer shows apresentando canções do seu grupo-inspiração, em detrimento de um show com músicas só sua, é compreensível.

O quarteto está ali pra se divertir. O rock, pro Violeta, está lá no passado e não há problema nenhum nisso. Se celebrar o passado foi justamente o que tirou a importância do rock, pra quem esteve no Centro Cultural pra ver o Violeta de Outono, essa celebração foi o suficiente pra garantir uma noite e tanto.

Parte Violeta de Outono
01. Dia Eterno
02. Vênus
03. Blues
04. Algum Lugar
05. Cartas
06. Fronteira

Parte Pink Floyd
07. Arnold Layne
08. No Good Trying
09. Flaming
10. See Emily Play
11. Octopus
12. Baby Lemonade
13. Gigolo Aunt
14. Astronomy Domine

BIS
15. Lucifer Sam
16. Bike
17. Tomorrow Never Knows (The Beatles cover)

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Comentários

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Um comentário

  1. Ótima resenha. Estou entre as trezentas pessoas que você “chutou” e realmente foi um show memorável, um dos mais simples e melhores shows de rock que vi nos ultimos tempos, por banda brasileira. E se o efeito, criado pelos doidões atrás do telão não era programado, como realmente não foi, garanto que da proxima oportunidade eles pensarão seriamente nisso como parte integrante do espetáculo… Só uma coisa não concordo muito contigo, sobre a maioria ser de uma faixa etária mais alta.. Acho que estava bem diversificado o público.

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