AFGHAN WHIGS NA AUDIO – COMO FOI

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Ok, você vai ler um bocado por aí que o show do Afghan Whigs na Audio, casa novíssima de São Paulo, foi “uma volta aos anos 1990”, uma festiva volta. Foi, sim, beleza. Mas não se iluda, caro leitor, caso você não tenha presenciado o fato: a banda se esforça pra não parecer revivalista, e soa tão moderna quanto as modernas que ilustram as manchetes dos sites e blogues indie-festivos mundo afora.

A começar pela escolha do repertório. O Afghan Whigs não está fazendo uma turnê caça-niqueis (como faz a minha preferida de todos os tempos, o Jesus & Mary Chain, em comemoração aos trinta anos de carreira). Ao contrário, o show que cerca de mil pessoas viram na Audio, na noite dessa quinta-feira, dia 22 de maio de 2014, foi baseado no mais recente trabalho, “Do To The Beast”, lançado poucas semanas atrás.

Das vinte uma canções apresentadas, um terço foram do álbum. E, mérito pro Afghan Whigs, se “Do To The Beast” não soa inteiramente bom, refrescante e desafiador em estúdio (leia resenha aqui), ao vivo, a banda apresenta-se parruda com as canções novas. Elas ganham uma força de bigorna em suas bigornas e martelos no ouvido.

Por outro lado, mesmo não sendo uma turnê “de volta” especificamente, Greg Dulli e companhia sabem que têm uma história e, diante de uma plateia notoriamente mais velha e que conhece o passado da banda, mandou as mais novas logo no começo, intercalando com petardos do seu disco mais famoso, “Gentlemen”, de 1993 – “Fountain And Fairfax” e “Debonair”, cantadas a bons pulmões pela turma do gargarejo.

Assim, pôde cumprir o papel de divulgação de “Do To The Beast”, como manda o figurino, e partir pra revisitar a carreira, agradando aquela plateia que, afinal, via o grupo pela primeira vez ao vivo no Brasil (o bis com três do “Black Love”, pra muita gente, fez valer o ingresso).

Dulli é um homem de frente que impõe respeito pelo porte físico (ele ganhou peso com a idade, já beirando os 50 anos). Sua voz rouca e sua postura pretensamente viril, meio Bruce Springsteen, meio Josh Homme, hipnotizam o público que só tem olhos pra ele, mesmo que atrás dele tenha um baixista de classe, John Curley, e um baterista certeiro, Cully Symington.

Ele faz inserções no meio das canções, apresenta coveres, rebola um tanto sem jeito, aponta pra plateia, ri, arrisca um “obrigado” aqui e outro ali, fala um pouco, pede pra acender as luzes pra ver as pessoas, parece que se esforça pra parecer menos tímido do que é. Ou o vigor que a idade proporciona o prende.

A todos, parece que só o que o liberta dessa clausura é a guitarra. E ele consegue, principalmente quando tem ajuda do público, como em “Turn On The Water” e na lasciva “Going To Town”.

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Mas embora o show tenha sido vigoroso, impressionante, impecável do ponto de vista de execução, e o grupo tenha se esforçado em se mostrar renovado e não dependente do passado, sente-se por todo lado o peso da idade, na banda e na plateia.

Até rolou um stage dive – um solitário, isolado. O público do Afghan Whigs já não se presta a enfrentar seguranças pra essas alegrias únicas em shows. A energia ficou contida, meio tímida como Dulli, em pulos no lugar, e explodia apenas na satisfação do “cantar junto” com o ídolo tão próximo.

É, os tempos são outros, os anos 1990 ficaram lá atrás, bem lá atrás. Dulli achou graça da invasão rápida do palco, talvez vendo aquela plateia presa se soltando um pouco, talvez lembrando da baderna que seria seus pungentes shows dos anos 1990. Afinal de contas, no rock que peitava tudo o que era proibido, hoje tudo é encenado e cuidadoso, tudo dentro do esquema.

Durante a uma hora e cinquenta minutos de show (começando pontualmente às 23:00h), sabe-se que o Afghan Whigs, ou qualquer outra banda, está lá pra cumprir um contrato, apresentar sua obra e quem sabe vender uns discos a mais. Nada de errado com isso, mas parece que serve só aos fãs e às testemunhas da história. Não há nada de tão arriscado ou contestador ali que vá atrair jovens pras guitarras (ao invés de só pros batidões), pra que novas bandas chutadoras de canelas surjam.

Foi um baita show, talvez um dos melhores do ano. Mas, mesmo com o esforço de atualização da banda, disco novo e tals, a apresentação foi pra iniciados sedentos, pra alguns poucos curiosos e pra saudosos de um tempo que não volta mais.

Setlist:
01. Parked Outside
02. Matamoros
03. Fountain And Fairfax
04. The Lottery
05. Debonair
06. When We Two Parted/Over My Dead Body (Drake cover)
07. Turn On the Water
08. Uptown Again
09. Algiers
10. Royal Cream
11. I Am Fire/Tusk (Fleetwood Mac cover)
12. Gentlemen
13. It Kills
14. Going To Town
15. John The Baptist
16. Heaven On Their Minds (Andrew Lloyd Webber cover)
17. Somethin’ Hot
18. My Enemy

BIS
19. Bulletproof
20. Summer’s Kiss
21. Faded

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