WHITE STRIPES PELA PRIMEIRA VEZ AO VIVO EM REDE NACIONAL

Em 18 de julho de 2001, o White Stripes havia acabado de lançar seu terceiro disco. “White Blood Cells” tinha chegado há duas semanas nas lojas de todo o mundo (do primeiro mundo), mas a Internet já começava a dar seus nós na indústria musical, de modo que os discos anteriores, “The White Stripes” (1999) e “De Stijl” (2000), já circulavam pela rede livremente, pra quem soubesse do que se tratava.

De junho de 2000, quando do lançamento do segundo álbum, até o junho seguinte, a dupla fez pouco mais de setenta shows, tocando pra uma plateia de “iniciados”, com bandas locais, e angariando um consistente montante de admiradores.

Em 28 de maio de 2000, o grupo fez sua primeira apresentação ao vivo na televisão. Foi na emissora pública de Detroit, no programa “Backstage Pass”, alcance local, bem limitado. Um ano depois, estava estreando num programa em rede nacional.

Foi no citado 18 de julho, no “The Late Late Show With Craig Kilborn”, da CBS. Naquela noite, Kilborn entrevistou Marlee Matlin (ganhadora do Oscar de Melhor Atriz de 1986 por “Filhos Do Silêncio”) e Graham Norton. A apresentação musical da noite ficou com o Jack e Meg White.

Embora o disco tenha sido lançado, como os anteriores, pelo pequeno mas de longa estrada selo Sympathy For The Record Industry, quem distribuía nacionalmente a obra era a XL Recordings, do Beggars Group (empresa inglesa com filial em Nova Iorque, da qual fazem parte também os selos 4AD, Rough Trade e Matador Records). A XL passou a investir com mais afinco no White Stripes, depois do bom rendimento dos discos anteriores, que atingiram a marca das trezentas mil cópias vendidas só em solo estadunidense. Uma aposta financeira que incluía a apresentação ao vivo em nível nacional.

A escolha do que apresentar, porém, mostra o diferencial do White Stripes. Embora estivesse promovendo o “White Blood Cells”, a dupla escolheu tocar “Screwdriver”, do primeiro disco, não sem antes a câmera mostrar o anfitrião do programa com a capa do novo vinil em mãos. Ainda citaram “Your Southern Can Is Mine”, originalmente de Blind Willie McTell, que fecha o “De Stijl”.

Já de vermelho e branco, a dupla mostra que a única “concessão” é dar um respiro de blues à plateia, algo pra ela se orientar em meio a uma certa agressividade e falta de comunicabilidade. Aquela dupla estranha, ainda vendida como “irmão e irmã”, tinha uma sinergia e uma sincronia cativantes, estava na cara que ia muito além dos subterrâneos.

Jack White vendia essa história de irmão-irmã mesmo que muita gente já soubesse que eram ex-casados. Em agosto de 2001, Joe Hagan escreveu pro New York Times: “a história dos irmãos é boa; a ambiguidade se presta à sua aura, a de um tipo de Adão e Eva em seu próprio Éden do rock’n’roll”.

E segue: “mês passado, estes roqueiros de mais ou menos vinte anos de idade, bonitos e branquelos – ele da cabeça aos pés em vermelho, ela de branco – apareceram pela primeira vez em rede nacional de televisão. No meio de um ruído estrondoso e crônico de dois acordes chamado ‘Screwdriver’, por quase meio minuto, eles exploraram em um único acorde paradas afiadas. A simplicidade e a indiferença descuidada pelo valioso tempo no ar ressoou como poder”.

Por fim, o autor, joga suas próprias esperanças a todos: “nos últimos vinte anos, o blues-rock foi mantido vivo principalmente por bandas de bar e estilistas de alto nível como o Jon Spencer Blues Explosion. Acionar uma pilha de amplificadores Marshall e suar, como em ‘Whole Lotta Love’, como o Led Zeppelin fez na década de 1970, tornou-se uma espécie de constrangimento pras sucessivas gerações de roqueiros. Acrescente o desejo de reinventar o gênero e a lentidão da ironia na cultura. Na última década, o rock se dividiu em um ninho de zilhões de artistas clichês, como Bush e Matchbox 20 e nerds como Weezer e Ben Folds Five. Houve um pouco de tudo pra todos, mas não é mais uma grande coisa pra todos. Tendo perdido o poder, o rock tem sido superado pelo hip-hop e pela eletrônica”.

Isso tudo por conta de uma apresentação ao vivo num programa de televisão. Uma reverência pra quem sabia que estava diante de algo impressionante:

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