CASSIUS A. – COISAS NO RIO (EP)

Cassius Augusto lançou o EP “Cemitério De Elefante” em 2017 e, infelizmente, passou desapercebido pelas antenas blogueiras deste país (ouça e leia aqui). Há tempo de resgatar o prumo com o novo EP “Coisas No Rio”, de 4 de abril de 2018.

“É um EP feito sobre o Rio, mas composto quase que inteiramente durante o período em que passei fora de lá”, escreveu o músico, numa rede social. “Foi composto e gravado (…) durante um momento da minha vida em que andei flutuando, geograficamente falando. Ainda não tinha vindo morar em São Paulo, tava com o apartamento sublocado lá no Rio, e sem saber nem onde nem quando isso ia parar. Depois de um par de anos eu voltei a tocar a minha própria música por aí, e isso me fez viajar, conhecer cidades que eu ainda não conhecia, pessoas que vieram a fazer parte da minha vida, e eu sentia que podia literalmente acabar ficando em qualquer lugar. E essa perambulação foi decisiva, na medida que cada música desse EP começou a ser composta em uma cidade diferente”.

Ouvindo o EP, é possível perceber que a saudade não é exatamente um fator determinante. Pelo contrário, Cassius parece cantar a liberdade de uma metrópole que encasula, que oprime e que engana pelas belezas e por uma pretensa receptividade. A desigualdade, o descaso, a ignorância certamente não são privilégios do Rio de Janeiro. No Brasil, essas são etiquetas que se colam a quase qualquer cidade, grande ou pequena.

“Quem que vai cobrir a oferta de mercado? / cobra ao corpo, coração / horizonte inflacionado / metro quadrado em ascensão”, ele canta na melhor faixa, a derradeira “Cidade Partida”. Os teclados flutuantes e o vocal que quebra as sílabas estão por todo o EP, por onde deita suas experiência de desgosto com o Rio, que nada mais é do que um símbolo, um baita símbolo de todo o país. O sax (de Lucas de Paiva) dá um certo ar retrô-brega proposital daquilo que é deixado pra trás e do que a gente ainda não carrega muito bem na memória.

É certo que com o tempo as coisas se apaziguam. “O tempo é senhor da razão” blablablá, entretanto não dá pra tirar de Cassius A. a razão de escolher enfrentar o passado olhando pra algumas possibilidades. Elas são muitas: destinos diversos e convidativos, que até podem decepcionar com o tempo, mas é preciso tentar.

“Coisas No Rio” são sobre momentos que ficaram lá e não sobre coisas de lá. É bem diferente e é bem pessoal e subjetivo. Nossa ligação umbilical com a terra é indestrutível. Seremos sempre de onde somos, não há luta que resolva essa questão. Um fato preciso e indelével. Às vezes, é preciso encarar o que essa raiz nos faz.

O disco foi gravado entre janeiro e agosto de 2017 no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, com produção de Rafael Bordalo (que também responde pela mixagem). Foi masterizado em São Paulo, por Dustan Gallas.

Além da citada participação de Lucas de Paiva no sax de “Cidade Perdida”, há ainda a guitarra de Eduardo Verdeja (que era do Dorgas, junto com Cassius), em “Coisas No Rio”.

1. Circo De Elite
2. Rolo Compressor
3. Coisas No Rio
4. Cidade Partida

A foto que abre o artigo é de autoria de Juliana Ellen, retirada da rede social do artista.

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