GIMU – “COUNTRYSIDE SUMMER NIGHTMARES”
Dentro da vasta discografia de Gilmar Monte, vulgo Gimu, “Countryside Summer Nightmares” parece ser especial. Necessariamente, quem conhece a obra desse capixaba tem por costume esperar paisagens sonoras tranquilas, experimentais, viajantes, e por isso mesmo deverá se surpreender com este lançamento um tanto atípico, um tanto folk (ouça “It Poured” e “The Quarrels, The Arguments, The Fights”, com vocais), e com muitos elementos eletrônicos (ouça “Non-Stop Barking (Part 2)” e “Non-Stop Barking (Part 3)”, que no universo do Gimu é quase petshopboysiana).
Gimu gravou a peça quando estava de férias em São Borja, no Rio Grande do Sul. É a primeira vez que ele grava algo fora de casa, em Vila Velha, Espírito Santo. Estava um sol de rachar, aquela onda de calor que assolou o Sul e Sudeste brasileiros no inicio de 2014. O resultado reflete um tanto do ambiente climático hostil, um disco menos invernal que os outros de sua discografia, embora com trechos nesse caminho, como “Upheavals”, “Perimetral” e “Closer”.
Esfrie sua cabeça imergindo aqui.
NOTA: 8,0
Lançamento: 1º de fevereiro de 2014
Duração: 32 minutos e 21 segundos
Selo: Independente
Produção: Gilmar Monte
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CONSTANTINA – “PELICANO”
Beleza: os mineiros da Constantina conseguem definir muito bem essa palavra em seus sons. Em “Pelicano”, seu sexto lançamento, contando com o EP “¡Hola Amigos .?.?.?!”, de 2008, a banda pinta em quatro longas músicas, com os pincéis de suas guitarras, um quadro de belas paisagens sonoras.
A faixa-título, que abre a obra, começa lenta, quase imperceptível, como um pano de fundo, pra explodir na metade e se apresentar relaxante novamente, hipnótica. “Escafandro” é mais inquieta, com um rife agudo seguindo seus sete minutos, com frases envolvendo-o. “Puerto Vallarta” é uma seresta intimista, sem vizinhos, fim de tarde.
É um disco que se repete nesse sentido: usa fraseados aparentemente simples (aos leigos parecem simples) pra compor sua beleza paisagística e fazer relaxar (e, de fato, pra fazer dormir: não creio que a banda se incomode com esse resultado, é um trabalho de contemplação).
O Constantina é sinônimo de “música instrumental” no Brasil, a essa altura do campeonato. “Música instrumental” como estilo, por assim dizer. Mas quem definir como post-rock, também não será repreendido. Melhor se todo mundo entendesse como sinônimo de “beleza sonora”.
NOTA: 8,0
Lançamento: 26 de março de 2014
Duração: 47 minutos e 32 segundos
Selo: Independente
Produção: Constantina
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HUEY – “ACE”
Não há dúvidas de que esse é um dos discos mais impressionantes do ano. Mesmo pra quem, como eu, não morre de amores por stoner, é impossível ficar impassível diante das três guitarras dos paulistanos da Huey, pesadíssimas, encorpadas, parecendo um troglodita esmagando seu ouvido.
“Ace”, o primeiro disco da Huey, é instrumental, pesado, um motor de um milhão de cavalos puxado por uma banda claramente entrosada e competente, que gravou num tacada só nos Esteites, nos boxes de Aaaron Harris, do ISIS, um diferencial claro e importante pro resultado final.
Um exemplo do que a Huey pode fazer é “Baby Monstro”, fazendo o Queens Of The Stone Age parecer música pra programa infantil. O mesmo se pode dizer de “Pedregulho”. Há ainda os destaques da acelerada e ao mesmo tempo cadenciada e viajange “Por Detrás De Los Ojos”, e do single “Valsa De Dois Toques”.
Se alguém disser pra você ouvir esse disco o mais alto possível, talvez seja melhor seguir o conselho, mesmo que, como eu, não seja muito da sua praia. Depois de tantos anos, a música ainda nos surpreende.
NOTA: 8,5
Lançamento: 14 de abril de 2014
Duração: 33 minutos e 56 segundos
Selo: Sinewave
Produção: Huey e Aaron Harris
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THE AFGHAN WHIGS – “DO TO THE BEAST”
Um disco novo do Afghan Whigs! A exclamação se faz valer quando se olha pra trás e vê-se dezesseis anos de hiato entre “1965”, de 1998, e este “Do To The Beast”. Greg Dulli faz falta num mundo de babaquices indies. E aqui ele se rodeou de bons colaboradores, como Van Hunt, Mark McGuire (Emeralds), Alain Johannes (Queens Of The Stone Age, Arctic Monkeys), Clay Tarver (Bullet LaVolta, Chavez), Dave Catching (Queens Of The Stone Age, Eagles Of Death Metal), Patrick Keeler (Raconteurs, Greenhornes), Ben Daughtrey (Squirrel Bait).
Passadas as exclamações, há de se colocar a grande interrogação: valeu a pena? Bem como David Bowie e o My Bloody Valentine, que ficaram bons anos sem gravar a ressurgiram recentemente, a resposta é “mais ou menos”. Não que “Do To The Beast” seja ruim, mas é preciso ser um tanto chegado à obra da banda pra, com o aparato afetivo, se colocar com disposição pra degustar essas dez faixas.
Há muito boas, como “Matamoros” e “The Algiers” e “Royal Cream”, com certa distorção e peso noventista, e outras empolgantes, como “Parked Outside”, pra acompanhar batendo o pé, mas no saldo final fica uma sensação de que foi legal, hoje não é tanto. Soa muito como reciclagem de ideias já batidas – por exemplo, U2 fazendo baladas em “It Kills”; e um cheiro de Smashing Pumpkins em “Lost In The Woods”. “The Lottery” e “These Sticks” se encaixariam facilmente num comercial de cigarros, se comerciais de cigarros hoje fossem permitidos.
Há coisas dispensáveis, como “I Am Fire”, que não vai a lugar nenhum, e a indefectível baladinha, aqui representada por “Can Rova”, lembrando o Pearl Jam quando o Pearl Jam queria ser mais adulto do que era.
Mas antes que os xiitas atirem pedras, é importante salientar que “Do To The Beast” é bom como peça pop (grudenta, com as seguidas repetições), pra ouvir alto dirigindo estrada afora, ou como trilha sonora de uma república de estudantes qualquer. Não é um disco que faz feio à carreira do Afghan Whigs e ao vivo deve ser um estrondo.
Mas ouvindo, ouvindo e reouvindo ainda fica uma sensação de que não precisava, era melhor guardar as exclamações pro passado.
NOTA: 6,0
Lançamento: 15 de abril de 2014
Duração: 40 minutos e 46 segundos
Selo: Sub Pop
Produção: Manuel Agnelli
Pra ouvir: “Algiers”
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