Confesso que estou ouvindo esse disco há alguns dias sem parar, mas ele segue soando como um som ambiente, às vezes incômodo (de onde vem esse barulhinho? que música é essa?), às vezes relaxante, às vezes cativante, às vezes simplesmente indiferente.
“Waifu”, o terceiro disco de Cadu Tenório em 2020 – ainda lançou “孤立: Room Memoirs” (clique aqui pra ouvir e aqui pra ler a resenha) e “Monument For Nothing” (clique aqui pra ouvir e aqui pra ler a resenha).
Sua voraz produção poderia estar ligada ao fato de que estamos na pior crise humanitária da história, mas tal tese escorrega no fato de que Cadu Tenório sempre teve algo a dizer, contar, interpretar. É o seu ritmo.
“Waifu” (termo que os fãs de anime e mangá usam pra “esposa”) é uma obra que cai numa possível argumentação de que quantidade impacta na qualidade. É um exagero pensar assim, mas ouvir os três discos de 2020 coloca “Waifu” bem mais perto do campo da indiferença, dependendo do humor do ouvinte.
É inevitável dizer que as notas que chegam aos seus ouvidos são bonitas (o termo é esse, “bonitas”). Há um clima todo de calma, tranquilidade, relaxamento, de trilha sonora (semelhança que Tenório já trabalhou em muitas outras ocasiões e que “Fire Walk With You” e “Fire Keeper (Than Touch The Darkness Within Me)”, que acenam pra Angelo Badalamenti de “Twin Peaks”, deixam claro), que por certo cativa que está escutando.
A risada no meio (a quarta faixa) desconcerta o ouvinte e poderia ser um ponto de virada na obra, mas não é. O disco segue calmo, tranquilo e relaxante como dantes.
Tem ainda a participação de Juçara Marçal, em “Saliva”, a segunda música. Juntos, vale sempre lembrar, fizeram um dos maiores (em relevância e experiência sonora e artística) discos deste século, “Anganga” (clique aqui pra ouvir e aqui pra ler a resenha). Está longe de ser pouca coisa.
Então, ao ouvir “Waifu”, vá na deles, vá na sua, não vá na minha – embora as consequentes audições talvez levem ao esvaecimento.
O lançamento é da Brava, de 6 de novembro de 2020.
Como de praxe, o mesmo time. O trabalho foi criado, composto, interpretado, produzido, gravado e mixado por Cadu Tenório, com masterização do sempre presente Emygdio Costa, que participa também da faixa derradeira, talvez a mais bonita do disco, “The World Only Needs Beautiful Things (橘千晶)”, cuja sentença do título ninguém pode discordar.
Vale destacar ainda a arte de Daniel Semanas, linda.
01. 水滴
02. Saliva (com Juçara Marçal)
03. Seu Silêncio
04. Hahaha
05. Fire Walk With You
06. Fire Keeper (Than Touch The Darkness Within Me)
07. Babel/Infocalipse
08. No More
09. Holol1ve_he@v3n
10. The World Only Needs Beautiful Things (橘千晶) (com Emygdio)
[…] Floga-se / Disco novo – Fernando Augusto Lopes – Novembro, 2020 […]