GIALLOS – BLAXXXPLOITATION EP

Tempos de injustiça, intolerância e reclusão. Assim o Giallos vê o novo século, principalmente no Brasil, nesse EP, “Blaxxxploitation”.

O movimento (não coordenado) cinematográfico dos anos 1970 inspiram a banda a explorar tais temas – afinal, as minorias são as mais afetadas pela injustiça e intolerância.

As letras, então, expõem de forma febril, direta e virulenta o que muita gente tenta esconder nos tempos binários atuais: “Os pretos morrem, os brancos assistem / Os brancos morrem, os pretos enterram / Os brancos morrem, os pretos matam / Os pretos morrem, os brancos atuam”, na faixa-título; e o petardo “Máquinas de lavar ligadas no volume máximo / Dentro todas as frustrações do mundo moderno / As coisas não são mais como antes / Lavamos a roupa suja da alma na rua / Virtual / Mas por que nos importamos?! (…) Na sua casa ninguém vê você com medo / Com frio, com fome / Foda-se!”, em “Máquinas De Lavar”.

“Acho que é o nosso zeitgeist, saca? Esses assuntos que ficaram mais evidentes por causa da Internet. O Brasil sempre foi racista pra caralho, conservador e essa porra toda, mas (se não fosse a Internet), esses dados (que comprovam isso) dificilmente chegariam, seriam mascarados”, diz o vocalista Cláudio Cox ao Flogas-se.

As pessoas cometem injustiças seja por atuação ou seja por simples omissão e o Giallos não canta, mas grita sua indignação a plenos pulmões – e utilizando o já conhecido megafone ouvido no trabalho anterior, o excepcional “Amor Só De Mãe” (conheça aqui). Em “Blaxxxploitation”, o recurso é usado a todo instante, nas três faixas. Cox diz que “esse vocal é meio que uma marca que tentamos imprimir desde o primeiro play, numa ideia de funcionar como instrumento”, mas pra além disso, o megafone tem o simbolismo de levar a mensagem pra mais longe e atingir mais pessoas. É como num protesto de rua, num palanque: você precisa atingir os ouvidos da massa.

A arte também tem esse poder e o Giallos segue imprimindo seu ritmo contestador. Em “Blaxxxploitation”, a banda resgatou três faixas de um período anterior a “Amor Só De Mãe”, se enfurnou um dia inteiro de novembro de 2016 no Estúdio C4, em São Paulo, e deu vida ao seu manifesto. Pra reforçar o caráter, o EP tem as três músicas duplicadas, numa versão só com vocal, sem instrumentos – é o trio em seu palanque.

“Essas músicas eram de um projeto meu, um lance com beats e samples“, conta Cláudio. “Por conta dessa onda, resolvemos soltar os vocais pra rapaziada remixar, remontar, distorcer tudo (risos). Nossa música vem sofrendo essas mutações, novas possibilidades”.

A sonoridade do EP tem uma certa ligação com “A Invasão Do Sagaz Homem Fumaça”, disco que o Planet Hemp lançou em 2000: as guitarras rápidas e balanceadas, o vocal (o timbre de Cox chega a remeter ao de D2) e a urgência e o peso – ouça especialmente “Máquinas De Lavar”.

Não foi, porém, algo pensado pela banda. Essa referência percebida causou até certo espanto em Cox, que pondera: “eu gosto muito de Planet Hemp, acho uma das últimas grandes bandas do mainstream que valem a pena… A gente bebe em muita fonte que eles bebem, né?”. Acima de tudo, é um disco tão Giallos quanto qualquer outro lançamento anterior.

“Acho que (“Blaxxxploitation”) é, infelizmente, mais um recorte desse nosso tempo, como era o ‘Amor Só De Mãe’, saca? Músicas pra gritar, socar o ar, expressar toda essa nossa ‘raiva’ de alguma forma… Bom mesmo era partir pra porrada literalmente!”, conclui, quase como um irrecusável convite.

O EP foi todo gravado ao vivo. A produção é da banda, e a mixagem e masterização ficaram com a assinatura de Luis Lopes. A capa é do baterista Flávio Lazzarin. O disco foi lançado dia 12 de abril de 2017, de maneira independente.

1. Blaxxxploitation
2. Máquina De Lavar
3. Particular
4. Blaxxxploitation (vocal)
5. Máquina De Lavar (vocal)
6. Particular (vocal)

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