Saiu dia 30 de setembro de 2022, pelas mãos da sempre atenta Brava, “Narva2”, disco de André Damião, que “trabalha transversalmente entre os campos da música e da arte eletrônica”, apresenta o selo. “Seu trabalho tem foco na crítica da tecnologia, estética da interface e mobilidade”.
O trabalho experimental, muito bem resumido na capa, parece mostrar algo óbvio – que a música é arte e não só comércio – embora pouco compreendido e enaltecido pelas pessoas. A música pode e deve ser os dois, não necessariamente juntos. Entretanto, é um ato acima de tudo, especialmente no Brasil, revolucionário.
“A funcionalização de mídias do passado no presente da economia da baixa tecnologia brasileira não é somente fruto do fetiche e colecionismo do arcaico, mas consequência da sujeição de cidadãos às formas de trabalho precário que mantêm esse comércio vivo”, Damião diz, na apresentação do álbum. “A dinâmica do trabalho autônomo e flexível de catadores de lixo, camelôs do shopping-chão e dessoldadores de componentes eletrônicos são parte fundamental do que determina a sobrevida das mercadorias. A ocupação desses sujeitos sem emprego formal é o que conserva a circulação de mídias precárias, e esse fluxo é o que constitui o imaginário ao qual esses dispositivos pertencem. A prática de deslocamento e alteração desses objetos no contexto nacional traz consigo questões que pertencem a essa economia, seja de maneira direta ou metafórica. A sombra do percurso desses dispositivos ecoa e paira sobre esses objetos”.
É um discurso que vale pra qualquer setor da economia, nas relações de trabalho, de sobrevivência e de expressão. Damião tenta ser específico em um país em que ser genérico dá mais frutos. O falar sem explicar dá lucro, o detalhe cansa. Ele não tem nada a perder, embora “Narva2” nem seja assim tão distante de compreensão.
É um disco apaziguador até. Acalma. Tem sus trabalhos com ruídos, mas são mínimos. O artista reproduz uma certa tranquilidade, como a do cotidiano. Sim, há sobressaltos, mas nosso otimismo nos permite entender que os momentos de calmaria prevalecem.
André Damião contou com o apoio de Thomas Rohrer com sua rabeca, sax e objetos nas faixas 1, 5 e 9, e de Paulo Dantas com sua guitarra e objetos nas faixas 3, 6 e 9.
O trabalho demorou pra ser gravado, seis anos: entre 2016 e 2022. Foi mixado e masterizado pelo próprio Damião.
01. Ofim
02. Daperspectivade
03. Mudançaé
04. Acontrapartida
05. Deuumaestrutura
06. Qsilenciaeconcilia
07. Umaposição
08. Sufocadapor
09. Suaprópria
10. Gramática