“Nostalgia é um sentimento humano, relacionado com a saudade, porém há diferença entre eles, embora sejam comumente confundidos. Podemos dizer que a saudade é direcionada a um alvo ou momento específico e até pode ser superada pela presença ou repetição, já a nostalgia não pode ser superada no campo físico pois diz respeito somente a uma visão idealizada de passado que cada um possui. Nostalgia é um termo que descreve uma sensação de saudade idealizada, e às vezes irreal, por momentos vividos no passado associados a um desejo sentimental de regresso, impulsionado por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais. A palavra vem do grego nóstos (‘reencontro’) e álgos (‘dor, sofrimento’). A nostalgia já foi considerada uma condição médica no início da era moderna por ser associada à melancolia, além de ser importante na literatura como um frequente tropo no romantismo”.
A precisa descrição desse sentimento é deste site. É possível, porém, que você tenha uma visão diferente e bem pessoal do que seja nostalgia. É possível que você insira nostalgia num daqueles prazeres não identificados e empolgantes. Porque nostalgia é tudo que reencontramos no caminho que nos separa da dor. É uma ideia quase palpável de que em algum momento, ou vários momentos, a vida foi boa conosco e ter essa ideia não é algo que se despreze.
Gustavo Jobim apresenta seu “Nostalgia TV” com um olhar pros anos 1980, mas não especificamente aqui, porque sua música segue determinado padrão. Nesse trabalho, que sucede “Meio-Dia”, de 2017 (ouça aqui), ele absorve em sons e texturas a celebração de momentos que lhe trazem aquela época – e, veja, é possível ser nostálgico com épocas não vividas, inclusive.
Seus sons metálicos, aqui, estão mais serenos e menos abruptos. Eles se coligam, talvez porque a nostalgia também seja isso: a coligação com outro tempo, uma “saudade idealizada” dentro de um “presente inescapável”. “1984”, que nos dias obscuros atuais, nunca fez tanto sentido, se insere como uma grande tema de fundo pra reflexão. É densa e é melancólica. É como se as notas ficassem suspensas em observação constante.
O tema da comunicação e do fascismo são diretos. A televisão como meio de propagação de ideias cristalizadas e sem contradita. Por muito tempo foi assim. Hoje, ultrapassada pelos meios portáteis, pode-se dizer que éramos felizes com a televisão e não sabíamos. Os problemas de manipulação da mensagem continuam indissolúveis, mas naquele instante, o Brasil saía de uma ditadura e adentrava o seu mais longo e sustentado período democrático. Teríamos agora fechado um ciclo?
Gustavo Jobim não dá a resposta, nem apresenta otimismo ou pessimismo nessa seara. É possível até compreender que ele entende as duas épocas como fruto do mesmo fracasso (que ano é esse, afinal?). Sua música, entretanto, pode dar pistas: o artista tem saudade de um tempo em que as coisas não eram fáceis, mas também não vislumbravam o horror. O futuro era mais doce.
“Nostalgia TV” é uma obra inteiramente pensada, executada, produzida e gravada por Gustavo Jobim. O lançamento é independente, do dia 19 de outubro de 2018.
1. The Blackstar Rises
2. 1984
3. Nostalgia TV
4. Ritual