CEREMONY – “DISTANCE”
No terceiro disco, lançado no ocaso de 2013, a dupla Paul Baker e John Fedowitz comete mais uma festa de distorção e vocais melódicos e preguiçosos, sobre bases de bateria vigorosas e, por vezes, dançantes. O Ceremony é uma das preferidas da casa e com “Distance”, sucessor do apocalíptico “Rocket Fire”, assume-se na verdade um projeto solo de Fedowitz, com Baker ajudando em apenas duas canções.
A bateria eletrônica, marca registrada do Ceremony, foi substituída por uma de verdade, tocada por Ben Wood em “On Holiday”, “Run Away” e na ensurdecedora “Throw Your Love Away”, conferindo um certo aspecto de crueza que não se sentia na obra predecessora. O acento punk já é ouvido no abre-alas “Can’t Say Your Name”, menos de três minutos de pedais zunindo e uma bateria (também física) destroçando. “The Sunglass Girl”, vem na sequência e reapresenta o mesmo Ceremony de sempre; com “The Summer The Sun” dando o toque jesusandmarychainiano da coisa.
Talvez por conta da masterização final e palpites na produção de Oliver Ackermann, do A Place To Bury Strangers (e terceira ponta do triângulo Skywave com Fedowitz e Baker), “Distance” tenha acabado se tronando a mais suja criação de Fedowitz assinando como Ceremony. É daqueles discos pra ouvir alto, estourando tímpanos, lavando a alma das imundices do dia a dia.
NOTA: 8,0
Lançamento: 17 de dezembro de 2013
Duração: 32 minutos e 44 segundos
Selo: Independente
Produção: John Fedowitz
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GUSTAVO JOBIM – “INVERNO”
O décimo quarto disco de Gustavo Jobim é esse “Inverno”. Lançado em pleno verão, no primeiro dia de 2014 (de maneira independente, via Bandcamp), ele é obviamente, a respeito dos antecessores “Stream” e “Manifesto”, contemplativo e, digamos, “invernal”.
Mas, ao mesmo tempo, suas nove músicas (em mais de uma hora de execução) impulsionam sensações, do incômodo de algumas modulações ao prazer das ambiências esticadas minutos afora. “Winter Song”, com seus mais de vinte minutos, é uma exemplar forma dessa receita. “Ice Age Coming” é uma experiência rica pra se manter alerta. Já “Permafrost” se apresenta fantasmagórica numa outra experimentação sônica, de fazer inveja aos embriões da utilização da eletrônica na música.
“Inverno” não é um disco fácil, por certo, no que se sugere degustar aos poucos, seja como música ambiente, de fundo, seja como impulso pro espanto ao nosso complexo de vira-lata de achar que brasileiros não podem/não tentam/não conseguem ousar assim. Ou, se preferir, é pra ser ouvido na Islândia da alma. Ambient de qualidade.
NOTA: 8,0
Lançamento: 1º de janeiro de 2014
Duração: 67 minutos e 37 segundos
Selo: Independente
Produção: Gustavo Jobim
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HIEROFANTE PÚRPURA – “A SUTIL ARTE DE ESCULHAMBAR MÚSICA ALHEIA”
O título não é à toa: o Hierofante Púrpura, banda psicodélica de Mogi das Cruzes, São Paulo, resolveu bulir em canções de outros artistas e misturar com sons novos que vinha apresentando ao vivo. Esculhambar é um modesto modo de se posicionar sobre o assunto, porque, a julgar por exemplo com a ótima e viajante versão de “I Don’t Know Why”, do Mr. Airplane Man, os originais deveriam se reverenciar.
Há, claro, versões que não valem muito no todo, como “Tears Are In Your Eyes”, do Yo La Tengo, violão a frente. Mas as escolhas inusitadas mostram uma banda segura de si, mesmo que acabe falando pra poucas mentes – aquelas que se deixarem invadir devem agradecer.
Curiosamente, o melhor nem está na esculhambação geral. Atente-se mais às composições próprias, canções lisérgicas como “Transcendentalizei”, “Jazigo Meu ou Venha Ver O Sol Derreter” e “A Camisa Vermelha Sou Eu”, que mostram que no Brasil há gente que ainda vive o sonho hippie sessentista e, bem, por que não? Um pouco de ácido e mariajoana na criação artística nunca foi demérito e o Hirofante, com suas visões sonoras woodstockianas, executam princípios desejáveis a uma sociedade livre e em paz: mente aberta, sem preconceitos, sem medo do novo – mas que, ora bolas, venha o novo!
O disco falha mesmo é na duração. Como muitas das execuções dão a impressão de serem exercícios de estúdio, algo no improviso, mesmo que de uma banda entrosada, não há santo que aguente numa tacada só os mais de setenta minutos. A solução é ouvir em pílulas (trocadilho incluso), porque é preciso ouvir.
NOTA: 7,0
Lançamento: 1º de janeiro de 2014
Duração: 71 minutos e 13 segundos
Selo: Independente
Produção: Hierofante Púrpura
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PIXIES – “EP 2”
O segundo EP da série que o Pixies começou a lançar em 2013 (com o “EP 1”), apresentando novas composições, já chegou com desconfiança, dado a forma como o primeiro se mostrou. “Isso não é Pixies”, bradaram alguns fãs nas redes sociais. Bem, no “EP 2” fica mais difícil fazer essa afirmação.
É um tanto mais acessível do que o primeiro, embora “Blue Eyed Hexe” seja uma canção urgente e raivosa, que bem poderia estar no “Trompe Le Monde”. Mas “Magdalena” tem o frescor que “Bossanova” exibia e “Greens And Blues” tenta recuperar aquela inteligência de “Gigantic”, segundo o próprio ex-doidão Black Francis – vale dizer que não consegue, mas é uma boa peça pop.
“EP 2” reacende um pouco da credibilidade apagada, embora ainda cheire um tanto a caça-níqueis. Se um dia o Pixies juntar as canções desses EPs num só disco, pra uma comparação efetiva, o fã poderá dar seu veredicto se terá valido a pena essa volta. É bom colocar na conta dos argumentos que a uma banda da envergadura do Pixies que volta pra ganhar um cascalho bastaria fazer shows de velhos sucessos. Dessa forma, a desconfiança ainda se impõe, mas pode ser só uma questão de ferrugem criativa do senhor Francis.
NOTA: 6,0
Lançamento: 3 de janeiro de 2014
Duração: 14 minutos e 11 segundos
Selo: Independente
Produção: Gil Norton
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