Começando do começo: o Dry Cleaning é composto pela vocalista Florence Shaw, o guitarrista Tom Dowse, o baixista Lewis Maynard e o baterista Nick Buxton. O quarteto foi formado no sul de Londres por volta de 2018. Já lançou dois EPs, ambos em 2019, pré-pandemia, com ambições de alcançar os festivais de verão no Hemisfério Norte em 2020, o que, claro, não aconteceu, não por demérito deles, mas porque os festivais simplesmente não aconteceram e nem vão acontecer em 2021.
O primeiro EP é “Sweet Princess” (ouça aqui). O segundo é “Boundary Road Snacks And Drinks (ouça aqui).
“A poesia pós-punk ácida e incisiva de Shaw atinge novos patamares, com total apoio das ondas ondulantes e ritmos urgentes de sua banda. Um dos destaques de 2021 chegou com força total”, empolga-se a Rough Trade, em uma defesa do disco.
Shaw, com seus vocais preguiçosamente falados (ela canta minimamente em “More Big Birds”), torna-se o centro das atenções, mesmo que a guitarra de Dowse lembre muitas vezes um The Cure nascente, um Gang Of Four seco, e até Velvet Underground (em “Every Day Carry”) abraçando a causa. “Enigmática”, esse o adjetivo que essa junção mais tem arrancado dos críticos e resenhistas: “ela não grita, ou mesmo realmente se emociona, mas apenas transmite as palavras como deveriam ser ouvidas, em meio a uma música tocada de forma excelente”.
O pós-punk do Dry Cleaning (o nome da banda também remete a um processo áspero) não recorre a nenhuma busca por originalidade. Sabe ser difícil na a horta do estilo escolhido conseguir algum fruto original, a não ser pecados, os mesmos pecados deliciosos de Wire, Joy Division, The Fall e afins.
“New Long Leg”, o primeiro disco, lançado em 2 de abril de 2021, pelas mãos da sempre atenta 4AD (o que não é pouca coisa), tem dez canções que atiçam o ouvinte a revolver suas referências, um exercício prazeroso.
Embora seja preciso apenas a sonoridade pra se apegar à Dry Cleaning, está nas letras o melhor achado da banda: “as letras seguem a mesma premissa básica, embora as palavras fiquem mais espinhosas e os conceitos mais indecifráveis com o passar do disco. Felizmente, a banda encontrou um ouvido profissional e simpático no produtor John Parish, que não é estranho às vocalistas incomuns devido ao seu extenso trabalho com a igualmente nervosa PJ Harvey (e Aldous Harding). Ele deixa espaço entre as recitações secas de Shaw e as ondulações latejantes da banda, permitindo que essas peças – é um exagero chamá-las de canções – espaço pra respirar e desenrolar em seu próprio ritmo deliberado”.
As letras sem sentido são pra dar um nó na cabeça do ouvinte que tenta decifrá-las e é ótimo ser assim tanto quanto ser “conceitual”. Tem até uma citação ao Rio de Janeiro, na faixa de abertura “Scratchcard Lanyard”, o melhor tapete de boas-vindas que o disco poderia ter.
É duro o artista ouvir (ou ler) o conselho “não se importe tanto com as letras” (embora seja divertido desvendá-las), mas nesse caso, o ouvinte já vai ter vencido de qualquer maneira. “New Long Leg” é um dos discos mais legais e despretensiosos que você poderá ouvir hoje.
Além da produção de Parish, o disco teve engenharia de Joe Jones, master de Jason Mitchell e foi gravado no Rockfield Studios, Monmouthshire, País de Gales.
01. Scratchcard Lanyard
02. Unsmart Lady
03. Strong Feelings
04. Leafy
05. Her Hippo
06. New Long Leg
07. John Wick
08. More Big Birds
09. A.L.C
10. Every Day Carry