“Constelações Invisíveis” tem spoken, lo-fi, música triste, folk, experimental, mitologia e astronomia, avisa a dupla Bossa Morta, formada por Gabriel Marçal e João Antonio. O primeiro em São Paulo, o segundo na Praia Grande, cidade do litoral paulista.
Distantes alguns quilômetros, uniram-se pra fazer música distante.
Basicamente violão e voz, com eventuais guitarras (a de “Poseidon” é magnífica), piano, sintetizadores e bateria eletrônica, a dupla explora o minimalismo em letras e execução sonora.
Não é como se faltasse algo, é como se fosse possível ainda tirar alguma coisa pra que se pudesse ir mais longe.
As letras, reforço de tese, são significativas.
“Eu vou pra fora da área / eu vou pra Terra do nunca / onde os olhos mudam de cor / onde o vício não é dor / onde as coisas tremem / mas são firmes”, de “Fora Da Área”.
“A humanidade só prospera / por sobre rios mortos sim / palavra sagrada sim / por sobre árvores caídas / tão cortante sim / o céu arranha sim / de partida em partida / Terra plana? / fogo chama? /água sobe? / ar desce?”, na provocativa “Palavra Sagrada”.
“O dia e a noite só existem / porque a Terra gira / e a Terra sempre gira / a Terra sempre gira”, em “Terra Gira Terra”.
“Apocalipse da alma / a jóia da eternidade”, em “Tentativas Ideais”.
“Poseidon virou / as costas pro oceano / raios incandescentes / alinhados ao tridente”, em “Poseidon”.
“Tristeza se aprende na prática / ser leigo na felicidade / é meu emprego”, em “Hidra”, com participação de Everton Cidade (do Santo Suzuki e da Siléste, uma das preferidas da casa).
“Superfícies instáveis / ecos distantes / ilhas de infinitude / estrelas morrem”, em “Constelação Invisível”.
Há ainda as belezas instrumentais de “Gaia” e “Aurora”.
E ainda tem a voz hipnótica de Denise Nuvem, que declama magnificamente versos como “você é a soma / de todas as doenças da sociedade / se confundindo com você” (em “Meio Dia Em Órbita”) e “só existe o pulso / os batimentos cardíacos / estão por aí? / mande suas radiografias / para o espaço / de onde vieram” (na faixa de abertura, “Betelgeuse”), ambas de autoria dela.
As doze faixas são como um abraço. Um abraço distante. Mas um abraço quente e acolhedor de viagens infinitas e ilusões maravilhosas. Um ácido intergalático, uma palavra amiga.
Uma dia, quando as palavras e os sons te pegam de jeito, você se dá conta da imensidão infinita da existência. Que, afinal, te aproxima de si mesmo.
Bossa Morta é o elo.
O disco foi lançado em 21 de agosto de 2020, pelas mãos da Gravidade Alarmante.
João e Marçal gravaram, mixaram e masterizaram em casa.
01. Betelgeuse
02. Fora Da Área
03. Gaia
04. Palavra Sagrada
05. Terra Gira Terra
06. Tentativas Ideais
07. Poseidon
08. Aurora
09. Meio dia Em Órbita
10. Hidra
11. Ares Distante
12. Constelação Invisível