Pink Mountaintops e Washed Out juntos, pra um mesmo público, era uma mistura que fatalmente tenderia ao fracasso: o público de uma torceria o nariz pra banda do público da outra. São imcompatíveis, mas uma marca de tênis resolveu juntar essa heterogeneidade numa festa corporativa e ver no que ia dar.
Bom, se o ponto de partida já não era das mais empolgantes, pelo menos se sustentava em dois nomes do novo século que merecem respeito, mínimo que seja. O Pink Mountaintops mais. Nas figuras centrais de Stephen McBean e Gregg Foreman, com história pregressa louvável, especialmente por conta do Black Mountain, os canadenses têm discos bons e um recente que promete.
Uma mistura endiabrada de krautrock com piscodelismo e blues que se não funciona na plenitude nos três discos anteriores (com o selo de qualidade Jagjaguwar), ao menos empolga e se distingue da média atual. De fato, quando a banda se mete a fazer pérolas como “Slaves” é de cair o queixo.
Mas no palco do Cine Joia, nessa noite de 2 de abril de 2014, o público viu outra banda. Quer dizer, era o Pink Mountaintops em pessoa, mas era outra banda, outro som. Não teve nada como “Slaves”…
Embora começando com “Ambulance City”, o ótimo single de estreia do novo disco, “Get Back”, de 2014, e mandando boas peças como “Outside Love”, os canadenses falharam miseravelmente na tentativa de reproduzir o climão psicodélico registrado em estúdio.
Por outra, nos cinquenta minutos que estiveram na luta pra entreter o público coxinha e indie-festivo presente no Cine Joia, os integrantes conseguiram descambar pro blues genérico e desinteressante e até mesmo pro britpop, nos desdobramentos vocais de McBean. O Oasis e o Blur fizeram bem melhor porque queriam fazer aquilo. O Pink Mountaintops se desnudou da capa psicodélica e sobrou isso.
Finda apresentação, a banda se retirou sem um mísero aplauso – mais pela falta de interesse do público, mas também por certa falta de merecimento.
Já o Washed Out, devaneio sonoro de Ernest Greene, tem dois bons discos lançados pela – veja só – Sub Pop, com o mais recente, “Paracosm”, de 2013, se oferecendo como uma peça de alta qualidade dream pop e apreços synthpop. Mas estúdio é estúdio, palco é palco. É onde a brincadeira fica séria.
E Greene e sua turma, ao vivo, deixam o som nu, sem as tão intensas camadas de sonhos que edificam com as tecnologias de estúdio. Sobra um som pálido como um albino com vitiligo.
Como o Pink Mountaintops, porém, começou até bem, tal como o inicio de “Paracosm”, com “Entrance”, ambientação instrumental, e “It All Feels Right”. Havia ali aquele clima que se ouve e se encanta no disco.
Mas, na sequência, com “Belong”, incrivelmente parecíamos estar diante de um show do… Cidade Negra? Uma inusitada demosntração de jazz fusion yuppie chumbrega, com uma guitarra que já soaria datada em 1982, em rádios FMs de consultório odontológico.
O show só voltaria a ficar interessante com “All I Know”, música que é exceção da exceção, fez o caminho contrário e ficou muito melhor ao vivo, mais vibrante e empolgante, conquistando coro da plateia e danças empolgadas. De resto, porém, uma sonolenta tentativa tecnopop de recriar o pior dos anos 80: teclados de churrascaria, um baixista deslocado e um guitarrista que parecia aluno reprovado do Mark Knopfler.
Dois exemplos curiosos de artistas que soam melhores em gravações de estúdio. Em cima do palco, onde o calor do momento normalmente joga a favor do artista, onde as músicas crescem, ficam mais robustas, fortes, intensas, Pink Mountaintops e Washed Out mostraram uma infeliz coincidência negativa.
Com tantos equívocos protagonizados pelas próprias bandas, ficou bom pro Cine Joia, talvez o pior lugar de shows em São Paulo. Os típicos problemas da casa ficaram em segundo plano. O som estava bom (um milagre) e pra ambos os artistas, mas o trato com o consumidor continua tenebroso, com fila imensa pra entrar (e na chuva), preços abusivos e horário de apresentação que sucumbe à lógica (o show do Washed Out, que fechou a noite, passou da uma e tanto da manhã, quando, claro, metrô adormecia e ônibus são escassos).
Mas a iniciativa da marca de tênis é boa: duas bandas que nunca vieram ao Brasil e sem overdose de marketing martelando a cabeça dos presentes. Uma melhor curadoria da próxima vez cairia muito bem.
Veja o Pink Mountaintops tocando “Ambulance City”:
E veja o Washed Out tocando “If All Fells Right”:
[…] quando alcança isso em boas doses de excitação/crueza. Não foi o que aconteceu no Joia, como o Floga-se bem resumiu, a coisa descambou para um blues e para o… britpop, de uma forma flagrante. […]
bem eu achei o show no rio bem decente na vdd e eu adorei as versões funkys que eles fizeram
tipo no rio a versão de soft ficou tipo foda demais, muito anos 80. isso não é algo ruim certo? same com a get up