O Belle & Sebastian não é mais o mesmo. Vida que segue.
Nada errado com o show deles, ontem à noite, no Via Funchal, em São Paulo, na abertura da nova turnê sul-americana. Nada mesmo: nem o som baixo, nem um setlist pouco empolgante, nem a presença da insistente, chatíssima e segregadora pista vip desse Brasilzão arcaico… Nada. O problema era eu.
Em 2001, quando vi o Belle & Sebastian pela primeira vez, no Free Jazz, no Jockey Club de São Paulo, estava realmente empolgado em ver um fenômeno na minha frente – a ponto de ocultar o Grandaddy. E eu era, obviamente, nove anos mais jovem. Isso faz diferença.
Naquela época, apesar de já ter um bom currículo de shows nas costas, eu ainda me empolgava com facilidade – dificilmente uma pista vip me incomodaria, por exemplo. Hoje, bem mais rabugento, é difícil me comprar. Até porque o produto que eu adquirira há nove anos custava cinquenta reais. Hoje custa cento e oitenta. Tenho razão de ser mais exigente. Vida que segue.
A banda até se esforça em cima do palco, tentando fazer valer os dinheiros alheios. É o papel dela. O Belle & Sebastian é profissional. Os “indies” já são profissionais, estão no esquema, entraram na rota. É Via Funchal, não é um clubezinho qualquer. Tudo pra dar certo. Mas não deu. Não pra mim. Não pra minha exigência.
A banda começou com a ótima “I Didn’t See It Coming”, do mais recente disco, “Write About Love”. Lá no fundo, longe, procurando deixar a muvuca para quem tem idade pra isso, víamos outro show: o som chegava abafado, embolado, baixo e se ouvia mais a conversa do vizinho – preocupado com o jogo do Palmeiras na Sul-Americana.
Lá no meio, havia tanta empolgação quanto espaço vazio (é, os ingressos não estavam esgotados, longe disso). E talvez eu possa dizer que os fãs não tiveram o que reclamar. Raramente eu vi uma banda ser aclamada com tanto entusiasmo. Definitivamente, o problema era eu
O som pouco melhorou durante o espetáculo. Nem a sequência deliciosa de “Piazza, New York Catcher”, “I Want The World To Stop” e “Lord Anthony” empolgou a turma do fundão.
“I Want The World To Stop”:
Também de pouco adiantou o esforço titânico de Stuart Murdoch de levantar e conduzir a platéia. O profissionalismo e a estrada ensinaram um bocado pra banda: fãs continuam subindo ao palco – um bando de malluzinhas-magalhães – Murdoch joga miniaturas bolas de rugby autografadas pra platéia… Ganhar o público com isso e não com a música é estranho.
Veja “Fox In The Snow” e a bolas sendo arremessadas:
Há nove anos, nada disso seria necessário. O Belle & Sebastian era o frescor em forma de banda. A vida seguiu em frente.
Quem não viu em 2001, talvez tivesse ontem essa sensação de frescor. Mas a própria banda está nove anos mais velha, oras. Nesse meio tempo, conseguiu fazer dois ou três discos ruins (“Write About Love” é uma louvável recuperação), o sinônimo de “frescor” migrou para outras bandas e, insisto, é assim que a vida segue. Não dou murro em ponta de faca, afinal.
Apenas no bis, com “Get Me Away From Here, I’m Dying” e a linda “Judy And The Dream Of Horses”, a coisa melhorou. Era tarde demais.
Quase conclui que o Belle & Sebastian é música para determinada idade, uma faixa de 20 a 30 anos, não pra mim. Ah, a idade… Mas não é isso. Sou eu. Apenas eu. Estou mais exigente, rabugento, chato.
Em disco, o Belle & Sebastian é maravilhoso. Isso é inegável. Em cima do palco, sem som, sem empolgação, a magia acabou, ficou em outra era.
Ao acender as luzes, o telão mostrou de imediato: Palmeiras 2 x 0 Atlético-MG. Há outras coisas além do Belle & Sebastian. E a vida segue, vamos pra outra.
Setlist:
01. I Didn’t See It Coming
02. I’m a Cuckoo
03. Step Into My Office, Baby
04. Another Sunny Day
05. I’m Not Living In The Real World
06. Piazza, New York Catcher
07. I Want The World To Stop
08. Lord Anthony
09. Sukie In The Graveyard
10. Fox In The Snow
11. Travellin Light
12. If You’re Feeling Sinister
13. Writ About Love
14. There’s Too Much Love
15. The Boy With The Arab Strap
16. If You Find Yourself Caught In Love
17. Simple Things
18. Sleep The Clock Around
Bis
19. Get Me Away From Here, I’m Dying
20. Judy And The Dream of Horses
21. Me And The Major
Veja “Me And The Major”, de bem perto, onde o som era bom:
Putz Fe…o Elcio e eu, vamos no show deles aqui em Dublin dia 3 de dezembro. Bom amigo, a gente realmente em 2001 era muito mais empolgados..rss..lembro completamente da nossa empolgacao nesse show..crazies!!!
Bom te ver por aqui, Lu! Ah, se vc soubesse como eu te invejo por vc estar tão perto de tantos shows por aí… Inveja boa! Aproveite! E apareça sempre!
[…] Besteira. Como a maravilhosa e história apresentação do Arcade Fire, via YouTube, essa foi bem boa, apesar do setlist tão complicado quanto o que causou “revolta” nos paulistanos, na apresentação recente da banda em solo brasileiro. Naquela ocasião, o Belle & Sebastian provocou mais bocejos do que sorrisos. […]