A MÚSICA MAIS ANTIGA DA HISTÓRIA

Escavações na Síria, no começo dos anos 1950, deram à professora Anne Draffkorn Kilmer as peças do quebra-cabeças pra que ela montasse aquela que seria a criação musical mais antiga que a humanidade conhece hoje.

Os arqueólogos descobriram no Palácio Real de Ugarit (onde agora fica a moderna Ras Shamra), na Síria, trinta e seis tábuas em argila com contém trechos do que seria um hino à Nical, mulher do deus da Lua.

As tábuas datam de 1400 a.C., e foram escritas na linguagem hurrita, um idioma morto. Um dos trechos montados forma a música mais antiga preservada.

Em 1972, Kilmer, professora de Assiriologia na Universidade da Califórnia, Esteites, desenvolveu uma interpretação da canção com base em seu estudo sobre a notação. A imagem que abre esta postagem mostra na parte de cima a letra do hino e na metade de baixo, o modo como a canção deveria ser tocada à harpa (ou lira).

Trabalhando com os também historiadores Richard L. Crocker e Robert R. Brown, Kilmer diz ser possível encaixar as tônicas da poesia da letra nas notas indicadas nas tábuas, traduzindo ambas pra notações musicais modernas. Mas é um trabalho monstruoso e uma caminhada no escuro, já que essa abordagem produz harmonias, ao invés de uma melodia exata. As chances do número de tônicas da letra que correspondem aos números da notação são astronômicas. É bom ressaltar, o ritmo da canção original é desconhecido.

A primeira das três tentativas de tradução das tábuas foi feita por Émil Laroche, mas só algumas palavras foram traduzidas. Na década de 1960, pouca coisa se sabia sobre a língua hurrita, mas Laroche conseguiu identificar ali um hino, culto ou reza. A segunda tentativa ocorreu em 1977, por Hans-Jochen Thiel, com transcrições de M. Dietrich e O. Loretz feitas em 1975. O trabalho foi feito em alemão.

A terceira tentativa de tradução é bem mais recente, de 2000, por Theo J. H. Krispijn, já com conhecimentos bem mais profundos da língua, o que fez o trabalho ser considerado o mais preciso, expandindo traduções pro inglês e outras línguas.

Essa dificuldade de compreensão do que seria cantado dá a ideia da complexidade do trabalho dos historiadores em juntar letra e música. Mas piora porque a parte musical foi escrita de uma maneira nada usual pras notações modernas: eram letras e palavras seguidas de números (mas, ao menos, já era um sistema, algo que pudesse ser reproduzido por todos aqueles que conheciam os símbolos à época; ou seja, não era nada aleatório). Como o sistema que conhecemos hoje só seria criado dois mil anos depois, ficou complicado pros cientistas compreenderem as intenções musicais originais daquelas tábuas.

Mesmo assim, a existência do hino, o “Hino Hurrita Nº 6”, popularmente chamado de “Hino De Ugarit”, comprovou a teoria de muitos pesquisadores sobre a origem da música e o “surgimento natural” da escala diatônica. Em resumo, a descoberta mostra que a “harmonia” está presente na humanidade desde a antiguidade (leia mais aqui e os ricos detalhes dos escritos das tábuas aqui).

Ouça uma representação de como seria a canção, sem a letra:

E veja um “documentário” em espanhol, contando toda a história:

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