Poesia e música. O casamento é natural, tão ancestral quanto a própria humanidade. Entretanto, em alguns momentos ele parece encaixado a partir de polos distintos, a ponto de parecer uma novidade refrescante. Vale lembrar como Jad Fair se enturma com gangues tais pra criar uma exposição de poemas sonoros que seriam soltos e raquíticos se fossem apenas declamados ou impressos num livro. De Daniel Johnston a Teenage Fanclub, passando pelos Pastels, Yo La Tengo e principalmente Jason Willett, Fair é o recurso poético-sonoro em pessoa.
Rappers não ficam longe. A turma do spoken word idem. Ampliando a história, quase todo mundo: do no wave à MPB clássica, a música parece depender da poesia – o que não é uma verdade, claro (a começar pelos monumentos sonoros instrumentais mundo afora). Se seguirmos por essa linha, é capaz de provocar bocejos no leitor, que irá se deparar com o óbvio do óbvio, o clichê de um “casamento perfeito”.
Mas, não. Talvez não seja uma obviedade tão gritante. Porque ainda assim, diante de uma obra como “Aprender A Morrer”, ficamos empolgados e atentos: a poesia é diferente da letra de música em si – uma sutileza que não carece de percepção, mas por vezes é bom diferenciar.
Victor Rodrigues pegou textos do seu livro “Deuses Fazendo Bolo Ou Ingredientes Pra Nascer De Novo” (um título significativo) e ofereceu pra Bratislava musicar. O resultado são cinco faixas que alternam uma experimentação discreta (Dois Sorvetes” e “Sangue E Estancamento”), uma saudade aguda dos gingados setentistas (a ótima “Agradecimento”) e minimalismo suave (“Antes De Atropelar”).
Em todas, Bratislava e Victor Rodrigues apresentam vídeos dirigidos e editados por Sérgio Silva, adicionando mais um vértice na criação. É poesia, música e visual. Poesia é ritmo, música é vivência e imagem.
Se não há novidade, há um tratamento minucioso pra que esse triângulo funcione com perfeição. A música do Bratislava se encaixou perfeitamente à poesia de Rodrigues e é isso que importa. As pessoas se casam há séculos e nem sempre dá certo, mas alguns dão e são nesses caso que nos apoiamos.
Jad Fair e Victor Rodrigues (com a Bratislava) são bons exemplos pra defender esse casamento.
A produção é de Victor Meira, da Bratislava. O EP foi gravado no Veredas Estúdio, em São Paulo. A mixagem e masterização é de Iran Ribas.
A Bratislava em “Aprender A Morrer” é Victor Meira (sintetizador), Sandro Cobeleanschi (baixo), Lucas Felipe Franco (bateria), Alexandre Meira (guitarra) e a voz de Victor Rodrigues e Victor Meira.
1. Dois Sorvetes
2. Sangue E Estancamento
3. Antes De Atropelar
4. Crianças Entediadas
5. Agradecimentos